Reconhecer defeitos próprios é saída para crise

Fonte: Reflexão de Boa Vontade extraída da entrevista concedida por Paiva Netto à jornalista portuguesa Ana Serra, em setembro de 2008. | Atualizada em setembro de 2023.
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La Fontaine

Quando almejamos o apuramento das coisas, é imprescindível que localizemos o que está errado, a começar no nosso íntimo, porquanto, se não reconhecermos os nossos defeitos, como nos poderemos corrigir? Temos basicamente de deixar de enganar-nos a nós próprios, sob o risco de encenarmos, como protagonistas, este desabafo de La Fontaine (1621-1695): “A vergonha de confessar o primeiro erro leva-nos a muitos outros”.

Ora, isso se aplica a todos e a tudo para a melhor convivência global.

Tomemos como exemplo a atual crise. O capitalismo é uma sucessão delas. O que está a exigir, agora mais do que nunca, além das medidas técnicas corretivas, uma reforma que tenha como bandeira a dignidade, o respeito à criatura humana. Do contrário, a próxima explosão da bolha será muito pior que a da primeira década do século 21.

Erigir uma comunidade mundial mais responsável

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Gandhi

Retificar esse costume doentio seria, digamos para argumentar, um categórico primeiro passo para erigir-se, no decurso do terceiro milênio, uma nova comunidade mundial mais responsável, portanto, com menos repentinas crises, incluídas as financeiras e econômicas — embora possível e ciclicamente armadas e previstas, pelo menos por aqueles que vivem a tirar ganancioso proveito do que a multidão nem imaginava acontecer. Junte-se a isso as proclamadas omissões e displicências de certos governos no mundo a fomentar sequelas como a grave questão do desemprego; a falta de uma melhor regularização e fundamentos econômicos sólidos; as estimativas equivocadas da situação econômica; e as inefáveis cobiça e arrogância, que têm sido o túmulo de tanta coisa apreciável que nem ao menos teve tempo de nascer, para orfandade das massas. Como vaticinava o Gandhi (1869-1948), “chegará o dia em que aqueles que estão na corrida louca de multiplicar os seus bens na vã tentativa de engrandecimento (extensão de territórios, acúmulo de armas, de riquezas, de poderes...) reavaliarão os seus atos e dirão: Que fizemos nós?”

Por isso tudo, prefiro primeiramente confiar em Jesus, que o Mahatma, indiano, mas acima de tudo universalista, tanto respeitava, assim como o fazem os Irmãos islâmicos. O Cordeiro de Deus não trai nem entra em crise. Para nossa segurança, Ele havia-nos confortado, ao revelar:

“Eu sou o Pão da Vida; quem vem a mim de forma alguma terá fome; e quem crê em mim jamais terá sede! (...) Eu sou o Pão Vivo que desceu do Céu. Se alguém dele comer, viverá eternamente” (Evangelho, segundo João, 6:35 e 51).

Tela: James Tissot (1836-1902)

Detalhe da obra: Jesus senta-se à beira-mar e prega.

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Alziro Zarur   

Ora, tudo neste planeta pode ficar além do controle dos homens, mas nada escapa ao comando de Deus. Todavia, quando os seres humanos verdadeiramente se reúnem com o fito de achar-se uma solução, mesmo que para os mais espinhosos problemas, ela surge. Mas é “preciso que haja Boa Vontade”, consoante propunha o saudoso fundador da LBV, Alziro Zarur (1914-1979), desde que não seja confundida com boa intenção, com a qual está calçado o inferno, como diz o povo.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.