Ecce Deus!
Quando comemorávamos os dois milênios de Cristianismo, propus algumas questões à análise de todos, incentivando na Juventude Ecumênica da Boa Vontade a execução de um Fórum denominado Ecce Deus! (Eis Deus!, Aqui está Deus).
O Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV — em que já estão sendo desenvolvidos os temas Ciência e Fé na trilha do equilíbrio e Discutindo a Morte e a Vida após Ela —, que vem ocorrendo desde então, faz parte do Ecce Deus!
A despeito de já virmos levantando pequenas discussões acerca do assunto, a partir de 2005, Ecce Deus! também consta da programação dos debates que desenvolveremos em Buenos Aires, Argentina, no mês de agosto, e na ONU, em Nova York, em outubro, além de outros acontecimentos que se darão paralelamente no Brasil, em Portugal e em diversos locais do mundo, com datas a serem agendadas.
Portanto, pela matéria em pauta, creio ser oportuno trazer aos caros leitoras e leitores da revista BOA VONTADE trechos de palestras que apresentei, no Rio Grande do Sul principalmente, e que foram transmitidas pela Super Rede Boa Vontade de Rádio; pela internet (www.boavontade.com) e comentadas na Boa Vontade TV (Oi TV — Canal 212 — e Net Brasil/Claro TV — Canais 196 e 696), no término do segundo milênio e nestes tempos iniciais do terceiro. Naquela ocasião, estávamos nos preparando para o Congresso “Viva Jesus!”, promovido pela Legião da Boa Vontade (LBV), em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 23 de dezembro de 2000, que superlotou o famoso ginásio do Mineirinho.
Ecce Deus! sugere uma imparcial e profunda reflexão sobre a natureza do Criador. Como ressaltei numa dessas preleções aos moços, não será um evento “quadradinho”. Deverão ser convidados igualmente os que não acreditam em Deus, pois somos todos Irmãos planetários. Ninguém é dono da Verdade nem ditador do saber, pois neste mundo só existe perspectiva de conhecimento. Todos, portanto, terão o direito, incluída a plateia, de manifestar-se de forma eloquente, porém civilizada, é claro!, a exemplo do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV*1.
Vamos, pois, a alguns pontos de minhas conversas com aqueles que me honram com sua paciência. Cumpre esclarecer que não se trata de produção literária científico-religiosa, porém de um bate-papo com os presentes e que foi transmitido, ao vivo, para a nossa fiel audiência.
(...) Friedrich Nietzsche (1844-1900), filósofo e discutido autor de Ecce Homo! (Eis o Homem!*2), Assim falava Zaratustra, entre outros trabalhos até hoje instigantes, concluiu que Deus havia morrido... Muita gente ficou indignada com sua afirmativa. Porém, sabendo ou não, o velho Frederico valentemente combatia o deus antropomórfico, criado à imagem e semelhança do homem aturdido: o deus que persegue, se vinga e mata, o deus sem senso algum. Esse, Nietzsche tem toda a razão, está morto. Aliás, nunca existiu. Por isso, é chegada a hora de universalmente — porquanto, com atitude antifanática e/ou antipreconceituosa — aprimorarmos o nosso conhecimento sobre Deus, qualquer que seja a Sua verdadeira Essência.
Planck — começo e termo do raciocínio
“Ambas, a Religião e a Ciência da Natureza, envolvem, em seu exercício, a afirmação de Deus. Apenas ocorre que, na Religião, Deus está no começo. E, para as ciências da Natureza, Deus está no termo do raciocínio. Para a Religião, Deus é o fundamento. Para as ciências, Ele é a coroa que remata o edifício das concepções científicas” Max Planck (1858-1947)*3.
Para os que preferem pesquisá-Lo por efeito de análise racional, certamente o farão de forma aliada ao indispensável antidogmatismo científico e, ipso facto, libertos das restrições à convenção de leis consideradas cláusula pétrea no campo luminoso da Ciência, o que não se pode conceber numa região do intelecto em que a curiosidade sadia, pois isenta, é mola mestra de suas magníficas realizações. Para os que já creem Nele, de todo o sempre, o Deus Divino permanece. Está vivo, é como o moto-contínuo a transmutar energia e trabalho na intimidade humana. É eterno, mais do que uma individualidade, mais do que uma equação divinal*4... É um Poder de Amor, do sentimento que move os mundos, na exclamação de Dante Alighieri (1265-1321), na Divina Comédia.
Esses são alguns dos pontos a serem intensificados na mesa de discussões nos próximos fóruns no Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica, o ParlaMundi da LBV, e em diversos outros locais. Antes, virá Discutindo a Morte e a Vida após Ela*5.
O Saber exige humildade
Na Primeira Sessão Plenária do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, o conceituado físico francês Patrick Drouot*6 esclareceu: “Se quisermos entender pela Ciência os fenômenos ligados ao Espírito, temos de mudar o paradigma, a forma de vê-los. Se você tem certeza sobre si mesmo, sobre as coisas, então não há espaço para Deus tocá-lo. Se você entra num grau de incerteza, que é a base da Física Quântica, aí sim, Deus pode tocá-lo. Quem quer penetrar no mundo quântico tem de abandonar toda a lógica, toda a vontade de ter domínio sobre a vida”.
Certamente, o dr. Drouot quis observar que, na qualidade de seres humanos, limitados ainda a um plano de três dimensões, temos por dever sustentar aberta a nossa inteligência às coisas novas. É inconcebível um cientista dogmático. A Ciência é uma conquista diária.
Simpáticos marqueteiros da Divindade
Convidaremos as maiores cabeças entre os que acreditam em Deus, os que se colocam em posições neutrais e os que se contrapõem frontalmente à Sua existência. Estes, aliás, acabam transformando-se, mesmo sem o saber, em diligentes propagadores da possibilidade do existir de uma Consciência Enesimamente Superior a qualquer que exista na Terra, pois vivem a discuti-La. Tornam-se, por conseguinte, seus simpáticos marqueteiros (...).
Posições trocadas
“Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal” Rui Barbosa (1849-1923).
(É palmar que, no tocante ao assunto em pauta, não se trata de contenda na qual entre o abjeto ódio, mas apenas de pontos de vista diferentes. Que fiquem no mais longínquo passado os tempos das indecorosas guerras religiosas.)
O Conselho do Profeta
No Corão Sagrado diz o Profeta Muhammad (570-632) — “Que a Paz e as Bênçãos de Deus estejam sobre ele!”: “Cada qual tem uma meta que o guia. Sejam quais forem vossas metas, emulai-vos nas boas ações. Onde quer que estejais, Deus vos reunirá. Deus tem poder sobre tudo. (...) A Deus pertencem o Levante e o Poente. Para onde vos tornardes, lá encontrareis o semblante de Deus. Deus é imenso e sabedor”.
A mais eficiente Política
“Devemos amar uns e outros: aqueles cujas opiniões partilhamos, assim como aqueles de cujas opiniões discordamos” Santo Tomás de Aquino (1225-1274).
O que Santo Tomás está propondo chama-se civilização, democracia, ecumenismo, consequentemente respeito entre as criaturas, apesar de ocasionais divergências de opinião. Trata-se de matéria atualíssima, tendo em vista os vastos perigos que ameaçam os povos.
Dito isso, no debate que se instala na rejeição ou na defesa da ideia do Criador, os Seus negadores “provocam” o ser humano religioso perseverante, mas acomodado à visão prosaica, mesmo de assuntos sublimes. E, assim, o leva, pretendendo ou não, a caminhar para o juízo de que Deus é muito mais do que se pensa, até alcançar que a Grande Missão de Jesus e de tantos extraordinários pregoeiros foi proclamar que o Mistério de Deus revelado é simplesmente o Amor*7, de que toda a humanidade carece, sabendo ou não, querendo ou não querendo. Amar de verdade é a mais eficiente Política.
Irmanação
"(...) Não há oposição entre a Ciência e a Religião. Apenas há cientistas atrasados, que professam ideias que datam de 1880. Existem, todavia, várias maneiras de se apresentar Deus. Alguns O representam como o Deus mecânico, que intervém no mundo para modificar as Leis da Natureza e o curso dos acontecimentos. Querem pô-Lo a seu serviço, por meio de fórmulas mágicas. É o Deus de certos primitivos, antigos ou modernos. Outros O representam como o Deus jurídico, legislador e agente policial da moralidade, que impõe o medo e estabelece castigos. Outros, enfim, como o Deus interior, que dirige por dentro todas as coisas e que se revela aos homens no mais íntimo da consciência" Albert Einstein (1879-1955)*8.
A Ciência e a visão completa do homem
Ora, às palavras do célebre propositor da Teoria da Relatividade (Especial — 1905 e Geral — 1916) e elaborador da “Teoria do Campo Unificado”, que não chegou a concluir, juntamos o testemunho do astronauta norte-americano Edgar Mitchell (1930-2016), ex-tripulante da Apollo 14, que se tornou o sexto homem a pisar a Lua, pronunciado no I Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, em 2000, sugerindo às mentes perquiridoras o abraçar de novas perspectivas diante das questões transcendentais:
“Quando retornei da Lua, observando esse Cosmos magnífico, comecei a compreender a sua extensão, a enormidade dessas distâncias siderais, as grandes energias e a matéria envolvida. Ainda assim, havia em mim um sentimento acerca de algo que os místicos vêm falando o tempo todo, ou seja: há uma interconexão no Universo. Agora que entendemos o Cosmos de uma forma mais ampla, precisamos de novas respostas para essas perguntas: quem somos, como chegamos aqui e para onde estamos indo? Temos de respondê-las, do ponto de vista de um ser humano completo, e não de forma mecânica, como fazemos na Ciência”.
O deus antropomórfico é uma tragédia
Certo dia, conversava com o jornalista Francisco de Assis Periotto a respeito da existência do Supremo Arquiteto do Universo, como se referem à Consciência Supina os Irmãos maçons, e sobre aqueles que são contrários a Ela, talvez por confundi-Lo, como dizia o saudoso fundador da LBV, Alziro Zarur (1914-1979), com as crenças em litígio. Em determinado momento, interroguei:
Francisco, sabes de uma coisa? Conforme concluiu o velho abade em O ‘Melro’*9, do tripeiro polêmico*10 Guerra Junqueiro (1850-1923), o Deus (Divino) é bem maior do que nós, os seres humanos, podemos conceber:
“(...) Só hoje sei que em toda a criatura,
Desde a mais bela até à mais impura,
Ou numa pomba ou numa fera brava, Deus habita, Deus sonha, Deus murmura!...(...)
“Ah, Deus é bem maior do que eu julgava...”
No entanto, o deus antropomorfo, chacinador, se expressa, entre outras formas, na de Baal, com seu bojo ardente, ou na do deus faminto, que exigia o coração vivo de jovens que o tinham do peito arrancado embora palpitante. Em que é inferior a qualquer gente cruel? Esse deus humano, que combatemos por ser um engodo, portanto tragédia para a sociedade, é desmascarado aqui*¹¹, com exatidão e ironia sã, pelo sempre lembrado Alziro Zarur, no seu
Poema do deus humano
“Se daquele Deus-Homem, bom Junqueiro,/ O Gênesis foi fácil coordenar,/ Inda é muito mais fácil completar/ O Gênesis com o Finis justiceiro: No espaço não havia coisa alguma:/ Só o nirvana do vácuo imensurável./ Era a felicidade, a que hoje, em suma,/ Preocupa a Humanidade incontentável./ Mas, de súbito, inexplicavelmente,/ No imensurável vácuo silencioso,/ Apareceu alguém com ar de gente,/ Um gigante de fácies tenebroso./ Olhou, ameaçador, o caos profundo,/ E pôs-se a bambolear o corpo lasso:/ Aqui começa a história deste mundo/ E a dos outros que rolam pelo espaço. Concentrando-se o ilustre cidadão,/ Que se chamava Iavé, segundo a História/ (Que é mesmo história, como o nome diz),/ Não chegou a nenhuma conclusão/ A respeito da origem probatória/ Da sua aparição louca e infeliz./ Como nascera e para que surgira?/ Não havia na espessa escuridão/ Nem aviões nem raças de cegonha./ De maneira que o pobre velho gira,/ Perplexo, atarantado, trapalhão,/ Adquiriu sobrenome: Iavé Pamonha. Sem assunto, isolado nas alturas,/ Obumbrado em terríveis conjecturas,/ Sem ter mais que fazer, de uma arrancada/ Fez o mundo, um macaco e uma macaca/ (Obra vil que não vale uma pataca)/ E esperou que brotasse a macacada./ Esta surgiu como estupenda ameaça,/ Formando o que chamamos, hoje, massa.
“Começa, então, a vida. Os artifícios/ Ornavam as macacas, e os macacos/ De plácidos passaram a velhacos,/ Introduzindo novos sacrifícios./ O velho Iavé ficou como um Vesúvio:/ Para acabar com tal patifaria,/ Não teve pena da macacaria,/ E sepultou-a toda num dilúvio.
“Mas eis que do dilúvio se escapole/ Noé, cuja família se salvou;/ E o imaculado Noé se maculou,/ Dando péssimo exemplo à imensa prole./ Ficou, portanto, mais acanalhada/ A espécie humana, pródiga de taras,/ Sutilíssimas, ótimas e raras,/ Conforme o paladar da súcia airada.
“Fiado em Moisés, Iavé lhe deu as duas/ Tábuas dos dez divinos mandamentos./ Esse espalhou-os pelos quatro ventos,/ Pregando pelas casas, pelas ruas./ Mas todos viram nisso o mal de goro,/ E ficavam (enquanto o bom Moisés/ Quebrava as tábuas e as calcava aos pés)/ Dançando em volta do bezerro de ouro. Como último recurso, o fulo Zeus/ Mandou à terra o manso e meigo Cristo/ (Que, afinal, nada teve com tudo isto)/ E esperou a atitude dos sandeus./ O fim pouco tardou: a Humanidade,/ Já farta de sermões e mandamentos,/ Crucificou Jesus sem piedade,/ Glorificando seus instintos cruentos./ Não tendo mais recurso, Iavé Pamonha/ Nas suas obras vãs se concentrou,/ Viu, pensou, concluiu, criou vergonha:/ Arrependido, enfim, se suicidou.”
... deus humano e ataque de nervos
É evidente que no Congresso “Viva Jesus!”*12 não louvaremos esse deus, sempre atônito, cuja falência foi apregoada, em pleno século 19, por Léon Denis (1846-1927)*13, no seu livro Aprè la mort (Após a morte): “Fala-se ainda muito de um deus a quem são atribuídas as fraquezas e as paixões humanas, porém esse deus vê todos os dias diminuir o seu império”.
Imaginemos que esse “fulo Zeus” sofresse um ataque de nervos... O Universo estaria em maus lençóis... A questão é que parte das gentes parece ter-se acostumado de tal forma a enganar-se a si própria que até hoje se comporta como se o deus criado à sua imagem e semelhança devesse prosseguir em largo mandato... E, como assim raciocina, age segundo os atabalhoados “ensinamentos” dele. Dá-se mal, então... O curioso é que, quando as coisas não terminam como o esperado, voltam-se contra o Deus Divino, que nada tem a ver com a entidade caricata produzida à maneira do bípede pensante... Nem sempre bem pensante, por sinal... Aquele que enaltecemos é exaltado por Zarur na página 286 do Livro de Deus*14:
Poema do Deus Divino
“O Deus que é a Perfeição, e que ora eu tento/ Cantar em versos de sinceridade,/ Eu nunca O vi, como em nenhum momento/ Vi eu o vento ou a eletricidade.
“Mas esse Deus, que é o meu eterno alento,/ Deus de Amor, de Justiça e de Bondade,/ Eu, que O não vejo, eu O sinto de verdade,/ Como à eletricidade, como ao vento. E O sinto na ânsia purificadora,/ Na manifestação renovadora/ Do Belo, da Pureza, da Afeição.
“Com Ele falo em preces inefáveis,/ Envolto em vibrações inenarráveis,/ Que me trazem clarões da Perfeição. (...)
“Bondade — que os pecados não consomem —/ Do Espírito Divino aos filhos Seus:/ Deus sempre desce até seu filho, o homem,/ Quando o homem sobe até seu Pai, que é Deus!
“Pois creio é nesse Deus imarcescível/ Que ampara a humanidade imperfeitíssima:/ Deus de uma Perfeição inacessível/ À humana indagação falibilíssima”.
Usar corretamente o seu livre-arbítrio
Alguém pode arguir: “Mas o que Zarur quis dizer com esses versos? Deus então só vem a nós se formos a Ele?”
Chegou, agora, a minha vez de contra-argumentar: e o livre-arbítrio, meu Irmão?! Você se esqueceu dele, minha Irmã? Faz-se tanta questão de ter a sua posse... O que, aliás, é bom. Do contrário, Deus não o teria estatuído como desafio ao nosso desenvolvimento humano-espiritual. Emmanuel ensina, na psicografia de Francisco Cândido Xavier (1910-2002): “Deus é o Pai justo e magnânimo. Um pai que não distribui padecimentos. Dá corrigendas, e toda corrigenda aperfeiçoa”.
Alziro Zarur debruçava-se, estudioso, sobre as lições do Cristo, incluída esta, impressa no Evangelho de Jesus, segundo Lucas, 17:21: “O Reino de Deus está dentro de vós”, o que significa dizer que a verdadeira felicidade*15 também.
Incentivo aos corações
Contudo, o intuito maior do genial vate brasileiro, ao versejar em torno da relação Criador–criatura, foi levar aos corações um incentivo para o progresso individual, realçando a necessidade que temos de crescer interiormente, de evoluir na escala universal, conquistando vitórias espirituais*16 (consequentemente materiais, sendo estas um dos efeitos da Prece*17) mediante o nosso próprio mérito. Quando você ora, alcança benefícios de Deus que nem imagina. Por isso, é essencial que o livre-arbítrio seja bem empregado. É preciso que, pelo seu bom desempenho, você amadureça, suba, cresça para merecer que Deus baixe até onde estiver. Senão, poderemos cair naquele estado de coisas em que tudo é tão fácil que ninguém dá valor, pois logo se desinteressa. Além do mais, o que o poema ensina é que se deve usar, da melhor forma possível, moral e eticamente, as suas próprias escolhas, porque quem vai pagar a conta cármica é quem faz uso delas.
“O conhecimento da Verdade destrói todo o mal, como um sol que brilha num céu sem nuvens. O verdadeiro iluminado permanece firme, apartando os véus da ilusão” Buda (560-480 a.C.)*18.
Ecumenismo da Alma e do Coração
Com certeza, o Congresso “Viva Jesus!” suscitará resultados espirituais extraordinários, como em 1985, quando, em Belo Horizonte/MG, lancei o desafio às Mulheres Legionárias da Boa Vontade, e elas não falharam: o Templo da Boa Vontade está erguido, o Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica — o ParlaMundi da LBV — também. E, muito mais que no plano da matéria, eles estão sustentando uma doutrina ecumênica, não do Ecumenismo restritamente religioso ou limitado aos cristãos.
Zarur, ao abrir a Legião da Boa Vontade, lançou a Cruzada de Religiões Irmanadas, antecipando-se ao hoje denominado inter-relacionamento religioso, oferecendo esse triunfo ao nosso povo. Não foi sem motivo que o filósofo e sociólogo italiano Pietro Ubaldi (1886-1972) declarou: “A Legião da Boa Vontade, LBV, é um movimento novo na História da humanidade. Colocará o Brasil na vanguarda do mundo”.
Ainda quanto ao Ecumenismo que pregamos, trata-se também do relativo às criaturas e aos corações daqueles que, sabendo exprimir o seu ponto de vista, o qual defendem com intensidade, admitem ser inafastável a premência de se manterem os sentimentos solidários, fraternos, compassivos, conforme explanamos na revista Sociedade Solidária (2000), que, em vários idiomas, está correndo o planeta. Do contrário, quem restará para contar a História?
Sublimar o espírito religioso
A Paz desarmada jamais resultará apenas dos acordos políticos, todavia, igualmente, de uma profunda sublimação do espírito religioso.
“Quando pratico o Bem, sinto-me bem; quando pratico o mal, sinto-me mal. Eis a minha religião” Abraão Lincoln*19 (1809-1865).
Ora, ninguém poderá chamar o velho Abe de incréu.
Não acompanhar qualquer rebanho religioso não significa desacreditar numa Inteligência Justa e Suprema. A herança deixada pela Era da Razão, do Iluminismo, aliada à Fé Realizante que desenvolvemos na nossa labuta diária, permite-nos melhor compreender um Deus cuja Face é Amor, por sinal muito bem expresso nas palavras de Lincoln. Portanto, eis uma das motivações do Fórum Ecce Deus! que estamos lançando ao debate dos seres de Boa Vontade e de bom senso, crentes ou descrentes.
(Continua)
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*1 Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV — O primeiro ocorreu de 18 a 21 de outubro de 2000, no Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica, em Brasília, numa série de festividades promovidas pela LBV sob o nome de “Bem-vindo, Ano 2000!”
*2 Ecce Homo! — Saiu, pois, Jesus, levando a coroa de espinhos e a veste de púrpura. E disse Pilatos aos que exigiam a morte Dele: Eis aqui o homem (Em latim: Ecce Homo!). Evangelho de Jesus, segundo João, 19:5.
*3 Max Planck — Foi Prêmio Nobel de Física em 1919. Alemão, enunciou a hipótese de acordo com a qual as trocas de energia se dão de modo descontínuo, em “pacotes” indivisíveis, com o que fundou a Teoria Quântica. Esta tese mostraria seus primeiros resultados concretos anos depois, permitindo a Einstein explicar o fenômeno fotoelétrico. A resistência ao nazismo custou-lhe o afastamento da Presidência da Sociedade Científica que hoje leva o seu nome e, em 1944, a perda de seu filho, Erwin, executado após sofrer acusação de ter participado de um plano contra a vida de Adolf Hitler (1889-1945).
*4 Deus, equação divinal — Ver “Deus, Equação e Amor”, página constante do livro Crônicas e Entrevistas (2000), de Paiva Netto, publicado pela Editora Elevação.
*5 Discutindo a Morte e a Vida após Ela — Uma das proposições já inicialmente debatidas no Fórum Mundial Permanente Espírito e Ciência, com destaque na sessão realizada de 23 a 25 de outubro de 2003, no ParlaMundi da LBV, quando Paiva Netto pessoalmente abriu o acontecimento.
*6 Patrick Drouot — Físico francês, um dos escritores de maior sucesso e credibilidade. Sua palavra, citada neste artigo, foi proferida durante a conferência que teve lugar no I Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV. O Doutor Patrick Drouot enviou esta correspondência ao líder das Instituições da Boa Vontade: “Excelentíssimo Senhor Presidente Paiva Netto, é com imenso prazer que gostaria de lhe expressar meus agradecimentos por seu convite para minha participação no I Fórum Mundial Espírito e Ciência, que me permitiu apresentar, por duas vezes, diante de sua audiência, meus trabalhos e pesquisas, principalmente no domínio dos fenômenos espirituais e da Fé sob a ótica da Física Quântica e da emergência da consciência da Paz no século 20. Fiquei bastante impressionado com a qualidade da sua Organização, pela distinção e a capacidade de reunir muita gente. (...) Estou persuadido de que iniciativas tais como o seu Fórum são, além de necessárias, indispensáveis para permitir o estabelecimento de uma ligação entre a Espiritualidade, as tradições e a Ciência, de maneira a permitir o advento da Paz no mundo. Gostaria de agradecer sua delicada atenção com relação ao folheto da LBV em língua francesa, que recebi na ocasião, e de expressar, Excelentíssimo Senhor Presidente, os meus votos mais respeitosos”.
*7 O Mistério de Deus Revelado — Esse pensamento de Paiva Netto é o último verso de sua música intitulada O Novo Mandamento de Jesus, movimento final do Oratório “O Mistério de Deus Revelado”, cuja gravação foi feita, em 1999, pelo National Philharmonic Choir “Svetoslav Obretenov” e pela Sofia Symphony Orchestra, da Bulgária, sob a regência do maestro Ricardo Averbach. O Oratório superou a marca de 550 mil cópias vendidas, conquistando Disco de Platina Duplo. Em 5 de abril de 2000, teve a sua primeira audição mundial em inglês quando o Coral Ecumênico Boa Vontade se apresentou na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, EUA.
*8 Albert Einstein — Físico judeu alemão naturalizado norte-americano, Prêmio Nobel de Física, enunciador da Teoria da Relatividade (E = mc²), que, no dia 7 de fevereiro de 2005, completou o seu centenário. Os estudos dele contribuíram para que os norte-americanos se antecipassem na criação da bomba atômica.
*9 “O Melro” — Uma citação desse poema de Guerra Junqueiro pode ser lida no artigo “Deus, Equação e Amor”, publicada na página 183 de Crônicas e Entrevistas (2000), de Paiva Netto.
*10 (...) tripeiro polêmico — A origem do nome tripeiro remonta ao ano de 1414, quando D. João I resolve preparar uma expedição a Ceuta, norte da África. Incumbe para esse feito, o infante D. Henrique, de apenas 20 anos. Este se dirige ao Porto, Portugal, sua cidade natalícia, para organizar a frota. A população local se mobiliza para a empreitada oferecendo toda a carne que tinha para a armada, reservando para si somente as tripas. Daí se denominar quem nasce no Porto de tripeiro.
*11 “Poema do deus humano”, de Alziro Zarur — Originalmente publicado em 1935, no jornal A Pátria, e, em 1949, nos Poemas da Era Atômica, foi reproduzido por Paiva Netto no Livro de Deus (1982), de sua autoria.
*12 Congresso “Viva Jesus!” — Para melhor entender a forma como Paiva Netto compreende Jesus, trazemos ao leitor parte do seu artigo, fartamente divulgado na imprensa brasileira e internacional em 1989, que teve como título “Dessectarizar Jesus”:
Jesus, o Cristo Ecumênico, o Estadista Divino
O produtor de documentários da TV polonesa, então vice-presidente da Associação Universal de Esperanto, jornalista Roman Dobrzyński, esteve no Brasil para participar da inauguração do Templo da Boa Vontade. Na ocasião, em entrevista, perguntou-me como podia pregar o Ecumenismo Irrestrito falando em Jesus. Respondi-lhe, conforme tantas vezes expusera meu pensamento acerca deste tópico, que uma das grandes tarefas da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo é dessectarizá-Lo, pois Jesus é o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, e concluí: o Provedor Celeste não é um rancoroso exclusivista. Ele é um Ideal Sublime de Humanidade, Amor, Solidariedade, Justiça e Compaixão para todos os seres espirituais e humanos. Jesus é uma conquista diária para os que têm sede de Saber, de Misericórdia, de Fraternidade, de Generosidade, de Liberdade, de Solidariedade e Igualdade, segundo a Lei Universal da Reencarnação, “que dá a cada um de acordo com as obras de cada um” (Evangelho, segundo Mateus, 16:27).
Jesus, em Si mesmo, não constitui fator de rancores e guerras. Pregou, com o Seu Novo Mandamento — “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35) —, o Amor elevado à enésima potência. O que as criaturas terrenas fizeram com a Sua Mensagem é criação reducionista delas (...).
Revelar o excelso significado do Seu Evangelho e do Seu Apocalipse, sem sectarismos, é destacado serviço que a Religião do Terceiro Milênio está prestando à sociedade do mundo (...).
*13 Léon Denis — O autor de Aprè la mort (Após a morte) é tido como o continuador lógico da obra de seu compatriota, o pedagogo francês Allan Kardec (1804-1869), o Codificador da Terceira Revelação.
*14 Livro de Deus — Obra de autoria de Paiva Netto, lançada em 1982, apresentando a sequência da magistral pregação doutrinária (religiosa, filosófica, científica e política), de Alziro Zarur.
*15 (Nota do autor) — Em 25 de março de 1990, numa página dirigida como humilde colaboração aos que enfrentam os dramas da existência, constante do livro Tratado Universal sobre a Dor, apresentei o meu ponto de vista acerca da verdadeira felicidade: A alegria construída sobre falsos valores é amargosa, como aquele livrinho de que nos fala o Apocalipse de Jesus, 10:9: “doce na boca, mas amargo no estômago”; isto é, feliz na exterioridade, porém lastimosa quando atinge o interior do ser humano. Ora, o seguidor do Evangelho-Apocalipse não pretende esse tipo de satisfação. Ele quer Jesus. O aprazimento mundano é sempre anúncio de calamidades e dores para os que sofregamente o perseguem. Não há maior júbilo do que pregar o Amor de Deus aos homens. Entretanto, quão difícil é semelhante tarefa!
*16 (Nota do autor): Fórmula Urgentíssima de Jesus — “Buscai primeiramente o Reino de Deus e Sua Justiça, e todas as coisas materiais vos serão acrescentadas” (Evangelho do Cristo, segundo Mateus, 6:33). O que Jesus quis dizer com isso? Que se conhecermos as Leis Espirituais em primeiro lugar, consequentemente saberemos resolver os assuntos materiais. Isto é que falta à Economia humana: analisar, convencer-se e aplicar. Não custa experimentar.
*17 Uma consequência da Prece – Disse Jesus: “Tudo o que pedirdes a meu Pai, em meu nome (pelo exercício da oração), crede que o havereis de receber”. É evidente que o Divino Doador se refere a pedidos justos.
*18 Buda Sakyamuni — “Muni” = Sábio e “Sakkya” = Clã dos Sakyas. O Sábio dos Sakyas designa o título de Sidhartha Gautama, após ter atingido o estado de iluminação. É então que ele começa a pregar a doutrina budista em Benares e no sudeste da Índia.
*19 Abraão Lincoln — Lembrado como o abolicionista da escravatura negra em seu país, Lincoln é um dos baluartes da moderna democracia e uma das maiores figuras da história norte-americana. Em 1860, disputou as eleições para a presidência da República, tornando-se o 16o Presidente dos Estados Unidos da América. Ao iniciar seu governo, em 1861, enfrentou a separação de sete Estados escravistas do sul, que formaram os Estados Confederados da América. O velho Abe, entretanto, não reconheceu essa separação, ratificou a soberania nacional sobre as unidades rebeldes e, exortando-as à conciliação, garantiu-lhes que jamais partiria dele uma ofensiva armada. Porém, os separatistas tomaram o forte Sumter, na Virgínia Ocidental, levando o país à famosa Guerra da Secessão. Os confederados renderam-se em 9 de abril de 1865, em Appomattox, Virgínia. Na noite de 14 de abril de 1865, uma Sexta-Feira Santa, o ator John Wilkes Booth (1839-1865), defensor da escravatura negra e com forte ligação com os confederados, membro de uma notável família de atores, assassinou Lincoln, no Teatro Ford, em Washington.
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