Globalização do Amor Fraterno
Solidariedade tornou-se estratégia de sobrevivência
Desde o fim da década de 1970, venho alertando para o fato de que a Solidariedade hoje se expandiu do luminoso campo da ética e se apresenta como uma estratégia, de modo que o ser humano possa alcançar a sua sobrevivência. À globalização da miséria contrapomos a globalização da Fraternidade Ecumênica, que espiritualiza a Economia e solidariamente a disciplina, como forte instrumento de reação ao pseudofatalismo da pobreza (…). Não se espera um repentino milagre, mas o fortalecimento de um ideal que se estabelecerá, etapa por etapa, até que se complete o seu extraordinário serviço. Constitui, porém, assunto urgente. Então, comecemo-lo ontem. O bom desafio faz bem a todos. (...)
Estudar as Leis Divinas sem fanatismo
Por essa razão, há décadas lancei às consciências uma proposta concreta: a Economia da Solidariedade Espiritual e Humana, dentro da Estratégia da Sobrevivência. Aliás, o que igualmente reitero é que a força do Espírito nos leva a sobreviver. (…) Não foi sem motivo que Virgílio (70-19 a.C.) grafou, há milênios, na Eneida, que “a fome é má conselheira”.
(...) A escalada da violência não respeitará limites se os povos — e seus governantes — não estiverem verdadeiramente integrados na Lei do Criador do Universo, que, com todo o cuidado, deveria ser estudada pelas maiores cabeças pensantes do mundo, naturalmente que bem longe de qualquer fanatismo, religioso ou ateu.
O ilustre ministro e poeta Olavo Drummond (1925-2006) — quando de sua concorrida posse no Tribunal de Contas da União, em Brasília/DF, Brasil, para o que fui honrosamente convidado — demonstrou compreender a urgência dessa diretriz, ao definir: “Precisamos fazer o que vocês realizam na Legião da Boa Vontade: a globalização do Amor, pois essa é a mais importante das globalizações”.
Ecumenismo dos Corações — Ecumenismo que se sobrepõe ao “choque de culturas”
Acerca de nossa visão abrangente de Ecumenismo, a qual se sobrepõe ao apregoado “choque de culturas” — que pode arrastar as populações a uma guerra descomunal, possivelmente diversa e pior do que até há pouco fora imaginada, explico:
Quando falamos em Ecumenismo, queremos dizer universalismo do Bem, portanto, Fraternidade sem fronteiras, Solidariedade internacional, visto que entendemos a humanidade como uma família. E não existe uma só em que os filhos tenham idêntico comportamento. Cada um é um cosmos independente, mas não significa dizer que esses “corpos celestes” devam se esbarrar uns nos outros. Seria o caos.
Precisamos, por isso, viver o Ecumenismo Irrestrito, não resumido, portanto, aos cristãos que compõem uma parte dos povos. E mais: Ecumenismo não circunscrito às religiões, todavia aquele que se expande pelos campos da Ciência, da Filosofia, da Política, das categorias sociais, das profissões, dos times de futebol, das etnias, assim por diante, e que se encontra acima da perspectiva de conhecimento que governa a inteligência neste planeta, pois ainda vivemos apenas a expectativa dele, não o Conhecimento no sentido lato, que seria imergir no oceano do Saber Divino; de corpo e Alma, banhar-se no mar luminoso da Sapiência de Deus. Referimo-nos ao Ecumenismo dos Corações, do sentimento bom, que independe das diferenças comuns da família humana, em que as pessoas raciocinam de acordo com o amadurecimento próprio, com a extensão do seu saber ou da falta dele. O Ecumenismo dos Corações é aquele que nos convence a não perder tempo com ódios e contendas estéreis, mas a estender a mão aos caídos, pois se comove com a dor; tira a camisa para vestir o nu*; contribui para o bálsamo curativo de quem se encontra enfermo; protege os órfãos e as viúvas, como ensina Jesus, no Evangelho, segundo Mateus, 10:8. Quem compreende o alto sentido do Ecumenismo dos Corações sabe que a Educação com Espiritualidade Ecumênica será cada vez mais fundamental para o progresso dos povos, porque Ecumenismo é Educação aberta à Paz; para o fortalecimento de uma nação (não para que domine as outras); portanto, o abrigo de um país e a sobrevivência do orbe que nos agasalha como filhos nem sempre bem-comportados.
Basta lembrar o lamentável fenômeno do aquecimento global, a cada dia menos desmentido pelas maiores cabeças pensantes do mundo. (...) Os vanguardeiros — ecólogos, políticos e cientistas de ponta — já buscam soluções práticas para conter a poluição, que nos envenena desde o útero materno. (...)
Há muito que aprender com o próximo
Conforme declarei, em 1981, ao jornalista italiano radicado no Brasil Paulo Rappoccio Parisi (1921-2016), nunca como agora se fez tão indispensável unir os esforços na luta contra a fome e pela preservação da vida no planeta. É imperioso aproveitar o empenho de todos, ecologistas e seus detratores, assim como trabalhadores, empresários, o pessoal da mídia (escrita, falada e televisionada, e, hoje, incluo a internet), sindicalistas, políticos, militares, advogados, cientistas, religiosos, céticos, ateus, filósofos, sociólogos, antropólogos, artistas, esportistas, professores, médicos, estudantes ou não (bem que gostaríamos que todos se encontrassem nos bancos escolares), donas de casa, chefes de família, barbeiros, manicures, taxistas, varredores de rua e demais segmentos da sociedade. E isso representa um avançado espírito de Caridade Social.
A primeira mulher a ir ao espaço (1963), a cosmonauta russa Valentina Tereshkova, sintetizou numa frase que muito tem a ver com a gravidade do que estamos enfrentando ante a destruição atroz da Natureza: “Uma vez que você já esteve no espaço, poderá apreciar quão pequena e frágil a Terra é”.
O assunto tornou-se dramático, e suas perspectivas, trágicas. Pelos mesmos motivos, urge o fortalecimento de um Ecumenismo que supere barreiras, aplaque ódios, promova a troca de experiências que instiguem a criatividade global, corroborando o valor da cooperação sócio-humanitária das parcerias, como, por exemplo, nas cooperativas populares em que as mulheres têm forte desempenho, destacado o fato de que são frontalmente contra o desperdício. Há muito que aprender uns com os outros. O roteiro diverso comprovadamente é o da violência, da brutalidade, das guerras, que invadem lares em todo o orbe.
Alziro Zarur (1914-1979), saudoso Proclamador da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, enfatizava que as batalhas pelo Bem exigem denodo.
Simone de Beauvoir (1908-1986), escritora, filósofa e feminista francesa, acertou ao afirmar: “Todo êxito encobre uma abdicação”.
Resumindo: cada vez que suplantarmos arrogância e preconceito, existirá sempre o que absorver de justo e bom dos componentes desta ampla “Arca de Noé”, que é o mundo globalizado de hoje. Daí preconizarmos a união de todos pelo bem de todos, porquanto compartilhamos uma única morada, a Terra. Os abusos de seus habitantes vêm exigindo providência imperativa: ou integra ou desintegra (...), razão por que devemos trabalhar estrategicamente em parcerias que promovam prosperidade efetiva para as massas.
Portanto, numa época de profunda transição como esta que vivemos, só se pode entender o tão propalado e anteriormente citado “choque de culturas” como um aparar de arestas, porque já se derramou muito sangue neste mundo, e sangue invoca sangue, como no conceito de Salomão: “Abyssus abyssum invocat” (O abismo atrai o abismo).
Nosso tempo requer, sem delongas, que se desenvolva uma real consciência das questões sociais que carecem de solução para ontem. Jamais é ou foi suficiente levantar o vidro do carro. A necessidade de reformas bate às portas. Façamo-las antes que processos traumáticos da sociedade cobrem atitude. E aí, além dos anéis, serão levados os dedos. Não faltam exemplos na História.
Paz para o Milênio
Em Paz para o Milênio, publicação que inicialmente elaborei para a Conferência de Cúpula da Paz Mundial para o Milênio, evento organizado pelas Nações Unidas (ONU), em agosto de 2000, na sua sede em Nova York/EUA, escrevi:
É preciso Globalizar a Solidariedade, o Amor Fraterno. Afinal, somos humanidade. Desde o princípio das eras, temos indissolúvel ligação neste orbe. Somos, portanto, muçulmanos, xintoístas, católicos, bramanistas, budistas, protestantes, hinduístas, bahá’ís, judeus, espíritas, esotéricos, agnósticos, mórmons, umbandistas, ateus... Somos, por fim, seres humanos!
Isso significa dizer que é imprescindível respeitar as origens e procurar compreender o ponto de vista do nosso semelhante para, com ele, coexistir na sintonia da Paz, de modo que possamos juntar as mãos e trabalhar por quem padece, antes que, de forma globalizante, os padecentes sejamos todos nós, enquanto promotores dementados de verdadeira chacina, ao fomentar um progresso, porém de destruição. (...)
Cooperando com a ONU
Certa vez, ao ser indagado sobre a cooperação que a LBV vem oferecendo à Organização das Nações Unidas desde 1994, respondi:
Sigamos confiantes, contudo sempre atentos e diligentes, nas providências que estão sendo tomadas em âmbito nacional e mundial, a exemplo das vastas iniciativas da ONU. E a essas oportunidades preciosas comparecemos com a nossa sincera colaboração de instituições nascidas do seio da sociedade, que, cada vez mais, toma consciência de seus direitos de cidadania, nas medidas que hão de criar “um Brasil melhor e uma humanidade mais feliz”. Não num futuro distante, todavia o mais próximo possível!
A todos ofereço, pois,
Uma palavra de Paz
Ensinou Jesus: “Novo Mandamento vos dou: Amai-vos como Eu vos amei. (...) Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 15:13).
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* Pois se comove com a dor, tira a camisa para vestir o nu... — Atos de Caridade recomendados por Jesus em Seu Santo Evangelho, particularmente nos relatos de Mateus, 25:35 a 45.
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