Ciência e Fé na trilha do equilíbrio (III)

Fonte: Revista Ciência e Fé na trilha do equilíbrio, de 2000. | Atualizado em março de 2023.

Novo Renascimento

Por isso, não acredito em retrocessos sem remissão. Creio, porém, que estamos a caminho de um novo Renascimento, ou já o vivendo, o qual terá como sustentação a aliança pragmática entre a Racionalidade Humana e a Espiritualidade Superior. Até mesmo porque não podemos eter­namente ignorar a possibilidade de existir um Governo Invisível que — seguindo parâmetros, para decifração dos quais ainda não alcançamos a chave — a tudo dirige, como destaca o pesquisador francês Gabriel Delanne (1857-1926), em sua obra Le Spiritisme devant la Science (1885): “Não se pode negar, quando examinamos o desenvolvimento da vida através dos períodos geológicos, que uma inteligência haja dirigido a marcha ascendente de tudo o que existe, para um fim que ignoramos, mas cuja existência é evidente”.

A discussão continua...

Lembro-me outrossim do ponto de vista de um cético, o conceituado dr. Stephen Hawking*1. Ocupa desde moço a cátedra de Isaac Newton na Lucasian Professorship. Ele é um modelo de pertinácia diante das provações humanas, tendo em vista a grave enfermidade que o acomete desde a juventude.

A revista Veja, edição 1430, de 7/2/1996, numa excelente reportagem do jornalista Eurípedes Alcân­tara, intitulada “A grande pergunta”, publicou: “Os cientistas que se aventuram em busca da hipótese teológica armam-se ao mesmo tempo de humildade e arrogância. A primeira, necessária para enfrentar um assunto tão espinhoso sem ideias preconcebidas. A segunda, uma conse­quência da crença de que tudo já foi respondido — um exagero, tanto para quem já descobriu que as duas grandes teorias do século, a Relatividade e a Física Quântica, ainda não se encaixam perfeitamente como para quem apenas se queixa de que a Ciência ainda não foi capaz de providenciar a cura do resfriado, para não falar em moléstias mais graves. O papa da moderna cosmologia, o inglês Stephen Hawking, diz no final de um documentário de televisão que talvez um dia ‘a humanidade venha a conhecer a mente de Deus’”. Em sua coletânea de ensaios, Buracos Negros, Universos-Bebês, publi­cada em 1993, Hawking aclara sua relação com a ideia do Criador. “Meu trabalho não mostra se Deus existe ou não. Mostra apenas que Ele não foi o árbitro da criação. Mas a questão maior ainda permanece: por que o Universo existe? Se você preferir, pode afirmar que Deus é a resposta a essa pergunta.”

Talvez possamos depreender que o dr. Hawking esteja combatendo o deus que porventura lhe ensinaram existir, o antropomórfico. Entretanto, Deus, possivelmente, não é o que pensamos com os ínfimos 10% de nossa capacidade cerebral. É compreensível, pois, o que o notável cientista afirmou na televisão: que quiçá um dia “a humanidade venha a conhecer a mente de Deus”.

Certa vez, num dos meus programas de rádio e TV, declarei que Stephen Hawking e outros agudos pesqui­sadores, acoimados de descrentes, possivelmente estejam muito mais próximos do Supremo Arquiteto do Universo, como os maçons chamam ao Pai Celestial, do que certos religiosos afastados do Amor, porquanto, como ensina João Evangelista, no Novo Testamento da Escritura Sagrada, Deus é justamente isto: Amor.

Poder da Ciência

Cada descoberta científica dá mais domínio ao ser humano, que pode em­pregá-lo para o Bem ou para o mal. Como escreveu Sigmun­d Freud (1856-1939): “Só o conhecimento traz o poder”. É aí que se torna neces­sária a intervenção do Espírito iluminado pela ética. Eis por que é lema do Parlamento Mundial da Fraterni­dade Ecumê­nica: Educação e Cultura, Alimentação, Saúde e Trabalho com Espiritualidade.

Esperamos o dia em que a ciência da Ética fará surgir a ética da Ciência, firmada na Espiritualidade Superior.

Em busca da Verdade

Só o conhecimento, iluminado pelo Amor fraterno, liberta e faz grandes cidadãos e nações. Não podendo ser esquecida, porém, esta advertência de Confúcio (551-479 a.C.): “Pague a Bondade com a Bondade, mas o mal com a Justiça”. Convém destacar que o velho sábio chinês não falou de vingança, mas de Justiça*2.

Homens e mulheres respeitáveis procuram o conhecimento por intermédio das Leis Físicas ou das Leis Morais e Espirituais. Não devemos temer desvendá-las, e sim recordar sempre este ensi­namento de Jesus: “Conhecereis a Verdade [de Deus], e a Verdade [de Deus] vos libertará” (Evangelho, segundo João, 8:32).

Ampliando o “círculo de compaixão”

Voltando a Einstein, dizia ele: (...) A coisa mais bela que podemos experimentar é o mistério”.

E mais: “O ser humano vivencia a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do Universo que o cerca — uma espécie de ilusão de ótica de sua consciência, moldado pela cultura. E essa ilusão é um tipo de cárcere que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos desses grilhões, ampliando nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a Natureza em seu esplendor. Poderá ser que ninguém consiga atingir plenamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior”.

Maluá

O médico, escritor e dramaturgo Pedro Bloch (1914-2004), coração generoso, sempre exaltou o notável exemplo de Solidarie­dade que foi a vida de seu amigo Noel Nutels (1913-1973), que, vindo de muito longe, se tornou anjo da guarda de tribos brasileiras. Neste encontro do saber, que estamos realizando no Parla­Mundi, os povos indígenas merecem a nossa homenagem expressa neste breve diálogo entre os dois ilustres discípulos de Hipócrates (460-377 a.C.), a respeito de um pajé da Amazônia, de nome Maluá, que o dr. Bloch registra num artigo da revista Manchete, de 8 de julho de 2000:

Noel (risonho): Ele é colega nosso.

Bloch: É médico?

Noel: E dos bons — fala muito sério. Formado pela Universidade de Bananal. É psicanalista também. Cura corpo e alma.

A contribuição da medicina xamânica, que se fundamenta na realidade de que a Vida Espiritual é efetiva, não pode ser desprezada, sob o risco de sermos descobertos no mesmo comportamento pretensioso daqueles que menos­cabaram, por exemplo, da Psicanálise, quando dos trabalhos iniciais de Freud.

O dr. Bloch conta outra do saudoso dr. Nutels, no mesmo artigo: “Sabedoria é uma coisa engraçada — ria Noel. Os índios sabem coisas do arco-da-velha que envergonhariam a ignorância de qualquer branco. Cada grupo humano tem o seu saber. Aqui neste quarto, garanto, você não saberia armar uma rede. Chama um cearense e ele encontra dez armações”.

Quero, aqui, deixar o meu abraço ao dr. Pedro Bloch, grande amigo também do saudoso Alziro Zarur.

Nenhum saber deve ser desprezado pelo saber de quem quer que seja. A História sempre fala mal daqueles que usaram de ideias preconcebidas contra os demais. Este não era o caso do dr. Noel Nutels, que veio de longe, da Ucrânia, para fazer o bem no Brasil.

Com a palavra, um Nobel de Medicina e Fisiologia

Sem Misericórdia, acabaremos por nos situar na era primitiva do sentimento.

O dr. Alexis Carrel (1873-1944), Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina (1912), na sua condição de médico escreveu, na edição de março de 1941 da revista Reader’s Digest, uma página antológica a respeito do poder da Prece, que ele destaca como “o exercício fundamental do Espírito”.

Fui buscá-la, na íntegra, para vocês, na Revista BOA VONTADE, de abril de 1957. Por sinal, republiquei-a no capítulo “Ciência e Fé na trilha do Equilíbrio”, do volume 3 da coleção “Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo”, em 1991:

“A oração não é apenas um ato de culto, é também uma invisível emanação do espírito de adoração do homem — a forma de energia mais poderosa que ele é capaz de gerar. A influência da prece sobre a mente e o corpo humano é tão susceptível de ser demonstrada como a das glândulas secretoras. Os seus efeitos podem ser medidos em termos de aumento da sensação de leveza e vitalidade física, maior vigor intelectual, resistência moral e uma compreensão mais profunda das realidades subjacentes aos relacionamentos humanos.

“Se vos afizerdes ao hábito de orar com sinceridade, vereis como a vossa vida se modificará notável e profundamente. A prece marca, com sinais indeléveis, as nossas ações e comportamento. Uma tranquilidade de atitude, um estado efetivo de repouso que transparece na fisionomia são, em geral, observados em todos os que enriquecem com tais poderes a sua vida íntima. (...)

“A oração é uma força tão real como a gravidade terrestre. Na minha qualidade de médico, tenho visto enfermos que, depois de tentarem, sem resultado, todos os outros meios terapêuticos, conseguiram libertar-se da melancolia e da doença pelo sereno esforço da prece. É esta, pois, no mundo, a única força que parece capaz de superar as chamadas “Leis da Natureza”. As ocasiões em que a oração fez isso de forma dramática foram denominadas “milagres”. Mas um milagre constante e silencioso ocorre a cada hora no coração de homens e mulheres que descobriram que a oração lhes fornece um fluxo constante de poder sustentador em suas vidas diárias...

“Há muitas pessoas que se limitam a ver na prece uma rotina formal de palavras, um refúgio para os fracos ou mero apelo infantil movido pelo desejo de coisas materiais. Concebê-la, entretanto, nestes termos, é menosprezá-la erroneamente (...). Bem compreendida em sua essência, a prece é uma atividade madura indispensável ao mais pleno desenvolvimento da personalidade — a definitiva integração das mais altas faculdades de que é dotado o homem. Somente pela prece alcançamos aquela completa e harmoniosa conjugação de corpo, mente e Espírito que dá à fraca argila humana sua solidez inabalável. (...) Toda vez que nos dirigimos a Deus, em oração fervorosa, melhoramos de corpo e Alma”.

(Os destaques são meus.)

Oração — exercício fundamental do Espírito

Prossegue o respeitado clínico:

“Não é possível que algum homem ou mulher reze, um momento que seja, sem obter qualquer resultado. “Ninguém jamais rezou”, disse Emerson, “sem que houvesse aprendido alguma coisa”.

“A prece pode ser feita em toda parte: na rua, no metrô, no escritório, na loja, na escola, tão bem quanto no retiro de um aposento particular ou entre a multidão que enche uma igreja. Não há atitude exigida, nem hora, nem lugar prescritos. (...)

“Hoje, mais do que nunca, a prece é uma necessidade inelutável na vida de homens e nações. A falta de intensidade no sentimento religioso acabou por trazer o mundo às bordas da ruína. O mais profundo manancial de energia e perfeição, que se acha ao nosso alcance, foi deixado miseravelmente sem desenvolvimento.

“A oração, o exercício fundamental do Espírito, há que praticá-la ativamente em nossa vida privada. A descurada Alma do homem deve ser fortalecida o suficiente para afirmar-se a si mesma uma vez mais. Porque, se a força da prece for novamente posta em ação na vida de homens e de mulheres, se o Espírito proclamar os seus desígnios com clareza e ousadia, ainda haverá esperança de que nossas orações por um mundo melhor sejam atendidas”.

(Os destaques são meus.)

Vejam que não se trata de afirmativa de nenhum “místico abilolado”, mas de um senhor cientista, cônscio de sua reputação, um Prêmio Nobel de Medicina.

Todo aquele que sofre, da choupana ao palácio, com certeza já teve o ensejo de comprovar a realidade espiritual por ele proclamada.

Sistema geocêntrico, o sistema egocêntrico

Tudo progride. Quantas coisas que ontem eram verdades pétreas no campo da Religião e da Ciência não mais o são. Em 1987, na Folha de S.Paulo, Brasil, pude destacar um exemplo a esse respeito: (...) a Terra seria o centro do Universo. Aliás, o sistema geocêntrico nada mais significa que um sistema egocêntrico: o homem a pretender que o Universo evoluísse em torno do seu ego (...).

Matéria também é Espírito

Em Arnoso, Portugal, escrevi artigo com o título “Matéria também é Espírito. Deus não é suicida”, que foi publicado, em 29/4/1993, pelo Correio Braziliense, da capital federal brasileira:

(...) A Revolução de Einstein no campo da Física foi nessa mesma direção: E=mc². A concei­tuação moderna de matéria é nuclear. A imagem da solidez foi substituída pelo circuito fissão/fusão. A liberação da energia, contida no dinamismo dos núcleos acelerados, passa pelos dedos e escapa às mãos dos que desejariam segurar a matéria, firmados em ultrapassadas concepções do materialismo dialético. Eis uma descoberta científica com sérias consequências morais, como todas o são em profundidade.

Enquanto o ser humano vive sob o espesso véu da ignorância espiritual, a matéria encarna o papel do vilão e nos fala de guerra, destruição, perversão, corrupção, doença... Nada mais contemporâneo, basta que se vejam as manchetes de jornal. À medida que as criaturas se aproximarem do seu Criador pelo exercício da Fraterni­dade entre elas, porque Deus é Amor, e isto é Religião no sentido mais elevado, as mentes tornar-se-ão mais aptas a entender a natureza espiritual da própria matéria, elevando-a conscientemente à condição de instrumento evolutivo do Espírito, para que então ela nos fale de Vida, Amor, Criação, Frater­nidade, Espiritualidade (...).

Spinoza e natureza divina da matéria

O filósofo judeu Baruch Spinoza (1632-1677), autor de amplos sistemas metafísicos que influenciaram pensadores e homens de Ciência, constatou: “Ignoro por que a matéria deva ser indigna da natureza divina, já que fora de Deus não pode existir nenhuma substância dotada de natureza divina... Por isso, de forma alguma se pode asseverar que... a substância extensa... é indigna da natureza divina, desde que eterna e infinita”.

A matéria durante muito tempo foi considerada como obstáculo para o Espírito; mas agora deverá deixar de ser, à medida que entendermos e respeitarmos a sua função superior.

O saudoso filósofo brasileiro Huberto Rohden (1893-1981), que conviveu com Einstein na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, revela que um grupo de cientistas daquela conceituada academia do saber concebeu uma tese denominada “Gnose”, que diz em síntese: “O Espírito encarna para encontrar resistência e evoluir”. São físicos de Princeton...

Os limites vibracionais do Universo

Em 1981, durante a conferência A Decodificação do Pai-Nosso, que rea­lizei em Porto Alegre/RS, Brasil, no Ginásio de Esportes do Colégio Protásio Alves, convidei o povo simples que me honrava com sua atenção a desenvolver este raciocínio: Meu Deus, cogita-se de grandeza, dimensão, distância FÍSICAS... No entanto, os limites do Universo podem igualmente ser VIBRACIONAIS*3... O ser humano falece, o corpo fica... O Espírito (ou como o queiram chamar), que não pode ser reduzido ao território da mente, migra para outro Universo ou outros Universos, que não se veem... É um desafio lançado à mesa de discussão. A Ciência, em seus elevados termos, a posteriori comprova o que a Religião, de maneira intuitiva, bem antes percebera. A primeira conceitua; a segunda ilumina, quando realmente Religião e nunca reserva de tabus e preconceitos.

A mente do Espírito

A Ciência começa a compreender que a inteligência se dispõe além da estrutura física, como se houvesse um cérebro psíquico fora do somático. Por conseguinte, conclui-se que a essência espiritual não é uma projeção da mente humana e que o homem não é um corpo que tem um Espírito; contudo, um Espírito Eterno que possui um corpo passageiro, como propõe a Revolução Mundial dos Espíritos, anunciada pelo saudoso fundador da LBV, Alziro Zarur (1914-1979), em dezembro de 1953.

“Ah!, mas a Ciência ainda não comprovou nada mesmo, alguém argumenta.”

Porém, como asseverou o sempre lembrado astrofísico norte-americano Carl Sagan (1934-1996): “A ausência da evidência não significa evidência da ausência”.

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Notas dos editores

*1 Stephen Hawking (1942-2018).

*2 Pensamento de Confúcio e consideração do autor — citado no livro O Apocalipse sem Medo.

*3 Os limites do Universo podem igualmente ser vibracionais — Leia mais sobre o assunto no capítulo “Um aprendizado para a Eternidade”, de Os mortos não morrem, de Paiva Netto. Adquira: www.PaivaNetto.com/livros.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.