Desumanidade gera desumanidade
Em meu livro Jesus e a Cidadania do Espírito (2019), comento:
Desumanidade gera desumanidade. Aí está, em resumo, a explicação do estado atual do planeta. Porém, com a riqueza de nosso Espírito, podemos edificar um amanhã mais apreciável. Entretanto, nenhuma reforma será duradoura se não houver o sentido de Caridade, o respeito ao ser humano e o bom comando das gentes atuando na Alma. Para que isso realmente ocorra, é necessário que estejamos integrados em Deus, que é Amor (Primeira Epístola de João, 4:16), portanto, Caridade. E foi justamente o Discípulo Amado que nos advertiu em sua Primeira Epístola, 3:17 e 18: “Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o Amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra nem de boca, mas em ação e em verdade”.
Sem essa providência e perseverança nela, como preconiza Jesus, possivelmente nem saberíamos por onde começar a consertar o que, ao longo dos milênios, temos danificado. A integração verdadeira em Deus e em Sua Lei, expressa pelo Divino Mestre no Seu Novo Mandamento, é a reforma que falta ter início. Disse Jesus: "Novo Mandamento vos dou: amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mesmo Amor uns pelos outros. O meu Mandamento é este: que vos ameis como Eu vos tenho amado. Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos. Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor" (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35; 15:12, 13 e 9).
Supremo poder da Alma
Caridade é a comprovação do supremo poder da Alma ao construir épocas melhores de vida (espiritual e material) para os países e seus povos, os Cidadãos do Espírito. Não há maior inspiração para a boa política do que ela, seguida pela Justiça aliada ao Bem. Absurdo?! O tempo mostrará que não. Aliás, já está manifestando isso ao vislumbrar a aurora da Política de Deus — a Política para o Espírito Eterno do ser humano. Resta às multidões aprender em definitivo a enxergar essa realidade e desenvolver o sentido de Compaixão. Assim, com o passar das eras, o mundo abandonará a doença que, pelos milênios, lhe tem feito tanto mal: a pouca atenção que dá à força do Amor Fraterno, “princípio básico do Ser, fator gerador de vida, que está em toda parte e é tudo”.
O polímata persa Avicena (aprox. 980-1037) — como também é conhecido o velho Ibn Sina, um dos brilhantes pensadores da Era de Ouro do Islã — percebeu que todas as coisas têm origem nesse Sentimento Universal, conforme explicitou em seu Tratado sobre o Amor:
“Todo ser ama o Bem Absoluto com um amor inato, e o Bem Absoluto se manifesta a todos aqueles que O amam. No entanto, a capacidade de receber esta manifestação difere em grau, assim como a conexão que se tem com Ele. (...)
“Caso pudesse ocorrer de o Bem Absoluto não ter Se manifestado, nada poderia ser adquirido Dele, e se nada pudesse ser obtido Dele, nada poderia existir. Portanto, nada pode haver se Sua manifestação não estiver presente, uma vez que Ele é a causa de toda a existência”.
Sobre o sublime ato de se doar ao próximo e suas consequências sociais, assim se expressou o pensador político francês Alexis de Tocqueville (1805-1859): “A caridade dos indivíduos se dedica às maiores misérias, procura o infortúnio sem publicidade e, de maneira silenciosa e espontânea, repara os males. (...) Pode produzir somente resultados benéficos. (...) Alivia muitas misérias, sem produzir nenhuma”.
Essas palavras do autor de A democracia na América nos remetem ao milenar estatuto deixado por Jesus, o Provedor Celeste, a todos os Cidadãos do Espírito:
“2 Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nos templos e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade, em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
“3 Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita” (Evangelho, segundo Mateus, 6:2 e 3).
Quando o ser humano verdadeiramente ama, estabelece uma sintonia perfeita com as Leis de Amor e Justiça legadas ao mundo pelo Pai Celestial. A criatura retorna ao seio do Seu Criador. Pode-se transitar pelos séculos, mas essa glória indescritível do Ecumenismo Divino*, que é o contato socioespiritual entre nós e Deus, um dia, se realizará.
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Nota dos editores
* Ecumenismo Divino — Leia a respeito em “Os Quatro Pilares do Ecumenismo”, nas Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo (1987), volume 1, de Paiva Netto.
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