Deus, bioética e genoma sintético
O anúncio da criação de um organismo vivo, a partir de um genoma sintético, tem provocado na comunidade internacional as mais diversas reações. Euforia, preocupação, cautela e perplexidade se alternam. O feito está sendo considerado uma das maiores descobertas científicas de todos os tempos.
Há por parte dos cientistas um entusiasmo fundamentado. É real a perspectiva de criar bactérias programadas para resolver problemas ambientais e energéticos. Ainda no âmbito dos benefícios, vislumbra-se o aceleramento na fabricação de vacinas, entre outros fins. Contudo, especialistas na área bioética e líderes religiosos alertam para a devida regulamentação e responsabilidade ética no aprimoramento da surpreendente experiência.
O assunto, por sua gravidade, levou o presidente dos EUA, Barack Obama, a solicitar à Comissão Presidencial para Estudo de Questões Bioéticas uma análise das consequências e implicações da célula artificial. No documento, expõe: “Em seu estudo, a comissão deve considerar o potencial médico, ambiental, de segurança, e outros benefícios desse campo de pesquisa, assim como riscos potenciais para a saúde, segurança e outros. Além disso, a comissão deve criar recomendações sobre qualquer ação que o governo federal deverá tomar para assegurar que os EUA colham os benefícios desse campo da Ciência, enquanto se identificam as fronteiras éticas e se minimizam os riscos”.
Amor, Ética e Esperança – Fundamentos para a vida civilizada
O tema, que ainda requer maiores estudos, me fez recordar uma entrevista que concedi, no início de 2000, ao escritor e produtor de TV Alcione Giacomitti. Ele a publicou em sua obra Os Pilares da Sabedoria de um Novo Mundo (2002), da Editora Elevação. Na época, a grande descoberta científica era o mapeamento completo do genoma humano. Em certo trecho de nosso diálogo, ao me indagar sobre até que ponto essa tecnologia moderna tem realmente beneficiado a humanidade como um todo, assim me posicionei:
Houve um desenvolvimento material estupendo depois da Primeira Grande Guerra. Mas o correspondente no campo do sentimento e da moral não tem ocorrido conforme deveria. Fortaleceu-se, portanto, esse desequilíbrio. (...) Pela insistência na busca do progresso que menospreza o sentido da Espiritualidade, que é a relação íntima das Almas com seu Criador Supremo (entendido como Amor), o ser humano condena-se à desumanidade duradoura, precipitando milhões e milhões de pessoas na mais extrema miséria. (...) É nesse contexto, de adiantamento espiritual e expansão material, que consiste a chave para o crescimento tecnológico com qualidade de vida. (…) Sempre há uma saída, a curto, médio ou longo prazo. Numa de minhas crônicas (para a antiga revista Manchete), “Genoma, Ética e Fraternidade”, afirmei: Nunca, como agora, se torna tão necessária a prática de tudo o que se resume na expressão Fraternidade Ecumênica. A tecnologia supera as barreiras. (...) O genoma humano mapeado, com sua sequência descoberta pela primeira vez na História, descortina horizontes extraordinários, ao mesmo tempo que origina uma série de questões éticas que aguardam solução urgente. (...) É indispensável, pois, que decifremos, para adequadamente o aplicar, o Genoma de Deus, a razão de tudo: o Amor, que nos vem sustentando, motivo pelo qual ainda subsistimos aqui... na Terra. Embora a duras penas, temos preferido sobreviver. É preciso haver equilíbrio entre o avanço tecnológico-material e o ético-espiritual. Enquanto isso não ocorrer, o perigo permanece, como espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, traduzida neste paradoxo: era contemporânea e retorno social à Idade Média. Falta alguma coisa à tecnologia globalizante? Sim, coração e mente iluminados (isto é, maior parceria entre sentimento e intelecto), a mundialização da Solidariedade, de maneira que, entre outras coisas, a internet seja, cada vez mais, um poderoso caminho da Paz e das transformações, incluídas as sociais, e não o sistema nervoso alterado da sociedade tecnológica.
Vale a pena refletirmos a respeito.
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