A lógica não concebe barreiras

Fonte: Revista BOA VONTADE, edição 189, de 15 de junho de 2004.

Em 18 de outubro de 2000, a cidade de Brasília/DF, Brasil, serviu de cenário para um dos maiores feitos à integração entre Fé e Ciência. Naquele ano, sob os auspícios do entendimento, a Legião da Boa Vontade realizava, no Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica (o ParlaMundi da LBV), a primeira plenária do Fórum Mundial Permanente Espírito e Ciência. Um dos objetivos do evento foi o de promover o intercâmbio entre o conhecimento científico e as várias tradições religiosas e espiritualistas, além de estruturar novos paradigmas para o desenvolvimento sustentável de uma sociedade fraterna, solidária e equânime, a partir de uma perspectiva espiritual e ecológica que garanta a Paz Mundial.

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Por oportuno, apresentamos trechos da revista Ciência e Fé na trilha do equilíbrio, especialmente escrita por Paiva Netto para o encontro. O material é fruto de seus improvisos, ao longo de décadas, no rádio, na TV e em palestras.

Boa leitura!

(Os editores)

Dr. Bezerra de Menezes

Nada, em Ciência, se encontra em sua forma derradeira. Foge à lógica conceber barreiras intransponíveis para uma especialidade essencial ao desenvolvimento humano, em que pesquisar, analisar, concluir — pesquisar de novo, mais uma vez analisar para concluir em amplitude de reflexão ad infinitum — é a base de sua luminosa lide. Mormente agora, quando o mundo está se transformando muito depressa.

No livro A loucura sob novo prisma, escreveu o Dr. Adolfo Bezerra de Menezes*1 (1831-1900), que foi médico, professor, orador, político, Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, cargo equivalente, hoje, ao de Prefeito Municipal: “A prova de que nada sabemos do Infinito Saber, que é nosso destino conquistar, encontra-se no fato de que a Ciência caminha sempre, sem que possa afirmar: toquei o marco terminal”.

Divulgação

Brian Swimme

Arquivo BV

Eduardo Castor Borgonovi

Isso significa dizer, para argumentar, que a Ciência, com destaque para o seu ramo chamado Sociologia, não pode ser aprisionada numa torre de marfim. Sua área de influência, numa aliança com a Religião, abrange tudo que represente o exame apurado do fenômeno humano, social e espiritual na Terra, como na concepção do físico norte-americano Brian Swimme, citado pelo escritor Eduardo Castor Borgonovi*2“Estou convencido de que qualquer visão do Universo que não nos deixa chocados não tem importância para nós. Não precisamos de visões sensatas. Precisamos das mais chocantes e fantásticas visões do Universo que pudermos encontrar”.

Ciência e pesquisa incansável

Vivian R. Ferreira

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

O renomado astrônomo e físico Ronaldo Rogério de Freitas Mourão*3 foi o primeiro brasileiro a ter um asteroide com o seu nome. Em entrevista à Super Rede Boa Vontade de Rádio, em março de 2000, assim se expressou: “A Ciência é um processo de conhecimento da Natureza que utiliza uma série de métodos. O científico é exatamente o da comprovação. Levantamos uma hipótese, submetendo-a a experiências que comprovam ou não a hipótese anterior. O principal objetivo da Ciência é sempre estar colocando em dúvida aquilo que afirmamos. Não há uma Ciência absoluta (...). Não acreditamos em alguma coisa porque simplesmente acreditamos, mas, sim, sempre questionando a probabilidade de existir ou não o que foi analisado”.

Desintegrar preconceitos

Reprodução BV

Albert Einstein

Albert Einstein (1879-1955), em 1940, dirigindo-se à Conferência sobre Ciência, Filosofia e Religião, no Seminário Teológico Judaico da América, em Nova York, declarou: “A Ciência só pode ser criada por aqueles que estão totalmente imbuídos de aspiração à verdade e à compreensão. A fonte deste sentimento, no entanto, emana da esfera da Religião. A ela também pertence a fé na possibilidade de que as regras válidas para o mundo da existência sejam racionais, isto é, compreensíveis à Razão. Eu não posso conceber um cientista genuíno sem essa fé profunda”.

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Walter Bagehot

Ademais, como observou o ilustre professor Walter Bagehot (1826-1877): “Uma das maiores aflições para a natureza humana é a angústia que lhe causa uma ideia nova”.

O velho Einstein estaria de pleno acordo com o economista britânico, porque no século seguinte, o vigésimo, que está se findando, viria a dizer: “(...) é mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito”.

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Hernani Guimarães Andrade

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Charles Richet

O criador do Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, engenheiro Hernani Guimarães Andrade, nome conceituado entre investigadores científicos de várias nacionalidades, destaca em seu livro A transcomunicação através dos tempos um parecer apreciável do Nobel de Medicina, fisiologista e pensador francês Charles Richet (1850-1935), fundador da Revista de Metapsíquica, que também teve de arrostar a convenção: “Sei demasiadamente bem (por minha própria experiência) quanto é difícil crer naquilo que se viu, quando o que foi visto não está de acordo com as ideias gerais, vulgares, que formam o fundo dos nossos conhecimentos”. (...)

Além do saber convencional

O célebre enunciador da Teoria da Relatividade, que costumava advertir que “Deus não joga dados com o Universo”, não escondia sua aptidão para a necessidade de libertar a mente, de forma que ela possa alçar voos infinitamente mais altos: “Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me revela”.

Ora, os silêncios de Einstein foram de suprema valia para a evolução da humanidade.

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*¹ Dr. Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti — Conhecido também como o Médico dos Pobres, por causa de sua extrema dedicação aos menos favorecidos. Presidiu a Federação Espírita Brasileira (FEB).

*² Jornalista Eduardo Castor Borgonovi, que voltou à Pátria Espiritual em 29/12/2000, cita o físico norte-americano Brian Swimme na sua obra O Livro das Revelações.

*3 O astrônomo e físico Ronaldo Rogério de Freitas Mourão retornou ao Mundo da Verdade em 2014, aos 79 anos.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.