O Sentido de Religião
Religião, como sublimação do sentimento, é para tornar o ser humano melhor, integrando-o no seu Criador pelo exercício da Fraternidade e da Justiça entre as Suas criaturas.
Nada melhor do que falar sobre os assuntos transcendentais, aqueles que erguerão, definitivamente, o Ser Humano-Espiritual, apto a domar os excessos materializantes de uma globalização firmada sobre a mentalidade de que o consumismo desenfreado é a felicidade ideal para a criatura humana. Isso é uma fraude, a começar pelo fato de que multidões não possuem o suficiente para se manterem dignamente vivas.
Não sou contra o comércio. Seria uma doidice. Apenas tenho a convicção de que o ser vivente, com seu Espírito Imortal, deve ser o centro da Economia e não um seu joguete. Daí o valor do sentimento religioso, quando verdadeiramente se expressa pelo Amor, o Regente Supremo da Fraternidade e da Solidariedade de que o mundo continua carecendo. Precisamos finalmente caminhar mais adiante e dizer que o Espírito Eterno, que habita o corpo humano, ele sim, é a medida de todas as coisas, porquanto é Cidadão Celeste.
Economia sem sentimento superior de Alma resulta nos diversos tipos de poluição que vão liquidando, a olhos vistos, a nossa residência coletiva, que muitos pretendem, pelos seus atos de extrema ganância, converter num cortiço, em que também fatalmente morarão.
Nos originais de meu livro O Capital de Deus, pondero, acerca do tema, que — para superar esse estado de coisas, quebrar essa estrutura alienada de progresso de destruição — é preciso que todos se unam, religiosos e ateus, para o encontro das soluções que se mostram urgentes. Daí pregarmos, na Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo — a Quarta Revelação —, o Ecumenismo dos Corações, do respeito mútuo, a partir do qual desponta campo fértil para o entendimento.
Acima de tudo, há que vigorar a Fraternidade Real, de que falava Alziro Zarur (1914-1979), saudoso fundador da Legião da Boa Vontade, no seu poema de mesmo nome. Essa Fraternidade é capaz de congregar os adversos e fazer surgir de seus paradoxos saídas para os problemas que estão sufocando a humanidade em crescente fuligem, pois, sempre gosto de repetir, realmente há muito que aprender uns com os outros.
Esse processo de harmonização para transformar, de maneira ativa, as duras condições sociais para melhor chama-se também Ecumenismo Fraternal. É a união de todos pelo bem de todos.
Dia Mundial da Religião
Em 21 de janeiro celebra-se o Dia Mundial da Religião. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo, na década de 1980, arguido por um leitor se não sectarizaria minha palavra o fato de, em meus escritos, dar muito valor à Religião __, expandi o que anteriormente havia registrado no primeiro volume de O Brasil e o Apocalipse (1984):
Não vejo Religião como ringues de luta livre, nos quais as muitas crenças se violentam no ataque ou na defesa de princípios, ou de Deus, que é Amor, portanto Caridade, e que, por isso, não pode aprovar manifestações de ódio em Seu Santo Nome nem precisa da defesa raivosa de quem quer que seja. Zarur dizia que “o maior criminoso do mundo é aquele que prega o ódio em nome de Deus”.
Religião na vanguarda ética
Compreendo ecumenicamente Religião como Fraternidade, Solidariedade, Entendimento, Compaixão, Generosidade, Respeito à Vida Humana, Salvação das Almas, Iluminação do Espírito, que todos somos. Tudo isso no sentido mais elevado. Creio na Religião como algo dinâmico, vivo, pragmático, altruisticamente realizador, que abre caminhos de luz nas Almas e que, por essa razão, tem de estar na vanguarda ética. Não a vejo como coisa abúlica, nefelibata, afastada do cotidiano de luta pela sobrevivência que sufoca as massas. Não a entenderia se não atuasse também, de modo sensato, na transformação das realidades tristes que ainda atormentam os povos. Estes, cada vez mais, andam necessitados de Deus, que é o antídoto para os males espirituais, morais e, por consequência, os sociais, incluídos o imobilismo, o sectarismo e a intolerância degeneradores, que obscurecem o Espírito das multidões. (...) E de maneira alguma devem-se excluir os ateus de qualquer providência que venha beneficiar o mundo.
Religião, Sabedoria e Misericórdia
Religião, como sublimação do sentimento, é para tornar o ser humano melhor, integrando-o no seu Criador pelo exercício da Fraternidade e da Justiça entre as Suas criaturas. O Pai Celestial é fonte inesgotável de Sabedoria e Misericórdia quando não concebido como caricatura, estereótipo, ódio, vingança, porquanto “Deus é Amor” (Primeira Epístola de João, 4:8), sinônimo de Caridade.
Com apurado senso de oportunidade, preconizava o Profeta Muhammad (570-632) __ “Que a Paz e as Bênçãos de Deus estejam sobre ele!” __ no Corão Sagrado, Surata Al ‘Ankabut (A Aranha): “(...) Cremos no que nos foi revelado, assim como no que vos foi revelado. Nosso Deus e vosso Deus é o mesmo. A Ele nos submetemos”.
Vem-me à lembrança estas palavras de Santa Teresa d’Ávila (1515-1582): “Procuremos, então, sempre olhar as virtudes e as coisas boas que virmos nos outros e tapar-lhes os defeitos com os nossos grandes pecados”.
Tudo evolui. Ontem os homens diziam, por exemplo, que a Terra era chata. Afirmava-se que o nosso planeta seria o centro do Universo. Por que, então, as religiões teriam de estacionar no tempo? Pelo contrário, Religião, quando sinônimo de Solidariedade e Misericórdia, tem de iluminar harmoniosamente a vanguarda de tudo: da Filosofia, da Ciência, da Política, da Arte, do Esporte, da Economia etc. É também por intermédio dela __ a Religião __ que Deus, que é Amor, nos manda os mais potentes raios da Sua Generosidade. Jesus, que é Um com o Pai, declarou: “Eu sou a Luz do mundo!” (Evangelho, segundo João, 8:12).
Vejam bem: Ele se proclamou a Luz do mundo, e não apenas de uma parte da sociedade humana. Daí o valor extraordinário da afirmativa de Zarur: “Religião, Ciência, Filosofia e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus”.
Bem a propósito, esta meditação do nada menos que cético Voltaire (1694-1778): “A tolerância é tão necessária na política como na religião. Só o orgulho é intolerante”.
Para amainar a frieza de coração
Ora, querer conservar esses ramos do saber universal confinados em departamentos estanques, em preconceituosa conflagração, tem sido a origem de muitos males que nos assolam, em especial tratando-se de Religião, entendida no mais alto sentido. É principalmente de sua área que deve provir o espírito solidário, que, faltando à Comunicação, à Ciência, à Filosofia, à Educação, à Economia, à Arte, ao Esporte, à Política e à própria Religião, resulta na frieza de sentimentos que vem caracterizando as relações humanas principalmente nestes últimos tempos.
Educação com Espiritualidade Ecumênica
A ausência de Solidariedade, de Fraternidade, de Generosidade tem suscitado grande defasagem entre progresso material e amadurecimento moral e espiritual. Daí o nosso fraterno alertamento: é hora de aplacar paixões. Entretanto, não haverá Paz enquanto persistirem cruéis discriminações e desníveis sociais criminosos, provocados pela ganância desmedida, que, por meio de eficiente Educação com Espiritualidade Ecumênica, devemos combater.
Progresso com Espiritualidade Ecumênica
Pela insistência na busca do progresso que menospreza o sentido da Espiritualidade Ecumênica, que é a relação interior das Almas com seu Criador Supremo, o ser humano condena-se à desumanidade permanente. Tal estado de anomalia geral é resultante da mentalidade belicosa, que gerações vêm preferindo, por exemplo, ao Novo Mandamento de Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mesmo Amor uns pelos outros. (...) O meu Mandamento é este: que vos ameis como Eu vos tenho amado. Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos. E vós sereis meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando. E Eu vos mando isto: amai-vos como Eu vos amei. Já não mais vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto aprendi com meu Pai vos tenho dado a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes; pelo contrário, fui Eu que vos escolhi e vos designei para que vades e deis bons frutos, de modo que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome Ele vos conceda. E isto Eu vos mando: que vos ameis como Eu vos tenho amado. Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor” (Evangelho de Jesus, segundo João, 13:34 e 35; e 15:12 a 17 e 9).
Se não optarmos por caminhos semelhantes, estaremos sentenciados à realidade denunciada pelo Gandhi (1869-1948): “A menos que as grandes nações abandonem seu desejo de exploração e o espírito de violência, do qual a guerra é a expressão natural e a bomba atômica, a consequência inevitável, não há esperança de paz no mundo”.
A solução está em Deus
Sempre um bom termo pode surgir quando os indivíduos nele lealmente se empenham. E isso tem feito com que a civilização, pelo menos o que andamos vendo por aí como tal, milagrosamente sobreviva aos seus piores tempos de loucura. A sabedoria do Talmud dá o seu recado prático: “A Paz é para o mundo o que o fermento é para a massa”.
Exato!
Há quem prefira referir-se ao espírito religioso exaltando desvios patológicos ocorridos no transcorrer dos milênios. (De modo algum incluo nestes comentários os historiadores e analistas de bom senso.) Creio que essa conduta beligerante, que manchou de sangue a História, urge ser distanciada de nossos corações, por força de atos justos, porquanto maiores são as razões que nos devem confraternizar do que as que servem para acirrar rancores. O ódio é arma voltada contra o peito de quem odeia. Muito oportuna, então, esta advertência do pastor Martin Luther King Jr. (1929-1968), que não negou a própria vida aos ideais que defendeu: “Aprendemos a voar como os pássaros e a nadar como os peixes, mas não a arte de conviver como irmãos”.
Por isso, volto a dizer: o milagre que Deus espera dos seres espirituais e humanos é que aprendam a amar-se, para que não ensandeçam de vez, como na pesquisa para o uso bélico da antimatéria.
O melhor altar para a veneração do Criador são Suas criaturas. Torna-se urgente que a humanidade tenha Humanidade.
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