Agenda global solidária
A Educação, a sustentabilidade e a Cidadania Planetária como alavancas do desenvolvimento social sustentável
A sustentabilidade firmada na Fraternidade Ecumênica é o tema deste artigo do diretor-presidente da Legião da Boa Vontade, o jornalista, radialista e escritor José de Paiva Netto, para a BOA VONTADE Desenvolvimento Sustentável, revista especial que a Instituição publicou, nos idiomas português, inglês, francês e espanhol. Na referida publicação, ele apresenta suas proposições relativas ao tema da Reunião de Alto Nível do Conselho Econômico e Social (Ecosoc) da Organização das Nações Unidas em 2016 - "Implementar a agenda de desenvolvimento pós-2015: transicionando compromissos a resultados" —, realizada de 18 a 22 de julho de 2016, na sede da ONU em Nova York, nos Estados Unidos. Em razão da relevância do teor da mensagem, julgamos oportuno reproduzi-la aqui.
Os editores
Minha saudação aos chefes de Estado, às delegações e a todos os participantes da Reunião de Alto Nível do Conselho Econômico e Social (Ecosoc) da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2016, que trata do importante tema “Implementar a agenda de desenvolvimento pós-2015: transicionando compromissos a resultados”. A partir desse enfoque pragmático, nossa contribuição aos debates só poderia ser quanto ao indispensável papel da Educação na conquista das arrojadas metas voltadas para o avanço e o bem-estar dos povos, pois, conforme tenho reiterado há algumas décadas, sem Educação e Instrução não existe progresso.
Considerando as resoluções da 66a Conferência do Departamento de Informação Pública (DPI, na sigla em inglês) das Nações Unidas, que ocorreu de 30 de maio a 1º de junho de 2016, em Gyeongju, na Coreia do Sul, com eixo no tópico “Educação para a Cidadania Global: Alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Juntos”, recorro a alguns improvisos meus a respeito de princípios da Pedagogia do Afeto e da Pedagogia do Cidadão Ecumênico*1. Ambas compõem a linha educacional que aplicamos, com sucesso, na rede de ensino da Legião da Boa Vontade (LBV) do Brasil e do exterior e nos programas socioeducacionais que ela realiza. Por meio dessa proposta pedagógica, à qual se alia um atendimento de excelência, proporcionamos benefícios concretos a milhões de pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade social assistidas pela Instituição. A LBV acumulou vasta experiência no campo socioeducacional no decurso de 66 anos de luta “por um Brasil melhor e por uma Humanidade mais feliz”, como bradava seu fundador, o jornalista, radialista e poeta Alziro Zarur (1914-1979).
Educação com Espiritualidade Ecumênica
No Manifesto da Boa Vontade (1991), escrevi que, intuitivamente, com sabedoria, assevera o próprio povo, seguido por eminentes pensadores, entre os quais o filósofo grego Teócrito (320-250 a.C.): “Enquanto há vida, há esperança”.
O roteiro mais acertado permanece na área da Educação com Espiritualidade Ecumênica, um passo à frente no terceiro milênio. Contudo, a insensibilidade de muitos foi a motivação deste expressivo repto do notável Martin Luther King Jr. (1929-1968): “Ao longo do caminho da História, uma das maiores tragédias do homem tem sido o seu limitado interesse pelo próximo, seja este tribo, raça, classe ou nação”.
Por isso, há que se orientarem os esforços mundiais, empregando-os na tarefa de resgate da grande parcela desfavorecida do planeta; colocando, assim, os valores da sociedade na devida ordem; e fazendo a marcha do desenvolvimento econômico dirigir-se em prol da criatura humana, porquanto o ser vivente é a geratriz do progresso, a despeito da tecnologia. Do contrário, os governos poderão desviar-se de seu propósito de governar para seus povos.
O velho Gandhi (1869-1948) concluiu que “uma civilização é julgada pelo tratamento que dispensa às minorias”.
E aí, na indiferença de muitos para com os demais, reside a sua fraqueza, se nada fizerem para mudar o rumo dos fatos, para o que é necessário igualmente que parem de culpar a Deus e os Seus preceitos pelos tropeços que dão. Atualíssimo, portanto, este aforismo do escritor latino Publilius Syrus (85-43 a.C.): “Tolo é aquele que afunda seus navios duas vezes e continua acusando o mar de culpado”.
Sustentabilidade firmada na Fraternidade Ecumênica e na Reeducação
Quanto à gestão dos recursos de que dispomos, o mundo inteiro fala em sustentabilidade. No entanto, essa condição está firmada em quê? Em geral, num pensamento econômico que sobrevive pela avidez. E vai liquidando os seres humanos não apenas por força do desemprego, da fome — em várias regiões de nosso orbe —, mas também pela carência de instrução. E esta, muitas vezes, nega melhor perspectiva à juventude e até a indivíduos na idade adulta. Não obstante, existe, por todo lado, o empenho de pessoas decididas a corrigir tal situação, que impede o crescimento sustentável de inúmeros países. E não basta instruir e educar. Faz-se imprescindível reeducar e ecumenicamente espiritualizar as nações, fazendo com que vejam além do intelecto.
A professora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira Anália Franco (1853-1919), que fundou setenta escolas, asilos para crianças órfãs, além de importante instituição de auxílio a mulheres, defendeu, em sua heroica trajetória, a necessidade premente de valer-se da educação como ferramenta sustentável de progresso e empoderamento das gentes: “A verdadeira caridade não é acolher o desprotegido, mas promover-lhe a capacidade de se libertar”.
Reitero que essa liberdade não virá apenas por intermédio do fomento do estudo técnico, pois não é suficientemente capaz de extirpar atos de barbárie, que continuam em escalada vertiginosa no mundo. Daí ser primordial iluminar os corações, passando-lhes o significado da Fraternidade, da Caridade, da Generosidade, da Honestidade, do Amor, da Justiça, da Verdade, e assim por diante. Zarur alertava que não basta “formar um bom médico, um bom advogado, um bom engenheiro, porque é necessário preparar-se um médico bom, um advogado bom, um engenheiro bom (...)”.
Com isso, pode-se notar que, em diversos lugares onde a economia se tornou mais forte, após certo tempo, por ausência de maior investimento nos princípios espirituais e éticos, a violência, que diminuíra, ressurge, advinda tantas vezes da indiferença aos que têm menos em suas fronteiras ou fora delas. Disso decorrem muitos conflitos internacionais. Por quê? Porque faltou não somente o ensino, todavia muito mais: a Reeducação, que é somar aos conteúdos formais a sabedoria universal da Alma.
Em entrevista que concedi, em 10 de outubro de 1981, ao saudoso jornalista italiano radicado no Brasil Paulo Rappoccio Parisi (1921-2016), manifestei-me sobre a basilar necessidade de unir ao raciocínio intelectual a sabedoria que se origina nos corações. Sim, porque também existe a inteligência do sentimento*2, da emoção e, sobretudo, a espiritual.
Preparação eficaz e Cidadania Planetária
Já que mencionei aqui a necessidade imperiosa de capacitar o coração e a mente*3 das novas gerações para o enfrentamento de uma realidade repleta de desafios, achei oportuno trazer-lhes este destaque de minha obra É Urgente Reeducar! (Editora Elevação, 2010):
O Espírito tem lugar preponderante na nossa lide. Entretanto, na preparação de jovens e adultos para a subsistência neste mundo material de tecnologia jamais vista — e, paradoxalmente nos dias de hoje, tão instável para os que labutam pelo futuro próprio —, devemos levar na mais alta consideração que os educandos têm de ser com eficiência qualificados para a exigente demanda do acirrado mercado atual de trabalho. E mais: de tal maneira que não persigam um caminho em que a profissão para a qual se aprontaram não mais exista ao fim do curso. É essencial, pois, receberem formação eficaz para que sejam arrojados, empreendedores, de modo que possam suplantar os acontecimentos supervenientes que, a qualquer instante, desafiam a sociedade, assustando multidões.
De nada adiantarão, portanto — digamos para argumentar —, planejamentos audaciosos se não houver quem tenha sido devidamente instruído para desenvolvê-los.
Por essa razão, urge ensinar a todos o significado da Cidadania do Espírito, sem o que conviver em sociedade será capenga. E isso só será corrigível com a promoção de uma consciência mais elevada, educando os povos integralmente, a partir dos princípios do Amor, da Cooperação, do Entendimento, da Verdade e da Justiça.
Acerca do relevante papel concernente aos atores políticos e sociais, bem como aos que acreditam nos nobres ideais inerentes à democracia, o pensador político e historiador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859), em sua obra A Democracia na América, fez a seguinte ponderação: “É necessário que todos aqueles que se interessam pelo futuro das sociedades democráticas se unam e que todos, de comum acordo, façam contínuos esforços para propagar no seio das sociedades o gosto pelo infinito, o sentimento do grandioso e o amor aos prazeres imateriais”.
A defesa pioneira da LBV por uma Cidadania Planetária visa ao desenvolvimento do potencial pleno das criaturas em todas as suas dimensões, ou seja, espírito-biopsicossocial. Logo, juntar cidadania política com a Cidadania do Espírito é propiciar o surgimento da Cidadania Planetária, Global, cujo alicerce é a Generosidade, a Solidariedade, tendo os valores espirituais como sustentáculo.
Novos tempos solidários globais
Nessa época, esperada por tantos missionários e ativistas valorosos, a Humanidade terá entendido que de nada adiantará ilustrar a mente se o coração for esquecido e que é delírio completo desejar o progresso da sociedade se os princípios da confiança e do respeito forem avis rara nas relações interpessoais. É necessário também engajar, com o Bem Universal, os corações.
Disse Jesus: “De que vale ao homem conquistar o mundo inteiro e perder a própria Alma? (Evangelho do Cristo, consoante Marcos, 8:36).
Fundamental e sábia reflexão do Rabi da Galileia, uma vez que não almejamos percorrer caminhos equivocados, que inevitavelmente resultarão em retrocesso, pois teremos, uma vez mais, menosprezado o conhecimento do Espírito — que não está jungido à religião ou à irreligião de quem quer que seja. Daí ser o lema da LBV, há tanto proclamado, promover Desenvolvimento Social, Solidário e Sustentável, Educação e Cultura, Arte e Esporte, com Espiritualidade Ecumênica, para que haja Consciência Socioambiental, Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos, no despertar do Cidadão Planetário.
E aqui reforço a expressão Espiritualidade Ecumênica, porquanto esta é o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno.
Ora, que as mais elevadas aspirações, que carregamos em nosso íntimo esclarecido, possam expandir os horizontes do pensamento e consigam com espírito de iniciativa e com criatividade enfrentar os graves desafios mundiais de nosso tempo, traduzindo-se em resultados efetivos que beneficiem toda a Humanidade, que, unida, insiste em sobreviver às mais borrascosas situações.
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*1 Pedagogia do Afeto e Pedagogia do Cidadão Ecumênico — Em sua obra É Urgente Reeducar! (2010), Paiva Netto expõe sua vanguardeira proposta pedagógica, que apresenta um modelo novo de aprendizado, tendo por base a Espiritualidade Ecumênica, aliando Coração e Intelecto. Tal linha educacional possui fundamentalmente dois segmentos: a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico. É aplicada com sucesso na rede de ensino e nos programas socioeducacionais desenvolvidos pela Legião da Boa Vontade (LBV). “Fundamenta-se nos valores oriundos do Amor Fraterno, trazido à Terra por diversos luminares, destacadamente Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista”, como ressalta o criador da proposta, o educador Paiva Netto. Na Pedagogia do Afeto, o enfoque é sobre as crianças de até 10 anos de idade, unindo sentimento ao desenvolvimento cognitivo delas, para que carinho e afeto façam parte de todo o conhecimento e dos ambientes de sua vida, inclusive o escolar. O diretor-presidente da LBV costuma afirmar: “A estabilidade do mundo começa no coração da criança”. Na continuidade do processo de aprendizagem, a Pedagogia do Cidadão Ecumênico é direcionada à educação de adolescentes e adultos, dispondo o indivíduo a viver a Cidadania Ecumênica, firmada no exercício pleno da Solidariedade Planetária.
*2 Inteligência do sentimento — Em matéria datada de 6 de março de 1997, depois de visitar o Centro Comunitário de Assistência Social Alziro Zarur, conhecido também como Templo da Criança e da Natureza, na cidade de Glorinha, Rio Grande do Sul, Léo Gerchmann, jornalista da Folha de S.Paulo, declarou: “Antes de a inteligência emocional tornar-se uma tendência pedagógica mundial, a LBV já tinha este parâmetro na Educação. Inteligência emocional é a potencialidade das pessoas para lidar com as suas emoções, diferentemente do QI (Quociente de Inteligência). ‘Nosso lema é educar, priorizar a Cultura, a Espiritualidade, a inteligência do cérebro e a do coração’, definiu o administrador do Lar, Humberto Cassuriaga. Em salas de aula para reforço escolar, as crianças recebem um complemento às aulas regulares delas, de acordo com suas deficiências”.
*3 Mente e Coração — Ao referir-se a esses termos, o autor explicou, em outras oportunidades, o uso que faz deles: “Falar em mente e coração dá-se pela necessidade de evidenciarmos um simbolismo essencial à clareza do que lhes apresento, de modo que estejam nitidamente expressas duas das condições mais importantes da Alma: pensar e sentir, ou, na ordem moral mais perfeita, sentir e pensar. Eu poderia expor que, sendo a mente o contato principal do Espírito com o corpo, nela estaria o centro do pensar e do sentir (amar)”.
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