Fernando, Portugal e Brasil
Em 30 de novembro, lembramos o falecimento de Fernando Pessoa (1888-1935). Por oportuno, apresento-lhes trecho de coluna que publiquei na Folha de S.Paulo, de 26 de junho de 1988, em homenagem ao célebre vate, reconhecido como “o mais universal poeta português”:
Quando esteve entre nós, foi praticamente desconhecido do público. Nunca teve proclamado o seu grande valor em vida. A duras penas deram-lhe o “Prêmio Antero de Quental”, Classe B, do Secretariado de Propaganda Nacional. Usaram de vários expedientes para negar-lhe o primeiro lugar. Mas a verdade surge, brilha sempre, e vai abrindo rasgos de luz nos tortuosos caminhos humanos. A vida da humanidade no mundo nunca foi fácil. Ela, porém, tem conseguido sobreviver. É bom que jamais nos esqueçamos disso. (...)
Portugal, “Jardim à beira-mar plantado”, em dado momento da História alargou as fronteiras do progresso pela Terra e tem, latente dentro de si, todo aquele tesouro de Fé e Esperança resumidas na grandeza destes versos de Fernando Pessoa em:
Prece
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá sopro, a aragem — ou desgraça ou ânsia —,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância —
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
e em:
Mar Português
Ó mar salgado, quanto de teu sal
são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Realmente, meu caro Pessoa, “tudo vale a pena, se a alma não é pequena”. O mar hoje são todos os povos da Terra à espera de mensagem de libertação da escravatura mental, que desgraça a humanidade. E como é grande e viva a alma de Portugal...
E o Brasil, com todo o fulgor da juventude, tem energia dadivosa, que muito bem fará ao mundo quando soar a hora plena de sua missão, de coração do mundo e pátria do Evangelho-Apocalipse. (...)
Ora, o terceiro milênio um dia não há de ser esta miséria de dores e guerras que marcaram os homens com o traço da animalidade, séculos e séculos de civilização de “lobos”.
Que quer a Legião da Boa Vontade com o seu Ecumenismo Total, que une Céu e Terra?
Justamente valorizar o Espírito Imortal do ser humano, seja qual for a sua nacionalidade, crença, descrença, ideologia, etnia: “O que em mim sente está pensando”, advertia Fernando.
Muito há que se falar sobre o assunto, porque imensamente ricos são os laços que unem duas pátrias historicamente irmãs, na construção do futuro, na grande tarefa de renovação espiritual do mundo: Portugal e Brasil.
Os comentários não representam a opinião deste site e são de responsabilidade exclusiva de seus autores. É negada a inserção de materiais impróprios que violem a moral, os bons costumes e/ou os direitos de terceiros. Saiba mais em Perguntas frequentes.