O Milênio das Mulheres

Fonte: Jornal O Sul, edição de 4 de março de 2008, terça-feira. | Atualizado em outubro de 2019.

Numa justa homenagem ao ente humano que dentre tantas virtudes possui o dom de trazer-nos à vida, separei trechos do meu livro O Capital de Deus (Editora Elevação). Antes de transcrevê-los, quero destacar que há muitas formas de ser mãe, como escrevi no Correio Braziliense, em 1987: mesmo quando não seja pela feição carnal, porquanto há outras sublimes maneiras de o ser, inclusive dar à luz grandes realizações em prol da humanidade. Espero que apreciem.

Christina Wocintechchat/Unsplash

É notável a sensibilidade feminina também para com os assuntos transcendentais. Mirando as perspectivas dos próximos anos, em que, por força do instinto de subsistir, as consciências poderão mostrar-se mais fecundas a tudo o que diz respeito à ascensão espiritual e moral, convidei os que me privilegiaram com seu apreço — nas diversas oportunidades em que me dirigi à plateia, nos dias 30 e 31/12/1999, no Templo da Boa Vontade, na sede do ParlaMundi da LBV e na Praça Alziro Zarur*1, em Brasília/DF, Brasil — a dar boas-vindas ao Milênio das Mulheres.

heloneida.com.br

Heloneida Studart

Com atenção assisti, àquela altura, à entrevista concedida à Boa Vontade TV pela saudosa escritora Heloneida Studart (1932-2007), que dissertou sobre o relevante papel que elas vêm assumindo no âmbito da melhoria da qualidade de vida:

“O feminismo tem sido sempre o mesmo, mas enriquecido de novas reivindicações. Existe uma ala dele, principalmente no Primeiro Mundo, que agora está engajada na luta contra a pobreza, um fenômeno crescente, ao contrário do que se podia antes imaginar, que atinge, de maneira muito dura e cruel, as mulheres, muito mais do que os homens. Elas trabalham em casa e fora de casa e têm de assistir, de viva voz, olho no olho, todas as carências de sua família (...). Fica cuidando do filho doente que não tem remédio, preocupa-se por não poder dar vitamina às crianças e não ter como comprar frutas, vê mais vezes a conta da luz que está atrasada...

“A ONU tem uma estatística mostrando que a mulher pobre trabalha mais que o homem, porque atua em várias frentes: no lar, na rua, na empresa, enfim, estão ativas em grande quantidade de tempo por dia. Em geral, quando saem para o emprego, já têm duas ou três horas de serviço executadas no próprio lar e, ao voltarem para casa, ainda têm tarefas a cumprir. O aumento dos espaços de lazer para elas, com a diminuição da carga trabalhista, é uma reivindicação do chamado novo feminismo”.

Touché, cara Heloneida.

A mulher e a estabilidade do mundo

Não há como impedir — consoante ainda hoje alguns de forma simulada gostariam — a destacada e frutífera participação delas nos vários setores da sociedade para que o progresso alcance pleno êxito em magnífica cruzada de resgate da cidadania, conforme o exposto pela dra. Heloneida. Adesão que naturalmente inclui os que gerenciam as ações político-governamentais, em que é essencial o alento renovador da Espiritualidade Ecumênica, sem o que a eficiência permanecerá aquém dos anseios populares.

A mulher, o lado mais formoso da humanidade, singulariza o alicerce de todas as grandes realizações. Aquilo que fisicamente nos constitui é gerado em seu ventre. Componentes do gênero feminino se traduzem em elemento preponderante para a sobrevivência das boas causas. Organizações estáveis contam com mulheres estáveis. O meu fito aqui é ressaltar quanto é primacial para a evolução humana e a segurança do mundo a missão da mulher (...).

Nossos primeiros passos no desenvolvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzir pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV vanguardeiramente aplicamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico*2.

Há muito que aprender com o próximo

Arquivo BV

Alziro Zarur

Em Globalização do Amor Fraterno*3, mensagem endereçada à ONU, em 2007, ponderei: Nunca como agora se fez tão indispensável unir os esforços de ambientalistas e seus detratores, como também de trabalhadores, empresários, economistas, o pessoal da mídia, sindicalistas, políticos, militares, advogados, cientistas, religiosos, céticos, ateus, filósofos, sociólogos, antropólogos, artistas, esportistas, professores, médicos, estudantes (ou não, bem que gostaríamos que todos se encontrassem nos bancos escolares), donas de casa, chefes de família, barbeiros, manicures, taxistas, varredores de rua e demais segmentos da sociedade, na luta contra a fome e pela conservação da vida no planeta. O assunto tornou-se dramático, e suas perspectivas, trágicas. Pelos mesmos motivos, urge o fortalecimento de um ecumenismo que supere barreiras, aplaque ódios, promova a troca de experiências que instiguem a criatividade global, corroborando o valor da cooperação sócio-humanitária das parcerias, como, por exemplo, nas cooperativas populares em que as mulheres têm forte desempenho, destacado o fato de que são frontalmente contra o desperdício. Há muito que aprender uns com os outros. O roteiro diverso comprovadamente é o da violência, da brutalidade, das guerras, que invadiram lares em todo o orbe. Alziro Zarur (1914-1979) enfatizava que as batalhas pelo Bem exigem denodo. Simone de Beauvoir (1908-1986), escritora, filósofa e feminista francesa, acertou ao destacar: “Todo êxito encobre uma abdicação”.

Reprodução BV

Simone de Beauvoir

Resumindo: cada vez que suplantarmos arrogância e preconceito, existirá sempre o que absorver de justo e bom dos componentes desta ampla “Arca de Noé”, que é o mundo globalizado de hoje.

O milagre das donas de casa

Divulgação

Mohammad Ali Jinnah

Não há melhor financista do que a mãe de família, a dona de casa, que tem de cuidar do seu muitas vezes minúsculo orçamento, realizando verdadeiros milagres, dos quais somos todos testemunhas, desde o mais influente ministro da Fazenda ao cidadão mais simples. Sobretudo no campo da Economia, que não pode ser pega no grave crime de esquecer o espírito de Solidariedade, a ação da Mulher é basilar. Mohammad Ali Jinnah (1876-1948), jurista e político, fundador do Paquistão, em discurso que fez em 1944 na Muslim University Union, salientou: “Nenhuma nação poderá surgir à altura de sua glória, a menos que as mulheres estejam lado a lado com os governos”.

A Alma da Humanidade

Para finalizar, apresento-lhes um pequeno trecho de outra página — “A mulher no conSerto*4 das nações” — que igualmente enviei à ONU, em nova oportunidade, e que foi traduzida por ela em seus seis idiomas oficiais, por ocasião da 51a Sessão da Comissão sobre o Status da Mulher, em 2007, na sede das Nações Unidas, em Nova York. O evento sempre tem a presença da LBV, que leva a sua palavra de Paz às delegações do mundo, como ocorreu novamente este ano:

O papel da mulher é tão importante, que, mesmo com todas as obstruções da cultura machista, nenhuma organização que queira sobreviver — seja ela religiosa, política, filosófica, científica, empresarial ou familiar — pode abrir mão de seu apoio. Ora, a mulher, bafejada pelo Sopro Divino, é a Alma de tudo, é a Alma da humanidade, é a boa raiz, a base das civilizações, a defesa da existência humana. Qual mãe deseja ver seu filho morto na guerra? Ai de nós, os homens, se não fossem as mulheres esclarecidas, inspiradas, iluminadas!

Divulgação

Charles McIver

Essas nossas afirmativas encontram ressonância nas do educador norte-americano Charles McIver (1860-1906), que dizia: “O caminho mais econômico, fácil e certo para a educação universal é educar as mulheres, aquelas que se tornarão as mães e professoras de gerações futuras”.

Verdade seja dita, homem algum pouco realiza de verdadeiramente proveitoso em favor da Paz se não contar, de uma forma ou de outra, com a inspiração feminina. Realmente, pois, “se você educar um homem, educa um indivíduo; mas se educar uma mulher, educa uma família”. Exato, McIver.

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Notas dos editores

*1 Praça Alziro Zarur — Iniciativa de Paiva Netto que contou com a colaboração do Casal Legionário Noys e Haroldo Rocha, atualmente em Portugal.

*2 Pedagogia do Afeto e Pedagogia do Cidadão Ecumênico — Trata-se da proposta pedagógica preconizada por Paiva Netto, que propõe um modelo novo de aprendizado, aliando Cérebro e Coração. Essa linha educacional é aplicada com sucesso na rede de ensino e nos programas socioeducacionais desenvolvidos pela Legião da Boa Vontade, no Brasil e no exterior. “Fundamenta-se nos valores oriundos do Amor Fraterno, trazido à Terra por diversos luminares, destacadamente Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista”, como afirma o criador da proposta, o educador Paiva Netto. Na Pedagogia do Afeto, o enfoque é sobre as crianças de até 10 anos de idade, unindo sentimento ao desenvolvimento cognitivo dos pequeninos, de forma que carinho e afeto permeiem todo o conhecimento e os ambientes de suas vidas, incluído o escolar. Na continuidade do processo de aprendizagem, a Pedagogia do Cidadão Ecumênico é direcionada à educação de adolescentes e adultos, dispondo o indivíduo a viver a Cidadania Ecumênica, firmada no exercício pleno da Solidariedade Planetária.

*3 Globalização do Amor Fraterno — Publicada em português, francês, inglês, espanhol, italiano, alemão e esperanto, a revista foi especialmente encaminhada por Paiva Netto à reunião do High-Level Segment 2007, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc) — no qual a LBV possui status consultivo geral — realizada no Palais des Nations, escritório central da ONU em Genebra (Suíça). Logo após a sessão de abertura, o à época secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-moon, visitou o estande da LBV e ali registrou sua presença e seu apoio ao assinar a capa da revista Globalização do Amor Fraterno, ratificando votos de muito sucesso para todas as ações empreendidas pela Legião da Boa Vontade.

*4 A mulher no conserto das nações — Na língua portuguesa, em linhas gerais, concerto (com cê) significa espetáculo musical, acordo (inclusive político), harmonia. Já conserto (com esse) quer dizer reforma, reparo, restauro. Daí Paiva Netto, no início deste seu documento, ter explicado: “Antes de tudo, devo esclarecê-los sobre a palavra ‘conSerto’ grafada com ‘S’ no título deste artigo. Não se trata de erro ou distração no emprego do vocábulo em português. É ‘conSerto’ mesmo, porquanto, da forma que se encontra o mundo a pré-abrasar-se com o aquecimento global, é melhor que os gêneros confraternizem, unam forças e realizem o conSerto urgente do que ameaça se quebrar, porque, do contrário, poderemos acabar nuclear ou climaticamente cozidos numa panela fenomenal: o planeta que habitamos. (...) Isto sem falar no ameaçador bioterrorismo”.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.