Mulheres e tecnologia em prol da Paz
Uma iniciativa já nasce vitoriosa quando tem o apoio e a decisiva atuação das mulheres. Se espiritualmente iluminadas pelo propósito de melhorar as condições de vida dos cidadãos, a partir do justo e fraterno convívio entre eles, nada lhes é impossível.
Confiante nessa realidade, saúdo os chefes de Estado e de governo e os representantes das agências internacionais, do setor privado e da sociedade civil presentes à 62a sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW, na sigla em inglês), que a Organização das Nações Unidas (ONU) promove em 2018. É primordial dar o merecido destaque ao tema de revisão do evento, “Acesso e participação da mulher na mídia, impactos e uso das tecnologias da informação e da comunicação como um instrumento para o avanço e o empoderamento da mulher”.
Todos os participantes deste relevante encontro poderão conhecer, por meio das páginas desta revista, um pouco sobre a indispensável aliança entre o protagonismo feminino e a utilização da tecnologia no trabalho socioeducacional e de comunicação da Legião da Boa Vontade (LBV). Trata-se de exercício diário e dinâmico, que objetiva colaborar para reduzir o impacto negativo provocado pelas desigualdades sociais. Esse lamentável cenário exaure as energias e o empenho dos habitantes de qualquer país.
Meu apreço, portanto, aos que oferecem essencial contribuição em mais este evento, que, além de defender os direitos das mulheres, valoriza a ação delas no enfrentamento dos imensos desafios contemporâneos.
Plataforma de Paz para o mundo
Sempre é oportuno ressaltar que a busca pela Paz mundial e pela efetiva aplicação dos direitos humanos constitui gigantesca empreitada, que deve permanecer como prioridade em nossos esforços, incluído o emprego da tecnologia para aumentar a consciência de que atos bélicos não trazem proveito a nenhuma nação. Não faltam trágicos exemplos na história da jornada do ser humano na Terra. É consenso que não há vencedores em uma guerra. O resultado dela são graves danos espirituais, emocionais, psicológicos e materiais; enfim, sofrimentos incalculáveis, prejuízo cruel, no qual os primeiros afetados são as mulheres e as crianças. Também não podemos fechar os olhos para os horrendos estupros, que ainda flagelam a sociedade, nos territórios conflagrados ou não; as brutais “limpezas” étnicas; os hediondos crimes do racismo e do trabalho escravo; e outras inúmeras atrocidades.
E, para impedir tanto infortúnio, não podemos abrir mão de incentivar mais o lado bom que todos possuem e de “acreditar profundamente”, como recomenda a aplaudida escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, “na capacidade dos seres humanos de evoluir”.
Átomos de concórdia
Nobel de Física de 1965, o norte-americano Richard Feynman (1918-1988) certa vez indagou:
— Se, em algum cataclismo, todo o conhecimento científico fosse destruído e apenas uma frase fosse transmitida para as próximas gerações de criaturas, que afirmação conteria mais informações em menos palavras?
Ele mesmo elaborou uma resposta:
— Acredito que seja a hipótese atômica (ou o fato atômico, ou como quiser chamá-lo) de que todas as coisas se compõem de átomos — pequenas partículas que se deslocam em movimento perpétuo, atraindo umas às outras quando estão a certa distância, mas se repelindo quando comprimidas umas contra as outras. Nessa única sentença, você verá, existe uma enorme quantidade de informação sobre o mundo, bastando que apliquemos um pouco de imaginação e raciocínio.
De fato, o átomo carrega em si grande quantidade de dados e muito avanço para o orbe terrestre. Todavia, meu caro Feynman — que continua vivo, pois os mortos não morrem —, para este mundo, até agora vil, há uma palavra que agrega ainda mais informações acerca dos Universos e instaura a permanente harmonia na existência deles, de modo que não busquem a própria destruição: o Amor.
E vejam que ironia: hoje, estamos diante de um quadro em que o mau uso do conhecimento sobre o átomo, isto é, um saber sem o Amor Fraterno, pode levar-nos exatamente a um cataclismo nuclear sem precedentes. Esse descompasso de um saber sem alma foi evidenciado pela revista A Recreativa, de Poços de Caldas/MG, no Brasil, que registrou a seguinte nota, em outubro de 1987:
— Enciclopédias — Um jornal inglês observou que, na primeira edição de uma conhecida enciclopédia, publicada no ano de 1768, o vocábulo “átomo” era explicado em quatro linhas, enquanto à palavra “Amor” eram dedicadas cinco páginas inteiras. Na última edição da mesma enciclopédia, a definição de “átomo” ocupa cinco páginas, e o vocábulo “Amor” nem sequer é mencionado.
Isso revela muito sobre os rumos do saber humano e das tecnologias que dele derivam e acerca dos desequilíbrios em diferentes setores da sociedade. Que tal clarear o importante conhecimento material com as luzes divinas do Amor Fraterno, estrada segura a conduzir a humanidade pelos tempos difíceis que ela vem construindo para si mesma? Enquanto alguns buscam extrair do átomo seu impacto bélico, proponho refletirmos a respeito de texto que publiquei em meu livro Tesouros da Alma (2017), intitulado “Átomos de concórdia”. Nele argumento que amar de Alma pura é uma Lei e que, se soubermos vivê-la dignamente, nos elevaremos, renovando tudo à nossa volta. É semelhante a uma explosão de átomos de concórdia, iluminação que ocorrerá, passo a passo, à medida do nosso amadurecimento. Por isso, educar com Espiritualidade Ecumênica é transformar — e que seja naturalmente para melhor. Reformada a criatura, restaurado estará o planeta. Contudo, sabemos muito bem que tamanho sucesso não se dá de uma hora para outra. Alguns milênios são insignificantes em cálculo histórico espiritual. A maturação das mentes requer esforço, paciência... Descressem os que nos antecederam da realidade da vitória à frente do caminho, onde estaríamos? A Esperança não morre nunca! Ela é fundamental. A nossa Esperança, a qual sugerimos aos corações de Boa Vontade, é o Jesus Ecumênico, que nos oferece esta mensagem de Paz:
— Novo Mandamento vos dou: amai-vos como Eu vos amei. (...) Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos (Evangelho, segundo as anotações de João, 13:34 e 15:13).
Com Ele, podemos aprender que o Amor Universal não é um sonho irrealizável.
Web, Educação e poder
Em minha coluna no Jornal de Brasília, da capital federal do Brasil, datada de 3 de março de 2015, escrevi que não é surpresa o fato de a internet se ter transformado em ferramenta imprescindível em nossa rotina. Ao ser acessada, vêm abaixo fronteiras antes intransponíveis à maioria da população. Entretanto, tenho frequentemente asseverado — também para o bom uso do meio cibernético — que Educação é poder. Sem o devido ensino, aliado aos valores da Espiritualidade Ecumênica, o manuseio desse influente recurso pode ser desastroso. Por isso, urge intensificar eficientes práticas de orientação, desde a infância, a fim de que esse progresso extraordinário não se volte contra os próprios usuários e não seja, por consequência, em detrimento da comunidade inteira.
Ciência, tecnologia e diferencial feminino
A ilustre educadora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira Anália Franco (1853-1919), forte defensora do direito à educação das mulheres e meninas, declarou:
— É uma necessidade da sociedade recuperar com vantagem o benefício que a humanidade perdeu. Temos muita fé nos esforços da mente humana em prol da educação da mocidade, único meio para a regeneração futura. Não é só desbastando as inteligências que se reformarão as gerações; é preciso penetrar no sentimento e fortificar o coração.
Aliás, Anália Franco rompeu barreiras, valendo-se do espírito associativo, para proporcionar abrigo, instrução e acesso ao trabalho digno aos deserdados da sorte. Instituiu uma importante rede de proteção à mulher e a órfãos. Na defesa da mulher, protagonizou, com O Álbum das Meninas — revista literária e educativa lançada por ela, em 30 de abril de 1898 —, a difusão de ideias de liberdade e de igualdade de gênero, de ingresso da mulher nos ensinos básico e profissional e de sua consequente participação efetiva no mercado de trabalho, de seu destacado papel como guardiã e gestora da educação das novas gerações, além do conceito de empoderamento feminino para a necessária mudança na sociedade de seu tempo.
Madame Curie (1867-1934), notável cientista polonesa, primeira mulher a receber o Prêmio Nobel e única personalidade a conquistá-lo em áreas científicas diferentes (Nobel de Física de 1903 e de Química de 1911), foi reconhecida não só pelos esforços e sacrifícios incontáveis em favor do progresso científico, na pioneira pesquisa sobre radioatividade, que lhe custou a própria vida. Quando de seu falecimento, o jornal The New York Times denominou-a “mártir da Ciência” que “contribuiu mais para o bem-estar da Humanidade”. O Nobel de Física de 1923, Robert Millikan (1868-1953), à época presidente do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech, na sigla em inglês), em nota acrescentou:
— Apesar de constantemente absorvida pelo seu trabalho científico, ela devotou muito do seu tempo à causa da Paz.
Essa brilhante mulher, de cujas descobertas surgiram significativas tecnologias para o campo da Medicina, do alto de sua perseverança e espírito humanitário concluiu:
— Jamais devemos sonhar em construir um mundo melhor sem o aperfeiçoamento dos indivíduos. Para esse fim, cada um de nós precisa trabalhar pelo próprio progresso e, ao mesmo tempo, compartilhar a responsabilidade geral por toda a humanidade. (O destaque é meu.)
Calar as sinistras vozes das armas
Com a força educativa das mulheres e das mães, utilizemos os recursos tecnológicos disponíveis e os que serão ainda criados pela audácia humana para persistir trabalhando no caminho da Paz e da Justiça.
Em Reflexões da Alma (2003), afirmei que, se não desistirmos de lutar pelo Bem, haverá um dia em que as armas terão, por fim, suas sinistras vozes caladas. Neste milênio, que considero o das mulheres, mesmo que demore, os seres humanos entenderão que a essência do poder não se encontra egoisticamente neles próprios, mas, sim, no espírito de Solidariedade, que a todos deve irmanar. Resta muito a ser feito. As futuras gerações esperam de nós atitudes mais ousadas. Se é difícil essa empreitada, comecemos ontem!
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