Crime do desperdício

Fonte: Jornal A Tribuna Regional, de Santo Ângelo/RS, edição de 10 de abril de 2015, sexta-feira. | Atualizado em dezembro de 2023.

Urge impedir o desperdício. É providência sensata, humanitária, em todas as áreas e das mais diferentes classes sociais. É um crime, por exemplo, deixar estragar alimentos, quando milhões de pessoas ainda passam fome.

Arquivo
José Gonçalo

Dr. Alan Bojanic

O dr. Alan Bojanic chamou a atenção para esse fato em entrevista ao programa Biosfera, da Boa Vontade TV (Oi TV — Canal 212 — e Net Brasil/Claro TV — Canais 196 e 696). Engenheiro agrônomo boliviano, ele é representante da FAO no Brasil:

“A FAO fez um estudo amplo para ver a porcentagem de perdas de alimentos no mundo. Temos uma cifra que é muito — vamos dizer — dolorosa! Depois que o produto é coletado, até chegar ao consumidor, e mesmo na casa dos consumidores, temos perdas muito altas. É quase um terço de toda a produção mundial que vai — se pode dizer — para o lixo. Uma produção muito importante, que tem implicações de todo tipo, em primeiro lugar, humanitárias, porque é comida que poderia ser dada para muitas pessoas carentes. É um absurdo ambiental, pois muita energia foi gasta na produção. E também tem a ver com a ineficiência econômica. Então, é um absurdo humanitário, ambiental e econômico-financeiro”.

Em O Capital de Deus, livro que estou preparando, comento uma passagem evangélica, que nos traz instrutiva lição.

Conhecedor dos Soberanos Estatutos da Economia de Deus, ainda ignorados pelos seres humanos, Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, pôde realizar o milagre da multiplicação de peixes e pães, conforme o relato de Mateus, 14:13 a 21.

A primeira multiplicação de pães e peixes

Tela: Giovanni Lanfranco (1582-1647)

Detalhe da obra: Milagre do pão e dos peixes.

"13 Jesus, ouvindo que João Batista fora decapitado por ordem de Herodes, retirou-se dali num barco, para um lugar deserto, à parte. Sabendo disso, as massas populares vieram das cidades, seguindo-O por terra.

“14 Desembarcando, Ele viu uma grande multidão. Compadeceu-se dela e curou os seus enfermos.

“15 Ao cair da tarde, aproximando-se Dele, os discípulos Lhe disseram: Senhor, o lugar é deserto, e vai adiantada a hora. Despede, pois, esse povo para que, indo pelas aldeias, compre para si o que comer.

“16 Jesus, porém, lhes disse: Não precisam retirar-se; dai-lhes, vós mesmos, o alimento.

“17 Ao que Lhe responderam: Senhor, não temos aqui senão cinco pães e dois peixinhos!

“18 Então, o Mestre ordenou-lhes: Trazei-os a mim.

“19 E, tendo mandado que todos se assentassem sobre a relva, tomando os cinco pães e os dois peixinhos, erguendo os olhos ao Céu, os abençoou. Depois, havendo partido os pães, deu-os aos discípulos, e estes, às multidões.

“20 Todos comeram e se fartaram. E, dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos repletos.

“21 E os que comeram foram cerca de cinco mil homens, além de mulheres e crianças”.

Além disso, não nos esqueçamos do que o Divino Benfeitor nos ensinou a respeito da capacidade pessoal de cada ser humano, ao dizer: “Vós sois deuses. Eu voltarei ao Pai, vós ficareis aqui na Terra, portanto, podereis fazer muito mais do que Eu” (Evangelho, segundo João, 10:34 e 14:12).

Reprodução BV

Confúcio

A quem, talvez por ócio, analisando o trecho anterior, argumentasse que Jesus é um caso especial e, por isso, não há parâmetros para se comparar a nossa competência à Dele, divinamente superior. Poderíamos, contudo, considerar que não seria necessário subirmos a tamanha grandeza, bastando que os que têm posses deixassem de desperdiçar tanto. Seria um passo. Sim, mas um passo considerável. Como observou Confúcio (551-479 a.C.): “Transportai um punhado de terra todos os dias e fareis uma montanha”.

Destaquemos que, no versículo 20 do capítulo 14, o Evangelista Mateus revela: “Todos comeram e se fartaram. E, dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos repletos”.

Quer dizer, não jogaram fora o que lhes sobejou. As apreciáveis porções haveriam de, em nova oportunidade, beneficiar aquela gente ou outra. Costumo dizer que a migalha de hoje é a farta refeição de amanhã. Reflitamos sobre isso.

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.