Ciência e Fé na trilha do equilíbrio (II)
Além do saber convencional
O célebre enunciador da Teoria da Relatividade, que costumava advertir que “Deus não joga dados com o Universo”, não escondia sua aptidão para a necessidade de libertar a mente, de forma que ela possa alçar voos infinitamente mais altos: “Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio e eis que a verdade se me revela”.
Ora, os silêncios de Einstein foram de suprema valia para a evolução da humanidade.
A Voz do Silêncio
Alziro Zarur (1914-1979), velho conhecedor das coisas espirituais, compreendia bastante a eloquência inspiradora do Silêncio:
“Nas mais Altas Esferas, ouvimos: ‘Aqueles que entraram no Silêncio sentiram sua Paz e receberam sua Força’. Este ensinamento é um ponto iniciático. Quem não tem Silêncio não pode sentir a Paz.
“Saber entrar no Silêncio é a capacidade de se isolar e de se integrar no Todo-Poderoso. (...)
“Quando entra no Silêncio, você ouve a voz de Deus e dialoga com Ele. Quem entra no Silêncio penetra no Espírito de Deus e por Ele é sublimado. Tudo o que aprendemos de eterno vem desse Silêncio. As nossas mais lindas frases foram confidenciadas por Ele. Ele nos segredou esses ensinamentos.
“Antes, o discípulo ia para o deserto. Hoje, para nos prepararmos espiritualmente, não precisamos ir ao Saara: entramos no Silêncio (...). Eis por que vocês têm de nele ingressar, para sentirem a sua Paz e receberem a sua Força”.
A vanguarda de uma Ciência que elevará o ser humano a raciocínios hoje inconcebíveis para a maioria, volta o seu olhar para a Espiritualidade.
Mesmo que ainda muitos não creiam ou não compreendam, o fato é que o conhecimento humano caminha nessa direção.
O Espírito em todas as coisas
Frei Betto, um dos maiores intelectuais deste país, em Mística e Espiritualidade (1994), tece esta consideração: “A humanidade começa a entrar, do ponto de vista científico, numa nova visão da realidade, do que seja a matéria, do que sejam o macro e o micro”.
Ainda na mesma obra, o respeitado teólogo, professor e escritor Leonardo Boff comenta: “Como a Bíblia afirma: o Espírito se move em todas as coisas, em tudo penetra, recria a face da Terra. Espiritualidade é captar esse movimento do mundo, o seu dinamismo, a presença do Espírito nas coisas todas”.
Além da Vida
No livro Para Além da Morte (1980), de Isola Pisani, encontramos esta ilustrativa consideração de um renomado professor de Física em Yale, dr. Henry Margenau (1901-1997): “Perto do fim do último século, considerou-se que todas as interações implicam objetos materiais. Hoje já não se crê nisso. As interações mecânicas quânticas dos campos físicos “psi” (é interessante e talvez curioso notar que o “psi” do físico tem em comum com o do parapsicólogo um certo caráter de abstração e de vácuo) são totalmente não materiais, e, no entanto, elas são descritas pelas equações mais importantes, fundamentais da mecânica atual dos quanta...”
Na mesma instigante publicação de Isola Pisani, destaque para este trecho do “Capítulo III — Pesquisas”:
“(...) Mas as pesquisas sobre os seres e sobre o seu universo continuam. Ainda há muito a aprender. (...)
“Os métodos experimentais de investigação foram de um contributo considerável no estudo ‘vida-morte’. A abordagem permanece, no entanto, nos nossos países de cultura europeia, essencialmente metafísica, psíquica e psicológica.
“Uma pesquisa paralela desenvolveu-se nos países do Leste, depois da Segunda Guerra Mundial. O seu passo, retomado pelos investigadores americanos, está muito mais desenvolvido do que o materialismo cartesiano poderia conceber. O materialismo cartesiano nega ou recusa. O materialismo marxista estuda.(...)
“Santo Agostinho (354-430) já tinha pensado que o milagre era, talvez, somente a manifestação de uma força mal conhecida; Avicena também o tinha igualmente considerado; assim, o católico e o muçulmano encontram-se reunidos como precursores das correntes mais avançadas do nosso tempo.
“Esta força do Espírito, segundo os investigadores da vanguarda Este-Oeste, é indissociável do princípio de energia vital. Conseguiram eles isolá-la dos diferentes fenômenos-forças conhecidos (magnéticos, electromagnéticos, termodinâmicos, etc.)? Distinguiram verdadeiramente a energia-vida-consciência dos outros campos de força? Discerniram, além disso, as propriedades e especialmente a eternidade?
“Um conceituado professor de filosofia marxista que interroguei, porque estava curiosa acerca da sua opinião quanto à vida depois da morte, respondeu-me: ‘Logo que os fatos estabelecerem indiscutivelmente a perenidade da vida individual para além da morte, nós, marxistas, adaptaremos a nossa visão de mundo e a modificaremos, estamos prontos para isso’.
“É preciso ser rigorosamente honesto: sim, a energia vital é uma energia específica; específica na sua essência, ela aparece também pessoal em cada ser animal, vegetal, celular.
“Estas últimas verificações são controversas. As interpretações contraditórias assentam, como habitualmente, sobre o número de sábios e de laboratórios que ‘observaram’, sobre a repetição das observações e sobre o rigor científico das análises, das técnicas e do material utilizado.
“Mas, fora querelas, o rigor é adquirido: esta energia vital escapa às leis físicas elementares; ela não está prisioneira de uma forma física”. (...)
A Religião intui e a Ciência demonstra
No livro Apocalipse sem Medo (2000)*1, capítulo “O Hubble e o Além”, reproduzi trecho que apresentei na Folha de S.Paulo, em 1987, mostrando que um dos maiores estorvos para o grande amplexo entre Religião e Ciência, que são irmãs, é a continuação, no palco do saber, do deus antropomórfico, caricato, que não prejudica somente o laboratório, como também o altar.
Singela Contribuição
O I Fórum Mundial Espírito e Ciência, singela contribuição da LBV ao grande abraço que a humanidade, esperançosa, aguarda ver definitivamente consumar-se entre a Intuição e o Pensamento Racional, desenrola-se dentro deste juízo: O que a Religião intui a Ciência um dia comprovará em laboratório. Ciência sem Religião pode tornar-se secura de Alma. Religião sem Ciência pode descambar para o fanatismo. Por isso, na época ideal que todos desejamos ver surgir no horizonte da História, a Ciência (cérebro, mente), iluminada pelo Amor (Religião, coração fraterno), elevará o ser humano à conquista da Verdade.
Como noticiou o repórter Claudio Eli, na Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro, de 14 e 15 de outubro de 2000: “Os debates girarão em torno da veracidade e da comprovação dos fenômenos espirituais perante a Ciência, a Física e a Religião”.
Muitos outros componentes da mídia manifestaram-se a respeito do acontecimento. Desde já, nossos agradecimentos.
Fala von Braun
Werner von Braun (1912-1977) fotografa a realidade que desejamos projetar neste Fórum em que a elegância da exposição do pensamento será a característica marcante: “A Ciência e a Religião não são antagônicas, mas irmãs. Ambas procuram a verdade derradeira”.
O mesmo faz a filosofia, na definição de Blaise Pascal (1625-1662), filósofo, físico e matemático: “Só a verdade oferece segurança; só a busca sincera da verdade concede repouso”.
A carta de Galileu
Por sinal, a manifestação do engenheiro germânico, naturalizado norte-americano, que também foi diretor do Centro Marshall de Vôos Espaciais (EUA), e a do filósofo francês vêm ao encontro das palavras de Sua Santidade o papa João Paulo II, em sua Encíclica Fides et Ratio, de 14/9/1998:
“Galileu (1564-1642) declarou explicitamente que as duas verdades, de Fé e de Ciência, não podem nunca contradizer-se, “procedendo igualmente do Verbo Divino a Escritura Santa e a Natureza, a primeira como ditada pelo Espírito Santo, a segunda como executora fidelíssima das ordens de Deus”, segundo ele escreveu na sua carta ao padre Benedetto Castelli, a 21 de dezembro de 1613. O Concílio Vaticano II não se exprime diferentemente; retoma mesmo expressões semelhantes, quando ensina: “A investigação metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo (...) segundo as normas morais, nunca será realmente oposta à Fé, já que as realidades profanas e as da Fé têm origem no mesmo Deus”. (Gaudium et spes, 36). Galileu manifesta, na sua investigação científica, a presença do Criador que o estimula, que se antecipa às suas intuições e as ajuda, operando no mais profundo do seu Espírito”.
A procura da solução
Atravessamos mais uma era de angústia e mesmo há aqueles que pensam que jamais serão encontradas as soluções suficientes para os problemas que afligem a sociedade mundial. Homens do gabarito de um Edgar Morin (autor de vários livros sobre Política, Sociologia e Ciências Humanas, Diretor de Pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique de France) expõem a sua tristeza abertamente*2, como ele o fez no Magazin Littéraire, de julho/agosto de 1993:
Fim das certezas?!
“Entramos numa época em que as certezas se desfazem. O mundo está numa etapa particularmente incerta, porque já não segue pelas grandes bifurcações históricas. Não se sabe para onde vai. Não se sabe se haverá grandes regressões, se se desenvolverão guerras em cadeia. Não se sabe se o processo civilizador conduzirá a uma situação planetária mais ou menos cooperativa. O futuro é muito incerto.”
Com todo o respeito ao professor Morin, exponho o que escrevi no livro O Capital de Deus, capítulo:
Cadê o chão?!
Encontramo-nos diante de uma realidade planetária forjada por múltiplos interesses, que nem sempre têm o bem-estar do povo como meta. Direita, Mercado soberano; Esquerda, Estado centralizador; Centro, de quê?
No entanto (...), um fato marcante está ocorrendo: parâmetros antigos para quase nada mais utilizados; novos paradigmas, ninguém sabe bem ainda quais são.
Por quê?! Lord Keynes*3 (1883-1946) tem uma boa resposta: “A dificuldade não está nas ideias novas, mas em nos livrarmos das antigas”.
As universidades surgiram na Idade Média
Já houve (ou ainda há) quem considerasse que nos aproximamos de outro período de trevas, e citam o medievo... Não deixam de ter certa razão, porque muitos e crescentes perigos rondam o nosso dia a dia: pestes, fomes, guerras, sinais no céu, pobreza, exclusão, fanatismo, drogas, prostituição infantil, escravidão à beira do terceiro milênio, violência de todo tipo, poluição eletromagnética, bioterrorismo, guerra cibernética, degradação ambiental... Mas, como a Esperança deve permanecer viva e ativa, convém recordar que, na opinião de gente abalizada, foi na Idade Média que surgiram as universidades. Isso significa que, mesmo nas “épocas de sombras”, a luz da Inteligência e da Sabedoria sempre há de brilhar. Razão por que culturas aparentemente conflitantes, por força de contingências poderosas que encaminham o progresso dos homens, com eles ou apesar deles, se manifestam, produzindo benefícios para a civilização, como estes descritos por L. Massignon (1883-1962) e R. Arnaldez (1911-2006), citados por J. Burlot, no seu livro A Civilização Islâmica:
“O Islão desempenhou um papel muito importante no desabrochamento científico da alta Idade Média (...). Os árabes fizeram mais do que transmitir a Ciência: despertaram o gosto por ela e começaram a confrontar os conceitos gregos com a experiência... Empreenderam uma imensa atividade de observações críticas que se podem encarar, muito justamente, como um prodigioso despertar da razão científica”.
Por mais longínquo...
No Alcorão igualmente encontramos este expressivo versículo: “Buscai a Ciência desde o berço até ao túmulo, ainda que seja na China”.
“Ainda que seja na China”, isto é, por mais distante que seja...
Quantas estradas a serem percorridas! Quantos desafios a vencer! Porém, é necessário atentar para estas palavras do notável professor e missionário metodista Stanley Eli Jones (1884-1973), que fui buscar no livro Apocalipse sem Medo:
A humildade é a essência da Criação Divina. A primeira providência para o encontro com Deus é liquidar com o orgulho. Quando a pretensão termina, o poder tem início.
Caminho sem volta?!
Há um poder espiritual latente que conduz os destinos do Cosmos, pois nunca permanentemente o atraso conseguiu conter o progresso. A sociedade hoje não retroagirá sobre os seus próprios passos, a não ser sob o risco de não encontrar o caminho de volta, porquanto são por demais poderosos os meios destruidores na atualidade. Ainda assim, os povos têm sido muito hábeis na capacidade de subsistir aos seus piores momentos. Afinal de contas, continuamos aqui sobreviventes. E isso ocorre por força da Alma, iluminada pela Verdade e pelo Amor, característica da Cidadania oriunda do Mundo Espiritual Elevado. Um dia, a humanidade a viverá plenamente e fará cessar todas as guerras, a fome, a miséria, enfim, todas as mazelas sociais.
A defesa de todos nós
O renomado educador norte-americano Booker T. Washington (1856-1915) — primeiro presidente da lendária Tuskegee Normal and Industrial Institute (hoje Universidade de Tuskegee), no Alabama (EUA), que se dedicou a criar condições melhores de crescimento individual para os ex-escravos e seus descendentes e para os indígenas — escreveu: “Não há defesa ou segurança para nenhum de nós a não ser na mais alta inteligência e desenvolvimento superior de todos”.
A relevância das palavras deste que foi conselheiro de presidentes dos Estados Unidos fala por si mesma em virtude de seus incansáveis esforços e coragem. Não foi à toa que ele se tornou um dos maiores e mais influentes oradores da comunidade negra de seu país.
É evidente que, hoje, essa reflexão se aplica a toda a raça humana, o Capital de Deus, consoante seguramente desejava, na profundidade de seus anseios, o infatigável dr. Booker, cuja Alma vislumbrava um futuro em que o racismo, que considero um cancro social, não mais exista.
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*1 Apocalipse sem Medo — Um dos livros da coleção “O Apocalipse de Jesus para os Simples de Coração”, do escritor Paiva Netto, que juntamente com As Profecias sem Mistério e Somos todos Profetas, vendeu mais de 500 mil exemplares.
*2 O assunto é tratado com maior profundidade no livro Liderar sob a proteção de Deus, de Paiva Netto, um dos próximos lançamentos da Editora Elevação.
*3 Lord Keynes — John Maynard Keynes, Barão de Tilton. Nascido em Cambridge, Inglaterra, este britânico de influência mundial é tido como o mais importante economista teórico da era pós-Karl Marx.
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