A função civilizadora do comércio – Parte II

Fonte: Revista BOA VONTADE, edição 192, de agosto de 2004. | Atualizado em agosto de 2018.

Sentimentos bons e eficiência

Os sentimentos bons, representados pelo Amor-Solidariedade, são eficientes, mesmo quando nos descobrimos diante dos maiores desafios da Vida, cuja superação exige inteligência, pertinácia e, justamente, equilíbrio, ou, melhor dizendo, bom senso.

Helena Lopes/Pexels

Você, homem prático, até pode achar que isso pouco tenha a ver com o tema principal desta palestra em defesa do Capital de Deus. Contudo, um dia desses, observando certas manifestações na mídia, comentei, no meu programa de rádio, que alguns apressados querem fazer crer às novas gerações que o Amor Fraternal, para o progresso do indivíduo e/ou da coletividade, é algo descartável. Ah, é?! Que desejam, então? A morte do sentimento?!

Arquivo BV

Alziro Zarur

No Congresso da Boa Vontade de 1969, quando Alziro Zarur (1914-1979) lançou oficialmente o Centro Espiritual Universalista, o CEU da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, a Religião do Amor Universal, ao me ser dada a palavra, assim me expressei:

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Fraternidade não é coisa abstrata. Fraternidade, além de tudo aquilo que entendemos como relacionamento cordial entre as criaturas humanas, expressa-se no campo objetivo das soluções efetivas dos problemas nacionais e mundiais, como Solidariedade: escolas para instruir e educar, emprego para as multidões que todos os anos invadem o mercado de trabalho, a solução do problema dos aposentados, o uso dos meios de comunicação para esclarecer, e não para engazopar as massas com uma realidade falsa de fartura cinematográfica e televisiva, pois de mesas vazias; e isto ocorre na enormidade de lares em que se padece de fome pelos países afora. Também, e principalmente, Fraternidade é o esclarecimento espiritual das massas, de preferência em Espírito e Verdade, à luz do Novo Mandamento do Cristo, pois o mundo só conhecerá a Paz quando vivenciar o Amor Espiritual e compreender a Realidade Divina.

Disse Jesus, o Grande Libertador: “Conhecereis a Verdade [de Deus], e a Verdade [de Deus] vos libertará” (Evangelho do Cristo, segundo João, 8:32).

Tela: James Tissot (1836-1902)

Detalhe da obra intitulada: Jesus ensina pelo litoral.

(...) Prega a Política Divina que é essencial viver a Fraternidade interclasses para que surja a Sociedade Solidária Altruística Ecumênica, cujo alicerce maior é o Mandamento Novo do Ideólogo Celeste, ou seja, realizar uma genuína Revolução Espiritual, firmada na ética que a humanidade precisa praticar para que possa sobreviver: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mesmo Amor uns pelos outros. (...) Não há maior Amor do que doar a própria vida pelos seus amigos. (...) Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor” (Evangelho de Jesus, segundo João, 13:34 e 35; 15:13 e 9).

(...) Trata-se da Lei de Solidariedade Espiritual, Humana, Social e Política, um fio milagroso que une as partes anacronicamente separadas do organismo sociedade, razão por que entendemos a inclusão desta avançada afirmativa de Zarur nas diretrizes do Centro Espiritual Universalista, oficializado agora na Religião do Novo Mandamento: “Religião, Ciência, Filosofia e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus”.

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Gilbert Keith Chesterton

E esta admoestação do escritor inglês Gilbert Keith Chesterton (1874-1936): “Estamos todos num mesmo barco, em mar tempestuoso, e devemos uns aos outros a maior lealdade”.

Fraternidade dinâmica

A função do CEU (Centro Espiritual Universalista) da Religião do Amor Universal é, pois, desbastar arestas, para harmonizar os seres humanos em conflito; derrubar bastilhas, para o que é imprescindível a ação da Fraternidade Ecumênica, que é energicamente dinâmica, na forma de Solidariedade — e o apoio do Mundo Espiritual — que existe, apesar de não ser percebido pelos fracos sentidos humanos.

 E assim terminei a minha palavra naquele sábado festivo, já bem distante, de 1969.

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Léon Denis

Por isso, corretíssimo se encontrava Zarur ao pregar a união das Duas Humanidades: a da Terra com a do Céu, a do Céu com a da Terra, a exemplo do que também preconizou Léon Denis (1846-1927).

Harmonia e Transformação

A respeito de harmonizar as criaturas em sua vivência, não de despersonalizá-las, escrevi em Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade (1987):

Existe a harmonia que adeja sobre todas as coisas. E sempre que alcançada é fator de sobrevivência para a humanidade. Rege os contrários. É vital a consciência de que essa Harmonia existe do micro ao macrocosmo, de forma que possamos viver sua sintonia. Todos os grandes reformadores, transformadores da humanidade, de uma forma ou de outra, sabendo ou não, receberam o seu banho lustral... Deus é essa Harmonia.

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É claro que não me refiro ao deus antropomórfico, criado à imagem e semelhança do ser humano, responsável por guerras e misérias seculares.

(Continua)

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.