Conhecendo o país da Copa
Ao redigir este artigo, cumprindo prazo de entrega para os jornais (5a feira), olho o calendário à minha frente e noto faltar apenas um dia para o jogo inaugural da Copa do Mundo, na África do Sul. Aliás, a primeira nação africana a sediar o principal evento futebolístico do planeta.
Este é um ano significativo para os sul-africanos. Eles comemoram duas décadas da libertação de Nelson Mandela, líder na luta contra o apartheid. Por sinal, estando no Brasil em 1998, ele recebeu do ParlaMundi da LBV a Comenda da Ordem do Mérito da Fraternidade Ecumênica.
Apesar do fim do regime de segregação racial, pode-se perceber, ainda nos dias atuais, acentuada desigualdade social no país. Quarenta por cento da população sobrevive com dois dólares/dia. Mas as coisas, embora lentamente, estão melhorando. Uma classe média negra (mais de 2,5 milhões de pessoas) começa a influenciar a economia local. Situada na mesma latitude do sul do Brasil, antiga rota de navegação para as Índias, terra rica em minérios, dos 49,5 milhões de habitantes, 2% são de origem indiana, 9% de brancos, outros 9% de mestiços, e a maioria esmagadora, 80%, de negros. Povo de diversas etnias – são 11 idiomas oficiais –, a mais conhecida é a zulu (formada por guerreiros que derrotaram os ingleses no século 19), cuja língua é a mais falada. Para não haver dificuldades de comunicação entre os grupos étnicos, o inglês, usado pela quase totalidade dos cidadãos, surge como mediador.
A África do Sul tornou-se politicamente independente em 1961, mas firmou-se como uma democracia há apenas 16 anos. Em pleno século 21, nas regiões mais pobres, a falta de emprego, de saneamento básico e de condições dignas de saúde é uma realidade. Os sul-africanos possuem o trágico título de nação com o maior número de infectados pelo vírus HIV: perto de 6 milhões de pessoas. Enfrentam, ainda, doenças endêmicas, a exemplo da malária e da tuberculose. A violência é outro grave problema. Não obstante os números apontarem diminuição dos assassinatos (37 para cada 100 mil habitantes), as estatísticas de estupro assustam: um entre cinco homens admite tê-lo praticado, índice encontrado em áreas de conflito.
Sabemos que a solução dos problemas sociais passa inicialmente pelo fortalecimento da Educação. E a África do Sul percebeu isso. Atualmente destina para a área educacional, de acordo com dados oficiais, 6,6% do PIB.
Soweto e o mundo da bola
Johannesburgo, com cerca de 5,3 milhões de habitantes, é a maior cidade da África do Sul e a quarta do continente africano, atrás somente do Cairo, de Lagos e de Kinshasa. Segundo as Nações Unidas, é a mais desigual do planeta, já que pouca distância separa a abastança da miséria.
Nela, um distrito chamado Soweto – podendo ser traduzido por Assentamento no sudoeste, onde muitos negros e mestiços foram deslocados durante o apartheid – abriga o Soccer City, estádio construído praticamente na entrada do bairro. É nele, após ter sua capacidade ampliada, que ocorre, entre outros, o jogo de abertura e encerramento da Copa do Mundo. Foi nesse estádio que Nelson Mandela proferiu seu primeiro discurso após ser libertado, em 1990. Nosso primeiro desafio no Soccer City será em 20/6 contra a Costa do Marfim. Jogar nele a última partida da Copa significa, para qualquer seleção, ter chegado à final. E todos esperamos ver o Brasil lá.
Levante de 1976
Soweto é famoso por moradores ilustres. Além de Mandela, que viveu no local, outro Prêmio Nobel, o arcebispo Desmond Tutu*, mantém residência ali. O distrito chamou a atenção do mundo pelo levante de 1976, quando estudantes negros protestaram contra o ensino do africâner (a língua dos colonos brancos). Segundo pesquisadores, esse movimento custou a vida de mais de mil jovens.
A África do Sul tem um belo futuro. A alegria do seu povo, a mistura de etnias e o forte desejo de se libertar do passado opressor dão aos sul-africanos os ingredientes do sucesso. Como a esfericidade da bola, que eles possam, em uníssono, construir um novo país, em que brancos, negros e mestiços vivam com deveres e direitos iguais!
Seleção da Solidariedade
Aqui no Brasil, craques do futebol nacional e do exterior e que foram convocados para a Copa do Mundo 2010 participam de uma grande ação solidária promovida pela Legião da Boa Vontade. Trata-se da Campanha África do Sul 2010 — Fiz um gol pela infância brasileira! Visa mobilizar a todos na ajuda às crianças em situação de vulnerabilidade social. Aqueles que colaborarem receberão uma camisa com as assinaturas de renomados esportistas, entre eles: Robinho, Julio César, Doni, Juan, Luisão, Maicon, Gilberto Silva, Júlio Baptista, Josué, Nilmar e Elano. A iniciativa também homenageia ícones do futebol brasileiro como Pelé, Zagallo, Zico, Marcos e Cafu, que sempre apoiaram a LBV. Faça sua doação e garanta a camisa acessando o site www.euajudoamudar.org.
______________________
* Desmond Tutu (1931-2021)
Os comentários não representam a opinião deste site e são de responsabilidade exclusiva de seus autores. É negada a inserção de materiais impróprios que violem a moral, os bons costumes e/ou os direitos de terceiros. Saiba mais em Perguntas frequentes.