70 anos da LBV em marcha!
Minhas Irmãs e meus Amigos, minhas Amigas e meus Irmãos, na longeva jornada de Ecumenismo, Fraternidade, Solidariedade, Compaixão, Generosidade, Entendimento, socorro ininterrupto aos abandonados do mundo — do corpo e da Alma —, nossa amada Legião da Boa Vontade completa, neste 1o de janeiro (Dia da Paz e da Confraternização Universal), de 2020, 70 anos de profícua existência.
Logo, em minha Alma ressoam as primeiras notas daquela manhã de 29 de junho de 1956, quando fui arrebatado por essa Causa Divina. São mais de seis décadas de dedicação a ela. Essas estradas de lutas palmilhadas pelo saudoso fundador da LBV, Alziro Zarur (1914-1979), que ficaram registradas em minha memória, ilustram a força dos Ideais Fraternos dessa Sagrada Instituição, presentes desde o seu nascedouro.
Costumo afirmar às crianças, aos jovens, aos homens e às mulheres, aos vovôs e às vovós de Boa Vontade, em minhas preleções: o tempo vai passar de qualquer maneira. Não o percamos. Gastemo-lo fazendo o Bem.
Parece que foi ontem…
Lembro-me como se fosse ontem: amanhecia aquele memorável 29 de junho — Dia de São Pedro e São Paulo. Era uma sexta-feira, e, como se estava no meio do ano, não fazia calor tão forte, o que era frequente no então Estado da Guanabara. Nasci na cidade do Rio de Janeiro, em 2 de março de 1941. Com 15 anos, num gesto intuitivo, liguei meu aparelho de rádio. Estava no ar a Tamoio. Vivíamos os festejos juninos. Surpreso, ouvi os acordes de uma tradicional canção natalina: Noite Feliz!, de Joseph Mohr (1792-1848) e Franz Grüber (1787-1863). Virei-me para minha saudosa mãe, Idalina Cecília de Paiva (1913-1994), e exclamei, surpreso: Mãe! Que coisa interessante! Música de Natal em junho?!
A Rádio Tamoio veiculava, naquela hora, o programa Campanha da Boa Vontade. E logo vibrou a palavra de Alziro Zarur. Esse fato mudou a minha vida, tal qual a de tantos outros que aguardavam algo que lhes falasse o que precisavam ouvir a respeito de Quem, no dizer de João Batista, nem somos merecedores “de desatar-Lhe as correias das sandálias”: Jesus! (Evangelho, segundo Marcos, 1:7)
Zarur entoava o “Glória a Deus nas Alturas, Paz na Terra aos homens de Boa Vontade!” (Boa Nova, consoante Lucas, 2:14). Naquela hora, como que um raio desceu sobre mim, mas não me fulminou. Pelo contrário: percebi que não sou apenas um produto da carne, posto que certa mentalidade por aí faz alguns pensar que este mundo seja um açougue. Tenho Espírito. Não em resultado de combinações químicas cerebrais, porquanto a inteligência situa-se além do corpo, como que havendo uma mente psíquica fora do cérebro somático. (...) A partir daquele momento, o que foi despertado em mim não poderia nascer de um pedaço de matéria que um dia se transformará na rebelião famélica dos vermes. Ah! Somos alguma coisa bem superior, que sintoniza as estrelas! É essencial ter, portanto, em nós um diapasão que ressoe na grandeza de sua melodia.
Em minha memória surgiu, então, cena de três anos antes (1953): das mãos de uma bela senhora negra, que divulgava a LBV debaixo de um sol escaldante, na zona norte da Cidade Maravilhosa, recebi um opúsculo editado pela Legião da Boa Vontade. Sensibilizado, retribuí-lhe com um copo d’água. Na publicação, de excelente conteúdo, estava descrito o ideal que eu almejava desde mais novo. A sonoridade do nome do fundador desta obra santa também me chamou a atenção: Alziro Zarur.
Determinado, depois de encontrar o primeiro movimento inter-religioso promovido pela Cruzada de Religiões Irmanadas*¹, virei-me para minha saudosa mãe, Idalina Cecília de Paiva, e, decidido, sentenciei: Mãe, é com esse que eu vou! O ideal, que tinha mudado minha vida, não poderia ser esquecido ou guardado. Outras pessoas precisavam conhecê-lo. Por isso, no mesmo dia, saí, guiando minha bicicleta, para expandir esse trabalho de Boa Vontade, que tocou meu coração, e, ainda, pedir donativos para a LBV. Passei, a partir desse instante, a colaborar voluntariamente para a Entidade, realizando, mesmo a pé, campanhas para aquisição da antiga Rádio Mundial — que se tornaria a Emissora da Boa Vontade de 1956 a 1966 — e para auxiliar o Natal Permanente da LBV, que presta socorro diário ao povo em vulnerabilidade social.
Naquele tempo, apesar de minha vocação para a Medicina, decidi dedicar-me a uma jornada espiritual ao lado de Zarur, com quem falei pessoalmente pela primeira vez, no dia 28 de junho de 1957, na Casa de Luciá, um orfanato para meninas, no bairro carioca do Lins, que foi fundado e dirigido por uma dedicada portuguesa, a saudosa dona Rosa Leonil.
“Ô rapaz! Até que enfim apareceste. Há quanto tempo eu estava te esperando!...”, disse-me, de surpresa, Zarur, de quem viria a ser um dos assessores diretos. E, mais que isso, um amigo fiel, para além do um quarto de século seguinte, e mesmo após o falecimento do seu corpo, porque o Espírito continua vivo, visto que os mortos não morrem. Nesse período, fui crescendo até ser alçado à posição de secretário-geral da LBV (cargo equivalente ao de vice-presidente), e com seu passamento a 21 de outubro de 1979, abracei a tarefa de presidir a Entidade.
LBV e a Ideologia do Bom Samaritano
Esse Sacrossanto Movimento que me moveu, de imediato, encontra-se consubstanciado no Ideal Ecumênico do Educador Celeste, sobretudo em Seu Novo Mandamento, constante da Boa Nova, consoante João, 13:34 e 35: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos”. Por isso, sempre reitero que a LBV nasceu para amar e ser amada.
Muito a propósito, recordo-me da primeira notícia pela qual tive conhecimento da Bíblia Sagrada, em particular o Santo Evangelho de Jesus. Foi por intermédio de meu saudoso pai, Bruno Simões de Paiva (1911-2000). Ele me falou sobre uma comovente história contada ao povo pelo Cristo de Deus: a Parábola do Bom Samaritano. E a leu para mim. A passagem se encontra no Evangelho, segundo Lucas, 10:25 a 37:
“E eis que certo homem, intérprete da Lei se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-Lhe: Mestre, que farei para herdar a Vida Eterna? Jesus lhe perguntou: Que está escrito na lei? Como a interpretas? A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e ao teu próximo como a ti mesmo*2. Jesus, então, lhe respondeu: Disseste-o bem; faze isso, e viverás.
E o doutor da lei, contudo, querendo justificar-se a si mesmo, questionou-Lhe: Mas, Jesus, quem é o meu próximo? O Mestre replicou-lhe, contando-lhe uma parábola:
Descia um homem de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos de salteadores, os quais o despojaram e, espancando-o, retiraram-se, deixando-o semimorto.
Descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou de largo.
E de igual modo um levita chegando àquele lugar e, avistando o pobre homem, passou também de largo.
Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, fitando-o, tomou-se de infinita compaixão; e, aproximando-se, atou-lhe as feridas, aplicando-lhes azeite e vinho; e, pondo-o sobre um animal de sua propriedade, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. No outro dia, partindo, tirou dois denários [antiga moeda romana], deu-os ao dono da hospedaria e lhe disse: Cuida bem deste ferido, e tudo o que de mais gastares, eu te pagarei quando aqui voltar.
Qual, pois, destes três — perguntou Jesus ao homem da lei — te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Ao que o doutor da lei Lhe respondeu: Claramente o que usou de misericórdia para com ele.
Disse-lhe, então, calmamente Jesus: Vai, pois, e faze da mesma forma".
Vemos no comportamento desse samaritano — representante de uma comunidade desprezada naquele tempo — a verdadeira forma de viver do Cidadão do Espírito, portanto, solidário que há décadas pregamos.
Esse homem caído na estrada, todo ferido, quase morto simboliza a própria sociedade. Visto que muitos passaram ao largo das multidões dos enfermos e combalidos, dos salteados e explorados ao longo dos séculos, a samaritana Legião da Boa Vontade se apresentou e está tratando as chagas, curando as doenças, mitigando a sede, alimentando os famintos, levantando os desvalidos... Isso é Política de Deus, a Política para o Espírito Eterno do ser humano — a vivência plena da Caridade Completa, ou seja, Material e Espiritual. Quem não souber as Normas do Governo do Cristo, expressas em Seu Santo Evangelho-Apocalipse, não poderá governar coisa alguma. Aos Seus discípulos, Ele ordena:
“Ide e pregai, dizendo: É chegado o Reino dos Céus. Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios, dai de graça o que de graça recebeis. Vesti os nus, alimentai os famintos, amparai as viúvas e os órfãos” (Evangelho, segundo Mateus, 10:7 e 8; Epístola de Tiago, 1:27).
Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista, é a cura de que a humanidade precisa.
A Parábola do Bom Samaritano evidencia que não basta unicamente instruir e educar. É imprescindível reeducar, com espírito ecumênico, isto é, sem ódios, para que se alcance a espiritualização da criatura, bem como exprimir a todos os seres espirituais e humanos a importância da Compaixão, da Solidariedade, da Generosidade, do Entendimento para que haja povos realmente cordiais. Daí pregarmos a globalização do Amor Fraterno.
E essa corrente de Solidariedade, que a LBV movimenta em todo o globo por meio de sua forte mensagem e de contundentes exemplos de Fraternidade Ecumênica e Caridade Completa — aquela que socorre o Espírito e o corpo —, visa dotar a criatura humana desse equilíbrio. Isso me faz lembrar de uma reflexão do jornalista inglês, o democrata Thomas Paine (1737-1809), no seu influente livro O Senso Comum e a Crise, no qual ressalta que o ser humano, por menos expressivo que se considere ou por mais difíceis que sejam as condições a se enfrentar, possui qualidade que, somada à dos outros, resulta no benefício de uma causa, mesmo sendo ela a mais exigente: “Nosso apoio e sucesso dependem de uma variedade tão grande de homens e circunstâncias, que todas as pessoas, podendo pouco mais que desejar o bem, são de alguma utilidade”.
Na convergência da máxima de Paine, é possível ir além e concluir que, quando o motivo é justo, o ser humano comum luta como um leão. Não precisa ser herói. O ser humano comum é o herói — a exemplo do Bom Samaritano.
O grande objetivo
Esse, por sinal, tem sido o desiderato da Legião da Boa Vontade que tem, em resumo, como objetivo trabalhar pela promoção espiritual, humana, ética e social das pessoas, de forma que todos possam alcançar sua autonomia espiritual, material e, assim, vivenciar a Cidadania Ecumênica no seu mais alto sentido de humanidade, ou seja, de convivência solidária. Essa finalidade se acha em perfeita harmonia com os propósitos da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, que não surgiu para competir com nenhuma religião existente na Terra, mas, sim, para somar esforços a fim de estabelecer a Paz no mundo, pacificando, em primeiro lugar, os corações humanos. Visa contribuir para a preparação dos caminhos para a Volta Triunfal de Jesus ao planeta Terra, conforme inúmeros anúncios feitos pelo próprio Cristo na Escritura Sagrada, a exemplo do Seu Santo Evangelho, segundo João, 14:18, e do Apocalipse Redentor, 1:7.
“Não vos deixareis órfãos. Eu voltarei” (Evangelho, segundo João, 14:18).
“Eis que Jesus vem com as nuvens, e todos os olhos O contemplarão, até mesmo aqueles que O traspassaram. E todas as nações da Terra se lamentarão sobre Ele. Certamente. Amém!” (Apocalipse, 1:7).
Aprendi nestes anos de vida legionária que ninguém faz nada sozinho. Nos 70 anos de trabalho da LBV — que luta ininterruptamente “por um Brasil melhor e por uma humanidade mais feliz”, lema criado por Alziro Zarur, desde os seus primórdios — compartilho também essa marca com todos os que, com suas preces e apoio às nossas iniciativas, formam a grande Família Fraternista da Boa Vontade de Deus.
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*¹ Cruzada de Religiões Irmanadas — Alziro Zarur, saudoso fundador da Legião da Boa Vontade, criou e presidiu a pioneira Cruzada de Religiões Irmanadas, cuja primeira edição oficialmente ocorreu em 7 de janeiro de 1950, no salão do Conselho da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na capital fluminense, após sucessivas reuniões preparatórias realizadas, nos meses de outubro, novembro e dezembro de 1949, na sala da diretoria daquela prestigiada Associação. Com esse feito, Zarur antecipou-se ao que mais tarde viria a ser chamado de relacionamento inter-religioso. (Para conhecer a história completa, acesse www.ReligiaodeDeus.org). Em 7 de outubro de 1973, proclamou a Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, em Maringá/PR, Brasil.
*2 “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo” — Levítico, 19:18.
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