Morte em vida

Fonte: Jornal Folha de S.Paulo, edição de 30 de outubro de 1987, sexta-feira | Atualizado em outubro de 2017.

Próximo estamos do Dia dos Mortos (2 de novembro). Mas que é ser morto ou vivo?

Muito mais falecido é aquele que passa indiferente ao sofrimento alheio, esquecido de que o amanhã pode trazer-lhe grande surpresa. Há muitas curvas na estrada...

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Não estender auxílio à criança desamparada, ao ancião com frio, não matar a fome do faminto, não medicar o enfermo, não vestir os nus, não socorrer a viúva e o órfão, não alimentar, instruir e educar o povo, mantendo-o na ignorância completa, que é senão estar morto em vida?... Todos os que agem dessa maneira, que mais se tornam além de cadáveres ambulantes, necessitados de libertar-se da morte moral antes que lhes seja tarde?

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Emmanuel

Bem a propósito estas palavras de Emmanuel (Espírito):

“Choras por aqueles que te antecederam na viagem do túmulo. Refletes na morte como se teus passos não lhe demandassem igualmente os portais de cinza. E misturas rogativas e lágrimas, ignorando que a sepultura é a câmara renovadora em que todos nós retornamos para a eternidade da vida... Sim, não te esqueças das almas queridas que te precederam na grande marcha. Endereça-lhes teus pensamentos de esperança e carinho, que a mensagem do amor é sempre facho de luz. Entretanto, ora também pelos que estão mortos na estrada humana...

“Sepultado no crime.../ Cadaverizados na usura.../ Caídos na ilusão.../ Anulados na preguiça.../ Acomodados no preconceito.../ Petrificados na indiferença.../ Cristalizados no desânimo.../ Imobilizados no fanatismo.../ Tombados no desespero.../ Segregados na violência...

“Ei-los que te defrontam por toda parte... Aqui repousam em sarcófagos dourados, mostram-se adiante em ajardinados jazigos... Acolá descansam narcotizados em sepulcros de sombra, mais além dormem no visco da inércia... Ajuda-os e segue à frente, ofertando-lhes o conforto de tua prece, porque um dia, quando o sol da verdade reaquecer-lhes o coração entorpecido nas trevas, lhes será doloroso no mundo o estranho despertar”.

O grande equívoco da Humanidade tem sido viver como se após a morte nada houvesse. Manter sob o véu do mistério o conhecimento maior do único fato inarredável na existência do ser humano é uma terrível falha das religiões na atualidade. E ninguém venha, por favor, apressadamente dizer que estamos com a cabeça nas nuvens, como se desprezássemos o cotidiano da vida humana. Nada disso!

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Alziro Zarur 

Como escrevemos nas Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo (vol. 1), temos plena consciência de que o grande segredo da vida é, amando a vida, saber preparar-se para a morte, ou vida eterna. Por isso, com insistência, Alziro Zarur (1914-1979) alertava que “o suicídio não resolve as angústias de ninguém”.

Tenho amigos ateus que não creem na Eternidade. E nem por isso deixaremos de ser amigos. A todos eles a minha saudação fraterna. Contudo, nada custa pensar, um pouco que seja, na possibilidade de a vida prosseguir além do túmulo... Isso é sinal de inteligência e de se possuir a mente livre de algemas. Muita vez, a grande descoberta tem como primeiro passo a negação...

Antes de terminar, estas ilustrativas duas últimas quadrinhas do “Poema do Imortalista”, de Alziro Zarur:

“Amigos, por favor, não suponhais/ Que a morte seja o fim de nossa vida;/ A vida continua, não jungida/ Aos círculos das rotas celestiais.

“Os mortos não estão aí, cativos/ Nos túmulos que tendes ante vós:/ Os finados, agora, são os vivos;/ Finados, mais ou menos, somos nós”.

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A Verdade é que, um dia, em variadas condições, uns bem ou outros nem tanto, todos nós, crentes ou incrédulos, nos encontraremos lá na Pátria Espiritual, a fim de prestarmos contas do que fizemos na Terra. Então, ninguém poderá chegar junto a mim para reclamar: — “Pô, Paiva! Sabias das coisas e ficaste calado!” Pois, estando aqui, por amizade a todos, agradando a uns, desagradando a outros, botei a boca no mundo para alertar, confortando: — Ei, rapaziada, a morte não existe, ela não acaba com nada!

Aquele abraço!

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.