Relembre o lançamento do disco "Negrada - Jesus, o Libertador Divino!", do compositor Paiva Netto, e sua repercussão
Um dos primeiros e grandes sucessos do compositor Paiva Netto foi o disco Negrada — Jesus, o Libertador Divino!, lançado em 1o de abril de 1983, simultaneamente ao lançamento do Livro Jesus, em Salvador/BA, durante a Proclamação de Jesus Vivo, na Casa D'Itália, em plena Sexta-Feira Santa. O dia, conhecido por muitos como da mentira, passou a ser denominado como o Dia da Verdade, pois não há nada mais verdadeiro do que a conquista do Divino Mestre sobre os impossíveis, derrotando a maior de todas as mentiras, a morte, conforme defende o escritor.
Algumas das composições que fazem parte do disco, dedicado ao povo baiano, possuem essência da cultura africana e confortam as pessoas que sofrem com todo tipo de escravidão, não importando a etnia. A obra vendeu 100 mil cópias, conquista inédita para a época no gênero erudito no Brasil. Confira abaixo algumas curiosidades trazidas pelo maestro Legionário Vanderlei Pereira sobre esse sucesso do compositor Paiva Netto:
Um dia antes, em 31 de março de 1983, foi realizado o segundo Concerto da LBV de Músicas Clássicas com obras de autoria do Irmão Paiva, sob a regência do maestro Legionário José do Espírito Santo (1927-2005), no Salão Itapoan do Bahia Othon Palace Hotel. Este, na oportunidade, concedeu entrevista à Rádio Clube e gravou o Programa Boa Vontade para a TV Itapoan, canal 5. Certa vez, definiu o ilustre Maestro baiano: "a LBV é a Casa dos Amigos de Deus".
Vinte e nove dias após o seu lançamento, a obra conquistou o palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a regência do conceituado maestro Isaac Karabtchevsky, então dirigente da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) que, na ocasião, declarou: "A composição me surpreendeu pelo caráter rítmico e, ao mesmo tempo, pelo contraste marcante entre o ritmo e a melodia. É uma obra realmente muito inspirada. Estamos procurando traduzir a linguagem de José de Paiva Netto para a grande Orquestra Sinfônica. (...) Ficamos entusiasmados pela maneira com que ele conseguiu traduzir em música todo o seu grau de sensibilidade".
Após o concerto, o compositor de Negrada encontrou-se com o mundialmente aplaudido maestro, que, aproveitando o ensejo, referindo-se ainda ao disco, o chamou de genial. Paiva Netto, sorridente, completou: “Como diria o velho Villa-Lobos, de quem sou fã absoluto: ‘genial, não genioso’” (risos).
+ Ouça as faixas do disco Negrada — Jesus, o Libertador Divino!
A estreia do disco teve o arranjo do professor Darcy Augusto Malheiros (1923-2012) e, para o concerto com a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), a orquestração foi do maestro Osman Giuseppe Gioia. Depois, na Bulgária, Europa, foi gravada com orquestração de Alexander Yóssifov, sob a regência do maestro Ricardo Averbach, discípulo destacado do ilustre Vladi Simeonov.
Sobre o disco, ressaltou o saudoso maestro e compositor Francisco Mignone (1897-1986): “É uma obra genialmente original, que soberanamente enriquece o patrimônio da contribuição negra na música brasileira. A composição — que tem força, comunicabilidade melódica e rítmica irresistível — com certeza transporá as nossas fronteiras, para o enriquecimento da música nacionalista fora do Brasil. Meus parabéns ao Paiva Netto, pois soube fazer um trabalho que, realmente, há muito tempo eu procurava encontrar entre os nossos autores. De modo que eu considero o nosso Paiva Netto um compositor que merece um abraço, na mais cordial amplitude, que se possa dar a um colega”.
Assista a música Negrada — Jesus, o Libertador Divino!: