Na luta contra a dengue
Muito já se falou e continua sendo discutido sobre a epidemia de dengue no Estado do Rio de Janeiro, que ceifa dezenas de vidas, principalmente entre crianças. Essa situação tem gerado alertas também em diversas regiões do País. E o problema já aparece em outros Estados brasileiros.
Além das indispensáveis providências das autoridades para proteger os cidadãos, é fator crucial o esclarecimento do povo, por intermédio de informações básicas, como vem fazendo a mídia. Daí sempre abrirmos espaço na Super Rede Boa Vontade de Rádio, na Boa Vontade TV (Oi TV — Canal 212 — e Net Brasil/Claro TV — Canais 196 e 696) e na internet: www.boavontade.com para campanhas e reportagens a respeito dos mais variados assuntos de saúde pública.
Numa dessas matérias, o infectologista Stefan Cunha Ujvari — membro do corpo clínico do Hospital Carlos Chagas e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo/SP — abordou vários aspectos da dengue: causa, tratamento e medidas preventivas. Destaco, a seguir, trechos dessa entrevista:
Boa Vontade TV: "Como o senhor avalia esse avanço da dengue no Rio de Janeiro?"
Dr. Stefan: "Como toda grande epidemia viral, ela vem em ciclos. Daí termos épocas de grande incidência da doença e em outras não. Ficamos animados quando surgem poucos casos, mas, na verdade, é uma ilusão. Se restarem poucos focos, o aumento populacional, a urbanização desorganizada, desenfreada, sem infraestrutura, e, consequentemente, a grande quantidade de lixo urbano favorecerão novamente a proliferação do mosquito".
BV TV: "Esses altos níveis de contágio teriam como um dos motivos o descuido no combate à dengue?"
Dr. S.: "Sim. O relaxamento no combate aos focos de larvas do Aedes aegypti é o grande responsável pela sua persistência. E isso é algo absolutamente problemático. Gera, posteriormente, uma batalha imensa por causa dos criadouros que surgem em consequência da grande quantidade de reservatórios de água parada".
BV TV: "De que maneira podemos combatê-los?"
Dr. S.: "O mosquito tem vida útil pequena, pouco mais de um mês. A ação principal é contra a criação dos ovos que ele deposita em tudo que retém água. A calha, o ralo e até mesmo plantas, como as bromélias, podem ser um reservatório, tanto fora quanto dentro de casa".
BV TV: "Quanto tempo a doença leva para se manifestar?"
Dr. S.: "Tem uma variação muito grande. A média é em torno de cinco a seis dias, porém, pode ocorrer uma manifestação precoce, por exemplo, ao terceiro dia".
BV TV: "O uso de repelente no corpo auxilia a espantar o mosquito da dengue?"
Dr. S.: "Temos de ser bem criteriosos quanto ao uso dele, porque o repelente não tem ação duradoura. Se formos instituir o repelente, teremos de utilizá-lo muitas vezes ao dia. Se exagerarmos no uso, poderão ocorrer fenômenos alérgicos. O repelente realmente previne a proximidade do mosquito, mas não é indicado como medida profilática".
BV TV: "Quais são os sintomas provocados?"
Dr. S.: "A dengue é inespecífica. Depois de inoculado na pessoa pela picada do mosquito, o vírus passa um período na corrente sanguínea. A região de sua preferência é a da musculatura. Daí as dores musculares. Tirando isso, os sintomas são semelhantes aos de outras infecções".
BV TV: "E o tratamento?"
Dr. S.: "A grande preocupação é tratar as complicações da dengue, ou a do tipo mais grave, a hemorrágica. O paciente que contraiu a dengue clássica não terá nenhuma complicação. O tratamento é sintomático. Evita-se apenas qualquer remédio que atrapalhe a coagulação, por exemplo, os medicamentos à base de ácido acetilsalicílico. A hidratação é fundamental. O problema é que não sabemos se esse paciente desenvolverá ou não a dengue hemorrágica. Portanto, todos devem passar por avaliação médica. A dengue hemorrágica acontece, geralmente, quando a febre está diminuindo".
BV TV: "A transmissão da dengue ocorre de uma pessoa para outra?"
Dr. S.: "Não".
BV TV: "Alguém que já tenha sido infectado pode contrair a doença novamente?"
Dr. S.: "Temos quatro tipos de vírus de dengue. Na década de 1980 tivemos uma epidemia de dengue tipo 1. Depois, na década de 1990, ocorreram vários casos do tipo 2. A epidemia de 2002, que até então tinha sido a pior da nossa história, foi a do tipo 3. Quando a pessoa contrai um tipo de vírus, torna-se depois imune, não apresentando mais infecção por aquele vírus. Contudo, pode contraí-la pelos outros três tipos. Quando o paciente experimenta a dengue pela segunda vez, o risco de desenvolver a hemorrágica é maior".
Espero que o tema de hoje tenha contribuído para a conscientização de todos. O Aedes aegypti tem menos chance com uma ação conjunta entre as autoridades e o povo. E que não nos falte a mesma determinação de Oswaldo Cruz (1872-1917), que, também no Rio, no início do século 20, promoveu campanha maciça de combate à varíola, febre amarela, peste bubônica, entre outras doenças.
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