ONU, LBV e os Oito Objetivos do Milênio (II)
Fonte: Jornal O Sul, edição de 7 de maio de 2007, segunda-feira.
A atual necessidade de plantar a couve e o carvalho
Em 29 de março de 1985, escrevi em “A Nova República e Jesus”, publicado no antigo “Jornal da Manhã”, de São Paulo:
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Rui Barbosa
(...) Rui Barbosa (1849-1923), o notável civilista brasileiro, de renome internacional, convida-nos à meditação com estes conceitos de tão profundo alcance: “Enquanto Deus nos dê um resto de alento, não há que desesperar da sorte do Bem. A injustiça pode irritar-se, porque é precária. A Verdade não se impacienta, porque é eterna. Quando praticamos uma ação boa, não sabemos se é para hoje ou para quando. O caso é que seus frutos podem ser tardios, mas são certos. Uns plantam a semente da couve para o prato de amanhã; outros, a semente do carvalho para o abrigo do futuro. Aqueles cavam para si mesmos. Esses lavram para o seu país, para a felicidade dos seus descendentes, para o benefício do gênero humano”.
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Alziro Zarur
Nos complexos tempos atuais, prezado Rui, há que se fazer os dois serviços em paralelo: plantar a semente do carvalho, cuja sombra acolhedora se projetará sobre as gerações posteriores, e semear o alimento de agora, contudo para as barrigas vazias, porque ainda hoje ressoa a advertência de José do Patrocínio (1853-1905): “Enquanto houver um brasileiro passando fome, somos um povo que ri, quando devia chorar (...)”. E o saudoso jornalista, radialista e Fundador da LBV, Alziro Zarur (1914-1979), completava: “... chorar de vergonha!”.
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José do Patrocínio
(...) Enquanto os governos não chegam às “soluções definitivas” para a miséria, que cada um faça mais do que puder — e não o deixe de realizar — pelo seu semelhante, pondo em ação o poderoso espírito de Caridade, tão apregoado e vivido por Jesus e outros luminares da História não somente religiosa. O amadurecimento da Alma irmana as criaturas, concomitantemente, as culturas terrenas. Por questões tais, mesmo que chegado o dia em que todos os problemas sociais sejam resolvidos, a Caridade será tão necessária quanto agora, porquanto é sinônimo de Amor. E sem ele ninguém vive, pois é o alimento do Espírito. Até porque as cidadãs e os cidadãos, além do bom termo para os assuntos da alçada de Estado, andam à procura da solução de seus dilemas humanos.
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Prosseguindo: depois de apresentar o que reiteramos em 1985, graças à maturidade solidária das mentes, acabar com a fome tornou-se uma preocupação, não apenas nacional, contudo mundial. O que pode impedir que os objetivos que beneficiarão qualquer país sejam atingidos sem tardança em âmbito planetário? Entre outros óbices, destaca-se o exacerbamento do individualismo, aliado ao desejo de domínio que possa existir em cérebros humanos distorcidos, que prodigiosamente frutifica em época de corrupção e impunidade desenfreadas, e à falta de perseverança e eficiente tática entre muitos dos que se opõem a esse estado de coisas.
O combate à violência no mundo começa na luta contra a indiferença à sorte do vizinho. Permitir que se sacrifique o sentimento de compaixão entre os indivíduos é o mesmo que promover o suicídio coletivo das nações.
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Jean-Paul Sartre
Não foi sem motivo que assim definiu Jean-Paul Sartre (1905-1980): “O homem é constituído pelas suas múltiplas escolhas e inteiramente responsável por elas (...)”.
A Família das nações
Com intensidade cada vez maior, para o século XXI, a questão é jamais desprezar as múltiplas oportunidades de desenvolvimento para o bem comum que a moderna tecnologia nos oferece. Convém, todavia, agir de forma que, pari passu, os avanços do saber tecnológico contemplem mecanismos expansores da Solidariedade, no combate efetivo à miséria moral e espiritual, que afeta o êxito de toda sociedade. Isso é pensar ecumenicamente na solução efetiva para o aumento do poder aquisitivo e, o que é fundamental, para o acesso democrático ao bom ensino, por exemplo, cuja falta, na atualidade, aprisiona na indigência, nos quatro cantos da Terra, populações inteiras, dificultando-lhes a libertação da fome. Verdadeiro desrespeito à dignidade humana.
A fome é má conselheira
Caso esse amadurecimento de mentalidade não ocorra em tempo hábil, necessário se faz que se tenha atenção redobrada quanto ao perigo de não se levar em apreço esses preceitos, pois quem tem fome quer comer; quem padece de sede procura mitigá-la; quem está nu necessita de vestimenta; quem se encontra enfermo aguarda cura urgente; o desesperado anseia por amparo. Não amanhã, já! E antes que em extremo delírio as massas famintas venham arrancar o que não têm das mãos dos que possuem...
Refletindo
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Reflexões da Alma (2003) – Lançado também em Portugal, pela Editora Pergaminho, em 2008, e em Esperanto, em 2011, e em Espanhol, pela Editora Dunken. Adquira!
Em Reflexões da Alma (2003), escrevi: Nenhum planejamento, por mais bem elaborado que seja, terá êxito se lhe faltar intensa harmonia e sentido de unidade na diversidade para que a adversidade seja vencida. Getúlio Vargas (1883-1954), que teve uma longa, polêmica e dramática vida pública no Brasil, deixou este testemunho: “Só há uma força capaz de construir por toda a eternidade: o Amor”.
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