Cadê o chão?!
Apresentamos, a seguir, trechos escolhidos de capítulo que faz parte do livro O Capital de Deus, de Paiva Netto (lançamento da Editora Elevação, nos originais).
Neste artigo — inspirado em um seu improviso no rádio e na TV feito em 1991 —, o autor faz observação histórico-espiritual do turbilhão de velozes transformações pelas quais passa o mundo, com a queda de paradigmas, de processos e mesmo de arraigados conceitos sociais, religiosos, artísticos, econômicos, administrativos, entre outros.
Daí a pergunta: “Cadê o chão?!”. Para o escritor, revela-se, neste momento, a oportunidade divina de cuidar daquele que é geratriz de todo progresso: o Espírito Eterno do ser humano, que o também jornalista denomina “o Capital de Deus”. Vamos ao texto:
Encontramo-nos diante de uma realidade planetária forjada por múltiplos interesses, que nem sempre têm o bem-estar do povo como objetivo. Direita, mercado soberano; esquerda, estado centralizador; centro, de quê?
No entanto (...), um fato marcante ocorre: parâmetros antigos para quase nada são mais utilizados; novos paradigmas, ninguém sabe bem ainda quais são. Por quê?! Lord Keynes*1 tem uma boa resposta: “A dificuldade não está nas ideias novas, mas em nos livrarmos das antigas”.
(...) Na verdade, estamos pelo mundo assistindo ao anúncio de um potencial conflito, porquanto multidões pobres se tornam cada vez mais pobres e a violência se espalhou pela Terra de forma nunca vista. Apesar de existirem modelos isolados, verdadeiras ilhas de excelência, onde há progresso promovido pela globalização, o que se comprova é o crescimento da miséria em muitos países, até mesmo nos mais desenvolvidos. Ante a fartura de poucos, nunca esteve tão desprezado o Capital de Deus, o Espírito Eterno do ser humano.
Vivemos, por exemplo, o império do desperdício, que é a comprovação da intensidade do egoísmo preponderante. Entretanto, o espírito de Solidariedade prevalecerá, por força do coração ou do irrefreável instinto de sobrevivência (...).
É evidente que não sou adversário implacável da globalização, mas firmemente desfavorável a manipulações dela, quando afrontam os povos em desenvolvimento. Não é sábio opor-se à marcha da História, contudo é preciso valermo-nos, com proveito, de seu curso. Desde que existe mundo, passamos por vários tipos de mundialização (...).
O momento atual está, de certa forma, retratado no capítulo 16, versículos de 17 a 21, do Apocalipse de Jesus, segundo João:
O Sétimo Flagelo
“17 Então, derramou o sétimo Anjo a sua taça pelo ar, e saiu poderosa voz do Templo, do lado do trono, dizendo: Está feito!
“18 Logo sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu estrondoso tremor de terra, como nunca houve igual desde que há gente sobre o mundo; tal foi o terremoto, forte e vasto.
“19 E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da Sua ira.
“20 Toda ilha fugiu, e os montes não foram achados;
“21 também desabou do céu sobre os homens terrível chuva de pedras que pesavam cerca de um talento [aproximadamente 34 quilos]. E, por causa do flagelo da saraivada, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu tormento era sobremodo grande”.
Babilônia e Montesquieu*2
“19 E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações (...).”
Há quem fique esperando que os prédios desabem durante um abalo sísmico aterrador, como tantas vezes tem acontecido infelizmente ao planeta. Entretanto, não é apenas isso. Trata-se, antes de mais nada, de queda moral, de desrespeito à criatura humana, de falta de ética, que, logo, tudo faz ruir, dizimando ou intensamente alterando o que antes seria impensável.
O versículo acima destacado tem a ver, digamos de passagem, com os três poderes prefigurados por Montesquieu (1689-1755), no seu livro O Espírito das Leis: Executivo, Legislativo e Judiciário*3, que não ficarão à parte das espantosas transformações anunciadas por Jesus no Apocalipse. (Percebam a expressão que vão assumindo as empresas, na Terra, cada dia mais potentes, com ou sem as megafusões. Há cartéis cujo orçamento supera o PIB de países inteiros, isolada ou conjuntamente.)
A grande cidade seria o mundo todo. E o seu poder significa o que há de mais avançado materialmente nos comandos executivo, legislativo e judiciário, interagindo com a Economia, a Ciência, a Religião, a Arte, a Educação, a Saúde, a Segurança, o Esporte e outros ramos do conhecimento terreno exaltado.
Algumas perguntinhas para você
1) Os três poderes, estabelecidos pelo autor de Cartas Persas, sustentar-se-ão, sem mutações profundas, em uma era como essa que se avizinha? São apenas poderes humanos.
2) E, quando a grande cidade se quebra, tudo aquilo que significa comando também se parte?
Como expôs Alziro Zarur (1914-1979), nos primeiros anos da década de 1960: “O poder se tornará fluídico nas mãos dos homens”.
Comparemos a afirmação do vate de Poemas da Era Atômica com a advertência do Livro das Profecias Finais, no seu capítulo 16, versículo 20: “Toda ilha fugiu, e os montes não foram achados (...)”.
Diante de cataclismo de tamanha grandeza, sob esse impacto, os comandantes dos povos e os seus subordinados assim poderão inquirir: Cadê o chão?!
Isto é, onde se encontrarão as certezas, as doutrinas irrefutáveis?
3) Como subsistirão os “reis da Terra”, citados no Livro da Revelação (“O Sexto Selo”, 6:15, e “Os lamentos dos admiradores de Babilônia”, 18:9)?
(Convém lembrar que rei, hoje, tem conotação mais ampla. Existe “realeza” para tudo, desde o rei do jogo de bolinhas de gude até os magnatas do petróleo.)
Outras perguntinhas
1) Onde o antigo e extenso espaço para firmar os pés?
2) Nos velhos continentes estruturais?
3) Como, se até a última ilha fugiu, a simbolizar que o pequeno território que remanescera também lhes fora arrancado?
4) Significará dizer que não há mais sustentação definitiva, seja religiosa, filosófica, ideológica, política, social, econômica, artística e assim por diante?
5) Tudo isso ficaria com área cada vez mais restrita para fundamento de suas doutrinas e atividades, porquanto “toda ilha fugiu, e os montes não foram achados”?
6) Não havendo base, as construções humanas, em todos os sentidos, muito menos as físicas e muito mais as laicas ou religiosas, por mais estupendas que sejam, não mais poderiam permanecer de pé nas condições atuais?
É do pensamento que resultam todas as coisas.
Nem mesmo o “mercado soberano”, um dia, continuará tão soberano assim, porquanto a “queda de Babilônia” é também a ruína de tudo o que tem, há milênios, servido para hipnose e opressão das criaturas?
Cabe, aqui, esta reflexão de Mikhail Gorbachev*4: “O mercado não é invenção do capitalismo. O mercado é muito anterior a ele”.
A advertência de Jesus
Jesus já advertira: “(...) sem mim, nada podereis fazer” (Evangelho, segundo João, 15:5). O alertamento, pois, fora dado desde a Boa Nova do Cristo e, também, no Apocalipse.
Aliás, no tocante a profecias, encontram-se amplamente distribuídas em diversos livros sagrados de outras respeitáveis crenças, assim como no pensamento de muitos dialetas, crentes ou ateus. Eles também fazem as suas previsões. Ouviu-as quem o quis...
P.S.: Quanto a formas de governo, estou de acordo com o que, com bom humor, dizia Winston Spencer Churchill (1874-1965)*5: “A democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os demais”.
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*1 Lord Keynes (1883-1946) — John Maynard Keynes, Barão de Tilton, nasceu em Cambridge, Inglaterra. De influência mundial, é tido como o mais importante economista teórico da era pós-Karl Marx.
*2 Montesquieu (1689-1755) — Seu nome completo era Charles de Secondat. Barão de Montesquieu, este escritor e filósofo francês publicou, em 1721, Cartas Persas, trabalho que lhe granjeou enorme prestígio. Mas sua obra mais importante foi O Espírito das Leis, em dois volumes, editado em 1748, na cidade de Genebra, Suíça (para evitar a censura), tornando-se imenso sucesso ao apregoar sua teoria da separação dos poderes.
*3 Executivo, Legislativo e Judiciário — E no caso de regimes em que estes poderes não existem harmonizados ou de forma alguma? A explicação encontra-se em outro capítulo de O Capital de Deus.
*4 Mikhail Gorbachev (1931-2002) — Ex-presidente da antiga União Soviética. Em seu governo, iniciou reformas que resultaram no fim desse bloco político, denominadas perestroika (reestruturação econômica) e glasnost (abertura política).
*5 Winston Spencer Churchill (1874-1965) — Famoso estadista britânico. Foi também militar, jornalista e escritor. Teve posição destacada nos dois grandes conflitos mundiais, notadamente na Segunda Grande Guerra (1939-1945), quando se tornou primeiro-ministro no reinado de George VI.
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