Dor e violência, sem caricatura
A desumanidade afoga a Humanidade. É uma questão global.
Doze de junho, Dia dos Namorados.
Tradição de Amor e de Esperança. Contudo, na ex-capital do Brasil, assistimos diametralmente ao oposto: dor e morte.
O Rio de Janeiro foi abalado por mais um ato de extrema violência.
Sandro do Nascimento, de 21 anos de idade, tomou de assalto um ônibus que faz a linha Gávea–Central do Brasil, o 174, e deteve como reféns vários passageiros. A polícia cercou o coletivo. Horas de terrível dramaticidade, transmitida para todo o País e Exterior pela televisão. O seqüestrador, depois de muitas cenas em que aparecia tratando brutalmente duas moças, blefara, anunciando que tinha matado uma delas, a estudante Janaína. Após muita confabulação, desce do veículo, levando como escudo Geisa Firmo Gonçalves. A vida da jovem, que apenas começava, termina ali, em instantes de equívocos fatais. A de Sandro, um dos sobreviventes da Chacina da Candelária (1993), também dura pouco.
Talvez a mais ilustrativa manifestação sobre o chocante episódio, ocorrido no Jardim Botânico, tenha sido a de Chico Caruso*, o respeitado cartunista, na edição de O Globo, no dia seguinte: "Peço desculpas aos leitores, mas pela primeira vez em 32 anos de trabalho não consegui sintetizar com humor os fatos do dia".
Geisa era uma dedicada professora do Projeto Curumim, na Rocinha, cuja finalidade é promover ocupação sadia às crianças carentes da região, para que venham a ter uma vida melhor do que a de muitos que caíram ou foram tangidos para a delinqüência. Não se pode pensar num país transformado se não nos aplicarmos realmente, todos nós, na instrução e na educação, na saúde física e mental das gerações que sempre irão influenciar nosso destino. Portanto, tratá-las com respeito e, porém, carinho.
A meditação do cantor e compositor brasileiro Jards Macalé, naquele 12 de junho de 2000 trágico, sobre o que vem acontecendo em nossa terra é emblemática: "(...) O Brasil está cada vez mais violento. A polícia, o bandido, a classe média. A gente sabe o porquê. É a miséria que atinge o bandido e o mocinho".
Eis aí o sinistro resultado da penúria, que não é somente material, pois antes corrói o espírito, razão por que acomete todo o Planeta, das nações ricas às “mantidas” pobres. Há dois milênios previa o Apocalipse (6:15 a 17): "O que ocorrer ao pequeno sucederá ao grande, o mesmo ao fraco e ao poderoso".
Em Nova York, no Central Park, antigamente lugar ideal para reunião de famílias despreocupadas, a violência se esparrama. Agressões, assaltos, mortes. Numa tarde de domingo, quatro mulheres foram despidas e covardemente molestadas por gangues juvenis. Num domingo à tarde... daí se infere que o famoso parque não se encontrava vazio...
A desumanidade afoga a Humanidade. É uma questão global.
Apenas dois por cento
Vejamos o caso da economia depravada. Na Folha de S. Paulo, de 11 de junho do corrente ano, o Dr. Antonio Ermírio de Moraes comenta: “(...) dados divulgados pela ONU estimam que os valores diários que tramitam no mundo globalizado atinjam a enorme cifra de US$ 1,5 trilhão, sendo que 98% se destinam à especulação e apenas 2%* ao desenvolvimento econômico do Planeta. Para nós, brasileiros, com o advento da globalização, ou educamos a nossa nação com prioridade absoluta ou não nos restará outra sorte, senão a de imergir no mundo dos infelizes atrasados e desprezados, como ocorreu com o continente africano. Vamos trabalhar para evitar esse desastre”.
A Escola
Cabe aqui, como uma luva, este poema do grande Guerra Junqueiro (1850-1923):
“O vício não acaba, o roubo continua/ e é, cada vez maior, a criminalidade?/ Pois bem: — Iluminai, por dentro, a sociedade./ Ponde o trabalho e a honra onde estiver a esmola./ Uni o amor ao berço e uni o berço à escola./ Forjai, da redenção, a esplêndida alvorada./ Educai a oficina, protegei a enxada./ Fazei o bem, fazei a paz, fazei a glória./ Proclamai a instrução gratuita, obrigatória./ Ter direito à ignorância é ter direito ao mal./ Alevantai o Povo ao nível da Moral./ A escola é, para isso, a única alavanca./ Vamos: — Emancipai a escravatura branca”.
Isto é, derrotai o cativeiro de todas as raças, porque a ignorância não tem cor. Eu mesmo, caros amigos, dificilmente teria estudado, se não fosse o bom ensino gratuito.
Ecumenismo da Solidariedade
A verdade é que, contra a mundialização da indiferença e do crime, urge contrapor o Ecumenismo da Solidariedade. Este desconhece tabus e preconceitos humanos, sociais, ideológicos, políticos, étnicos e religiosos. Sua grande vocação é pura e simplesmente a Alma Eterna da criatura humana, o Cidadão Espiritual, um firme passo adiante na reestruturação da cultura terrestre no terceiro milênio.
Basta de violência!
Não se pode pensar num país transformado se não nos aplicarmos realmente, todos nós, na instrução e na educação, na saúde física e mental das gerações que sempre irão influenciar nosso destino.
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*Chico Caruso — Ele e seu irmão Paulo Caruso estão entre os mais competentes cartunistas do País.
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