O lobo de Gúbio
Conta-nos o livro I Fioretti, de Francisco de Assis (1181 ou 1182-1226), que, ao tempo em que o respeitado taumaturgo vivia em Gúbio, um lobo grande e feroz, devorador de bichos e de pessoas, despertava imenso pavor em todos os moradores. Por compaixão, o Santo de Assis, embora muitos o desaconselhassem, de maneira decidida, procura o animal e, ao encontrá-lo, ordena: “Vem aqui, frei lobo! Eu te mando da parte de Cristo que não faças mal nem a mim nem a ninguém”.
De imediato, o terrível carniceiro fecha sua mandíbula e cessa sua agitação. Obediente, seguiria as determinações daquele que lhe refreara os instintos assassinos. Após relatar ao canídeo os tremendos malefícios que causara, o bendito interventor propôs o estabelecimento da paz entre a fera convertida e os habitantes de Gúbio: “Ouvi, meus Irmãos: frei lobo, que está aqui na frente de vós, me prometeu e jurou que vai fazer as pazes convosco e que não vai mais vos ofender em coisa alguma, e vós prometeis dar-lhe cada dia as coisas necessárias, e eu entro como fiador dele”.
Selado o pacto, ambas as partes cumpririam o prometido, e o lobo, agora bom, perpetuaria a memória viva daquele milagre empreendido pelo mais célebre filho de Assis: “Depois o lobo viveu dois anos em Gúbio e entrava domesticamente pelas casas, de porta em porta, sem fazer mal a ninguém, e sem que o fizessem para ele. E foi alimentado cortesmente pelo povo. E mesmo andando assim pela terra e pelas casas, nunca um cão ladrava atrás dele”.
Por isso, não me canso de dizer que não existe, na Sublime Criação, nenhum ser fadado à danação eterna. Se assim fosse, Deus seria pior que o mais cruel dos homens. Como afirmo em meu livro Os mortos não morrem (2018), oportunidade para a redenção jamais falta na Justiça Divina. O próprio Cristo asseverou: “Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento” (Evangelho de Jesus, segundo Marcos, 2:17).
Nossa Segurança Infalível
Jesus, o Provedor Celeste, nossa Segurança Infalível, já nos brindou com o segredo da proteção e da fartura espiritual e material, tantas vezes recomendado pelo saudoso Alziro Zarur (1914-1979) e batizado por ele como “A Fórmula Urgentíssima de Jesus”. Por se tratar de Economia no mais alto sentido espiritual, costumo chamá-la de A Fórmula Urgentíssima Econômica do Cristo: “Buscai primeiramente o Reino de Deus e Sua Justiça, e todas as coisas materiais vos serão acrescentadas” (Evangelho do Cristo, segundo Mateus, 6:33).
O que mais quereremos, senão cumprir o divino mandato de nossa agenda espiritual, prometida por nós mesmos quando da descida ao plano terrestre?
Em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec (1804-1869), encontramos este sério alertamento nas respostas às perguntas 467 e 468, na parte 2, capítulo 9º, “Da intervenção dos Espíritos no mundo corporal”:
467. Pode o homem eximir-se da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal?
—“Pode, visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem.”
468. Renunciam às suas tentativas os Espíritos cuja influência a vontade do homem repele?
— “Que querias que fizessem? Quando nada conseguem, abandonam o campo. Entretanto, ficam à espreita de um momento propício, como o gato que tocaia o rato.”
(Os destaques são meus.)
Lembrai-vos, pois, da lição do Mestre na parábola evangélica acerca da expulsão de espíritos impuros que retornam trazendo mais sete piores que eles, tema tratado por mim pormenorizadamente em A Missão dos Setenta e o “lobo invisível” (2018).
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