Questão de morte ou de vida?

Fonte: Revista BOA VONTADE, edição 195, de novembro de 2004 | Atualizado em novembro de 2024.

“Ora, Deus não é Deus de mortos, e sim de vivos; porque para Ele todos vivem” 

(Jesus, o Cristo de Deus, no Seu Evangelho, segundo Lucas, 20:38).

Trazemos oportunamente a mensagem de Paiva Netto dirigida aos participantes da segunda sessão plenária do Fórum Mundial Espírito e Ciência (FMEC), da LBV, reunidos no ParlaMundi da Legião da Boa Vontade*1(Brasília/DF, Brasil), de 20 a 23 de outubro de 2004. Esta matéria faz parte do seu livro Os mortos não morrem, da Editora Elevação, que, por sinal, foi lida também pelo autor, abrindo as discussões sobre o tema, no encontro preparatório do evento, realizado nos dias 23, 24 e 25 de outubro de 2003.

(Os editores)

Será essa questão da morte realmente uma questão de morte?...

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Uriah Smith

Na verdade, para falar com correção, a morte é um assunto essencial de vida (ou da Vida). O pastor adventista e renomado intérprete do Apocalipse Uriah Smith (1832-1903) definiu-a como 

— um tirano vencido.

Concordo plenamente com Smith. Esse fato, contudo, não dá a ninguém o direito de suicidar-se, porque a morte não interrompe a existência do Espírito, pois, quando desperta no Mundo das Realidades Eternas, o Ser descobre-se mais vivo do que nunca e com todas as suas preocupações a acompanhá-lo e de maneira mais intensa. O grande equívoco da humanidade é viver como se após a morte nada houvesse. No entanto, é espantoso como há indivíduos, até os com maior acesso ao conhecimento, que muita vez desprezam, céticos, um tema do qual não poderão esquivar-se, alegando não ser científico, porém religioso.

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Albert Einstein

Por isso, cabe aqui este comentário do renomado físico judeu-alemão Albert Einstein (1879-1955): 

— Falando do espírito que impregna as investigações científicas modernas, creio que todas as especulações mais refinadas no campo da ciência provêm de um profundo sentimento religioso e que, sem esse sentimento, elas seriam infrutíferas. Creio também que esse tipo de religiosidade que hoje se faz sentir nas investigações científicas é a única atividade religiosa criativa de nossa época.

Agora, uma curiosidade: na religião judaica, cemitério é Beit Olam, que significa “Casa da Eternidade”. Outra terminologia em hebraico algumas vezes usada é Beit Há’Chayim, que quer dizer “Casa dos Vivos”.

A posição da avestruz

Pôr de lado a investigação da probabilidade de a Vida prosseguir depois do desaparecimento do corpo físico por achar que, após ele, nada mais exista ou por não terem “comprovado” sua certeza até então, antes de tudo, me parece uma atitude anticientífica e lembra a famosa posição da avestruz*2, que, como no imaginário popular, ao se descobrir em perigo, esconde a cabeça no chão e deixa o resto do corpo para fora.

Anotemos, para meditação, este conceito expendido em O Novo Catecismo Católico — A Fé para adultos, lançado pelo episcopado holandês em 1966: 

Até mesmo o marxista, apesar de ensinar que o espírito é produto de células corporais, ao acompanhar um cadáver para o cemitério, sente que deve haver algo mais e venera a morte. (...) Nenhum homem que acredite na Boa Nova*3 pode dizer: ninguém jamais voltou da morte.

Ainda hoje, entre certos pensadores, a preferência é por aquilo que conhecem ou pensam avaliar bem. Muito cômodo...

Para esses, um dos hobbies mais comuns, talvez por confortável, seria a negação pura e simples do que não ousam decifrar... Entretanto, tal comportamento não causa espécie à morte, que pachorrentamente ri de tudo isso e continua levando para o Outro Lado desde o cidadão desprovido de pecúnia ao mais poderoso monarca. Não devemos, portanto, fugir de sua pesquisa imparcial sobre ela, pois, se existe uma impossibilidade neste mundo, é a de alguém conseguir desviá-la do próprio caminho.

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Buda

Disse o Buda (aprox. 556-486 a.C.): 

 Erguei-vos, pois! Não sejais indolentes! Agi de acordo com a Lei. Aquele que observa a Lei vive feliz neste mundo e em todos os outros (Dhammapada 168).

E, agora, esta provocação do velho Einstein, o enunciador da Teoria da Relatividade, que volta a este texto para nos socorrer com a sua indesmentível sabedoria: 

A mente avança até o ponto onde pode chegar; mas depois passa para uma dimensão superior, sem saber como lá chegou. Todas as grandes descobertas realizaram esse salto.

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Stephen Butler-Leacock

Saibamos também encarar o momento derradeiro com o humor sábio de Stephen Betler-Leacock, escritor e economista canadense:

  Odeio os corretores de seguro de vida. Estão sempre argumentando que um dia morrerei o que não é verdade.

Realmente, porque, como tantas vezes já dissemos na Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo, os mortos não morrem! É claro que essa consciência não nos impede de deixar amparo justo aos nossos descendentes que permanecerem na Terra após retornarmos à Grande Pátria da Verdade.

Antiga companheira

A morte é a mais antiga companheira dos seres terrestres. Talvez por isso há quem deixe de perceber a sua extrema importância, conforme ocorre com as peças da casa, que seu morador contempla a todo instante. Existe, porém, um fato que diferencia em tudo e por tudo o acontecimento inarredável: ele nos atinge de frente! E esta advertência do Profeta Muhammad (aprox. 570-632) — “Que a Paz e as Bênçãos de Deus estejam sobre ele”*4 — no Corão Sagrado, 4ª Surata — An Nissá (As Mulheres) —verso 78: 

— Onde quer que vos encontrardes, a morte vos alcançará, ainda que vos guardeis em fortalezas inexpugnáveis.

Mais dia, menos dia, somos convocados àquelas perguntas filosóficas que todos se fazem, mesmo que inconscientemente, ou não as revelam a ninguém, a não ser ao próprio travesseiro...

Quem sou eu?

De onde vim?

Por que me alegro?

Por que sofro?

Por que um dia morrerei?

E, por consequência, para onde irei?

E ainda: voltarei a este mundo material?

Quem consegue escapulir dessas instigantes indagações?

O Livro dos Salmos, 39:4 a 6, convida-nos a esta meditação:

4 Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim e a medida dos meus dias, para que eu saiba quão frágil sou.

5 Deste aos meus dias o comprimento de alguns palmos; a duração de minha vida é nada diante de Ti. De fato, o homem não passa de um sopro.

6 Sim, cada um vai e volta como a sombra. Em vão se agita, amontoando riqueza sem saber quem ficará com ela.

Transformação pela consciência espiritual

Nas Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deusdo Cristo e do Espírito Santo, vol. 3 (1991), relacionei as seguintes ponderações:

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Padre João de Brito

Ninguém é mais feliz do que a pessoa consciente de sua origem, que é espiritual, e da necessidade de integração no Amor, “o clima do Universo”, no conceito do padre João de Brito (1647-1693). Esse júbilo acaba por se derramar sobre a Política, a Economia, a Filosofia, a Ciência, a Arte, o Esporte e a própria Religião, gerando um novo entendimento de todas as coisas, diante do qual o ser humano, sponte sua, não mais ferirá, odiará, matará, roubará, trapaceará, difamará, porque terá compreendido, acima de tudo, que dentro de si reside a Eternidade de Deus, que é justamente Amor (Primeira Epístola de João, 4:8). Utopia?! Mas qual o progresso, hoje, que, ontem, não foi a mais completa utopia?! Se é difícil, comecemos já, com base no Amor, o mais perfeito antídoto contra o ódio.

Não adianta, pois, escapar do assunto morte, que não exprime qualquer morbidez. Mórbido é fugir à realidade. E Tânatos*5 é uma certeza que devemos enfrentar, visto que todos sofremos as suas consequências, boas ou más, conforme o que houvermos semeado, consoante a definição do Divino Mestre: 

A cada um de acordo com as próprias obras 

Jesus (Mateus, 16:27, e Apocalipse de Jesus, 22:12)*6.

Jung e a questão do pós-Vida

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Carl Gustav Jung

Vamos, agora, dar a palavra a James R. Lewis (1949-2022), autor de Enciclopédia da Vida após a Morte — Crenças, rituais, lendas e fenômenos extraordinários, quando comenta o ponto de vista de Carl Gustav Jung (1875-1961), reconhecido psicólogo e psiquiatra suíço, o homem do “inconsciente coletivo”, sobre o fenômeno erroneamente chamado de morte, tomado erroneamente como sinônimo de aniquilação total:

 Embora Jung tenha sempre se recusado a afirmar abertamente que havia vida após a morte, geralmente insinuava que esse era o caso. Acreditava na sobrevivência espiritual além da morte física, e essa convicção foi reforçada pela sua crença de que a psique, como evidenciam os sonhos, comporta-se como se continuasse a existir. De acordo com Jung, os sonhos de morte estão ligados a um grupo primordial de arquétipos, e, através de sua análise, é possível concluir que haverá uma existência humana após a morte, caracterizada pelo nível de consciência obtido pelo indivíduo enquanto vivo. Assim, a vida terrena é altamente significativa, e o que o ser humano leva após a morte é muito importante, pois o ajuda a obter o limite superior de conhecimento e consciência na pós-vida.

Jung sustentou que a suposição de que existe uma pós-vida significa muito para a maioria das pessoas e permite que elas vivam mais sensata e tranquilamente. Mesmo que não haja meio de provar a continuidade da alma após a morte, algumas experiências podem nos inclinar para esse ponto de vista, tais como os mitos, sugestões e alusões figurativas enviados pelo inconsciente através dos sonhos. De acordo com Jung, a morte geralmente surge como uma catástrofe, que é brutal não como um evento físico apenas, mas psíquico também. Mas, se a pessoa acredita na eternidade, a morte pode ser considerada como um evento feliz, um casamento em que a alma reúne sua metade desaparecida com o todo.

(Os destaques são meus.)

Oração versus medo

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Allan Kardec

Com propriedade, escreveu Allan Kardec (1804-1869), o Codificador do Espiritismo, em O Céu e o Inferno

 Para libertar-se do temor da morte, é mister poder encará-la sob o seu verdadeiro ponto de vista, isto é, ter penetrado pelo pensamento no mundo espiritual, fazendo dele uma ideia tão exata quanto possível, o que denota da parte do Espírito, encarnado um tal ou qual desenvolvimento e aptidão para desprender-se da matéria.

É inteligente, pois, não temê-la. Ademais, o exercício da oração afasta de nós o medo, abre-nos a consciência para a eternidade da Vida. O próprio ato de rezar significa se dirigir a um Ser Superior que paira acima do que denominamos morte.

Ninguém pode ficar alheio à morte

Muitas outras figuras exponenciais da humanidade, algumas conhecidas descrentes ou agnósticas, tiveram a morte e a Vida Eterna como temas de suas reflexões:

— Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, Eu vos teria dito. Vou preparar-vos lugar. E, quando Eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que onde Eu estiver estejais vós também.

Jesus (João, 14:2 e 3)

O Cristo, o Ungido de Deus

 

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Ludwig Feuerbach

— A morte natural, a morte que é o resultado do desenvolvimento completo da vida, essa morte não tem nada de assustador.

 Ludwig Feuerbach (1804-1872)

Filósofo alemão

 

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Ernest Renan

— Nós nos submetemos às leis dessa natureza de que somos manifestações. Perecemos, desaparecemos; mas céu e terra permanecem, e a marcha do tempo continua para sempre.

Ernest Renan (1823-1892)

Escritor francês

 

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Pearl S. Buck

— Os mortos têm um modo de se fazer mais presentes do que quando eram vivos.

Pearl S. Buck (1892-1973)

Escritora norte-americana, especialista em romances sobre a China. Ganhadora do Prêmio Pulitzer de Ficção (1932), foi a primeira mulher da América a receber o Prêmio Nobel de Literatura (1938).

 

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Rabindranath Tagore

— A morte não é o apagamento da luz; é o ato de dispensar a lâmpada porque o dia já raiou.

Rabindranath Tagore (1861-1941)

Escritor e poeta hindu, primeiro não europeu a conquistar o Prêmio Nobel de Literatura (1913)

 

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Rei Salomão

— E o pó volte à terra, como o era, e o Espírito volte a Deus, que o deu.

Salomão (Eclesiastes, 12:7)

 

São Francisco de Assis

— E morrendo é que nascemos para a Vida Eterna.

São Francisco de Assis (1181 ou 1182-1226), na sua elevadíssima prece.

(Il Poverello, O Pobrezinho, é o patrono da Legião da Boa Vontade, LBV)

 

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Goethe

— Os que não acreditam em outra vida estão mortos mesmo nesta.

Goethe (1749-1832)

Filósofo, poeta e escritor alemão

 

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Helena Blavatsky

— A nossa vida é uma antessala do palácio onde o nosso verdadeiro tesouro se encontra — a imortalidade.

Helena Blavatsky (1831-1891)

Escritora, ocultista russa e cofundadora da Sociedade Teosófica

 

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Fernando Pessoa

— A morte é a curva da estrada. Morrer é só não ser visto.

Fernando Pessoa (1888-1935)

Poeta, filósofo e dramaturgo português

 

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Lúcio Cardoso

— Morrer é recomeçar. Porque duramos das infindáveis mortes que recomeçamos.

Lúcio Cardoso (1912-1968)

Escritor, jornalista, poeta e pintor brasileiro

 

— Se a alma não fosse imortal, a vida seria uma pequena escolha e a morte nada seria.

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Sarah Newton Destutt de Tracy

Sarah Newton Destutt de Tracy (1789-1850)

Escritora e pintora britânica

 

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Luís de Granada

— Ó morte, como é universal o teu domínio.

Frei Luís de Granada (1504-1588)

Teólogo, escritor e pregador espanhol

 

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Alphonse Marie Louis de Prat de Lamartine

— Esquecer-se dos mortos é esquecer-se de si próprio.

Alphonse Marie Louis de Prat de Lamartine (1790-1869)

Poeta, historiador e estadista francês

 

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Plotino

— Morrer é mudar de corpo como os atores mudam de roupa.

Plotino (205-270)

Filósofo egípcio neoplatônico

 

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Jaime Balmes

— Um dos momentos mais apropriados para renovar a memória da religião é o de infortúnio. A morte de uma pessoa querida, ou outra desgraça das que deixam no coração um sulco profundo, dispõe o espírito a graves pensamentos e imprime aos sentimentos uma direção religiosa. A alegria é frívola, e é muito difícil argumentar com quem a tudo contesta com um sorriso nos lábios; mas, quando o homem chora, a esperança de outra vida é para ele um grande conforto (...).

Jaime Balmes (1810-1848)

Filósofo, teólogo e sociólogo espanhol

 

 

— Aquele que sabe que este corpo é efêmero como a espuma das ondas e ilusório como uma miragem quebrará as flechas floridas do senhor do mal e, desapercebido do Rei da Morte, prosseguirá no Caminho (Dhammapada 46).

Siddharta Gautama,
o Buda (aprox. 563-483 a.C.)

Jamais abreviar a Vida

Após tão apreciáveis reflexões, é forçoso inferir que o grande segredo da Vida é, amando a Vida, saber preparar-se para a morte, ou Vida Eterna. Ressalte-se: o falecimento deve ocorrer somente na hora certa, determinada por Deus. (...)

 Mas reitero: amando a Vida..., isto é, sem desejar, de forma alguma, abreviá-la — porquanto, suicidar-se é tremendo engano e acarreta graves sofrimentos ao Espírito —, pois a existência humana deve ser reverenciada pelos imensos benefícios com que enriquece a nossa Alma. Afinal, se aqui tratamos do que se convencionou chamar de morte, é para destacar a Vida, um seu outro nome. Como preconizava o saudoso Alziro Zarur:

— Não há morte em nenhum ponto do Universo. Tudo é vida, porque Deus é vida.

E mais:

— O suicídio não resolve as angústias de ninguém.

A despeito de qualquer impressão contrária, estamos vivendo um tempo de grande renascimento da natureza humana, sob forte sopro da Espiritualidade Superior, porquanto o governo da Terra começa no Céu.

Por isso, havendo essencialmente vida no Outro Lado, os mortos não morrem. A “escuridão” e o vazio são ilusões. Eis uma noção da Política de Deus*7 — Política para o Espírito Eterno do ser humano —, porquanto esse conhecimento modificará as relações entre Espíritos, seres humanos, povos e nações da Terra.

Tanatologia e perenidade da existência

A simples apresentação dos notáveis anteriormente relacionados, dando suas contribuições para ampliar a perspectiva sobre o impreterível fenômeno da “morte”, demonstra que o tema não é tão “desimportante”*8 ou “fatídico”, quanto alguns querem fazer crer, pelos mais variados motivos, entre eles, a descrença sistemática na perenidade da Vida ou o temor do “desconhecido”. Por vezes, essas “razões” escondem a realidade com ironias sobre assunto deveras decisivo para o ser. E, “desconhecido” igualmente entre aspas, porque, na verdade, não o é.

Já vigora entre nós o estudo da tanatologia, apoiado por nomes respeitáveis, mesmo que considerados polêmicos por alguns adversários, como o da Dra. Elisabeth Kubler-Ross (1926-2004)*9, o do Dr. Raymond Moody*10 e o do Dr. Ian Stevenson*11.

Dr. Bezerra de Menezes  

(...) é fundamental conscientizar as Almas acerca do bem-aventurado saber espiritual, afastando improcedente assombro no que tange o pós-vida. Admoesta o eminente político e médico espírita brasileiro Dr. Bezerra de Menezes: 

Não são os espíritos que assustam os homens. São os homens que atemorizam os Céus com suas belicosas armas, impostas por domínios cruéis e insensatez constante.

A morte não deve ser tabu

Ora, a manifestação espiritual em nossa existência revela-se diariamente aos olhos mais atentos. Para esses, não há temas tabus. Não se intimidam com as pressões do status quo, a exemplo dos nomes que venho citando e que ainda apresentarei neste livro. Por isso, vivem dispostos a avançar sobre território proibido pelo establishment*12. Entre eles se encontra parte vanguardeira da Ciência, campo luminoso do saber humano, que nada teme.

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Cecília Meireles

Todavia, àqueles receosos por seu futuro além das conhecidas barreiras somáticas, a serem vencidas –  ainda desapercebidos de que neste ciclo natural de “ir e vir” entre Terra e Céu ou, se preferirem, entre dimensões distintas, está o regozijo do aprendizado e da evolução pela Eternidade –, destaco estes ilustrativos versos da inesquecível Cecília Meireles (1902-1964), em Cânticos (obra póstuma):

Cântico IV

“Tu tens um medo: Acabar.

“Não vês que acabas todo dia.

“Que morres no amor.

“Na tristeza.

“Na dúvida.

“No desejo.

“Que te renovas todo dia.

“No amor.

“Na tristeza.

“Na dúvida.

“No desejo.

“Que és sempre outro.

“Que és sempre o mesmo.

“Que morrerás por idades imensas.

“Até não teres medo de morrer.

“E então serás eterno”.

Tela: Rembrandt (1606-1669)

O Apóstolo Paulo

(...) Na liturgia católica da Ressurreição, encontramos esta belíssima passagem do Apóstolo Paulo: 

Morte, onde está a tua vitória? Onde, o teu aguilhão? (Primeira Epístola aos Coríntios, 15:55).

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Billy Graham

No meu livro Reflexões da Alma (2003), incluí esta manifestação do pastor evangélico Billy Graham (1918-2018): 

 — A morte não é o fim, mas o começo de uma nova dimensão de vida — a vida eterna. (...) Pela Sua ressurreição dentre os mortos, Jesus demonstrou — sem qualquer sombra de dúvida — que existe vida após a morte.

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Karl Marx

Relembremos esta consideração do ateu-materialista Karl Heinrich Marx:

— Toda vez que o trem da vida faz uma curva, os pensadores caem pela janela.

Ora, o debate sobre o tema “Discutindo a Morte e a Vida após Ela”, parte integrante do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, humildemente surgiu para que ninguém seja lançado fora do comboio do conhecimento livre de fanatismos e de preconceitos. Se não nos confraternizarmos na discussão de assuntos vitais para o desenvolvimento das gentes, aí, sim, estaremos verdadeiramente mortos, por termos nos tornado inúteis ao progresso espiritual, moral e, em consequência, material das criaturas e das nações.

Opinar civilizadamente

Por ser aqui o Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica da Legião da Boa Vontade, o ParlaMundi da LBV, palco do diálogo solidário, ipso facto, todos têm, nas atividades dele, o dever, mais que o direito, de expressar suas opiniões, mesmo que com o calor natural à defesa das teses, todavia sem espírito de cizânia, portanto civilizadamente — de preferência...

Pobre da sociedade sem a discussão das ideias. Detestam-na apenas os que querem o domínio criminoso da mente humana. A História conta-nos o horror que tem sido a sua passagem pela Terra. E o ser humano que não aprende com o passado não tem futuro.

Meus agradecimentos a todos — autoridades, palestrantes, povo e mídia — pelo honroso prestígio de sua presença.

* * *

Dessa forma, encerrei a mensagem que dirigi aos participantes da segunda sessão plenária do Fórum Mundial Espírito e Ciência, promovido pelo Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica, o ParlaMundi da LBV, em outubro de 2004, e do seu congresso preparatório, realizado em outubro do ano anterior (2003), que abordou justamente este tema: “Discutindo a Morte e a Vida após Ela”.

____________________________
*1 Legião da Boa Vontade (LBV) — Segundo o Prof. Luís Merege, da Fundação Getúlio Vargas, “a LBV é a maior instituição do mapa (do Terceiro Setor)”.

*2 Nota de Paiva Netto

     Posição da avestruz — Justiça seja feita, embora muitos pensem que essa ave oculte a cabeça na areia ao primeiro sinal de perigo, pesquisadores do assunto afirmam que ela não se esconde, mas, sim, se protege de duas maneiras. Primeira: ao colocar o pescoço e a cabeça no chão, melhor percebe as vibrações do movimento de um possível predador. Segunda: ao permanecer nessa posição, fica parecida com um arbusto, enganando assim, camuflada, prováveis perseguidores.

*3 Boa Nova — Assim também é conhecido o Evangelho, do grego Euangélion e do latim Evangelium.

*4 Que a Paz e as Bênçãos de Deus estejam sobre ele — Saudação islâmica ao Profeta Muhammad.

*5 Tânatos (ou Thánatos) — Na mitologia grega, o deus Tânatos era a própria personificação da morte, enquanto Hades é o deus do mundo inferior, soberano dos mortos.

*6 Também encontramos semelhante referência a essa passagem bíblica no Livro de Jó, 34:11: “Pois Deus retribui ao homem segundo as suas obras”.

*7 Política de Deus — Leia “A abrangente missão do Templo da Boa Vontade”, no segundo volume das Sagradas Diretrizes Espirituais da Religião de Deus, do Cristo e do Espírito Santo (1990) e no terceiro volume de O Brasil e o Apocalipse (1996) — obras do escritor Paiva Netto.

*8 Nota de Paiva Netto

     Morte: assunto “desimportante” — Por que alguns pensam assim a respeito de fator tão decisivo na existência humana? Basta lembrar que dizem: “Ah! Um dia vou morrer mesmo! Então, deixa a ‘morte’ para lá”. Trata-se de uma forma de raciocínio que beira o estouvamento.

*9 Dra. Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004) — Médica psiquiatra nascida em Zurique, na Suíça, e radicada nos Estados Unidos. Dedicou a maior parte de sua vida ao trabalho com pacientes terminais e à família deles.

*10 Dr. Raymond Moody — Médico psiquiatra norte-americano e professor de Psicologia na West Georgia College. É autor de A Vida depois da Vida.

*11  Dr. Ian Stevenson (1918-2007) — Este psiquiatra canadense, nascido em Montreal, no Estado de Quebec, é reconhecido mundialmente pelos estudos relativos à reencarnação. Catedrático em Neurologia e Psiquiatria na Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos, escreveu dezenas de livros, nos quais reuniu sua vasta pesquisa de toda uma vida. Ele catalogou mais de três mil casos de histórias fantásticas de crianças que relembram vidas anteriores. A continuação dessa importante pesquisa está hoje sob a responsabilidade do psiquiatra Jim Tucker, também da Universidade da Virgínia.

*12 Establishment — O termo inglês refere-se à ordem ideológica, econômica, política e legal que constitui uma sociedade ou um Estado. Geralmente está associado a um grupo ou à elite dominante que exerce poder e influência em uma nação, organização ou campo de atividade. É visto como resistente a mudanças.

 

 

José de Paiva Netto, escritor, jornalista, radialista, compositor e poeta. É presidente da Legião da Boa Vontade (LBV). Membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI-Inter), é filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), à International Federation of Journalists (IFJ), ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, ao Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro e à União Brasileira de Compositores (UBC). Integra também a Academia de Letras do Brasil Central. É autor de referência internacional na defesa dos direitos humanos e na conceituação da causa da Cidadania e da Espiritualidade Ecumênicas, que, segundo ele, constituem “o berço dos mais generosos valores que nascem da Alma, a morada das emoções e do raciocínio iluminado pela intuição, a ambiência que abrange tudo o que transcende ao campo comum da matéria e provém da sensibilidade humana sublimada, a exemplo da Verdade, da Justiça, da Misericórdia, da Ética, da Honestidade, da Generosidade, do Amor Fraterno. Em suma, a constante matemática que harmoniza a equação da existência espiritual, moral, mental e humana. Ora, sem esse saber de que existimos em dois planos, portanto não unicamente no físico, fica difícil alcançarmos a Sociedade realmente Solidária Altruística Ecumênica, porque continuaremos a ignorar que o conhecimento da Espiritualidade Superior eleva o caráter das criaturas e, por conseguinte, o direciona à construção da Cidadania Planetária”.