A humanidade do Absinto
Quando imensas multidões de Espíritos, exilados de um dos orbes que giram em torno da Estrela Capela, chegaram ao planeta Terra, numa época que se perde na poeira dos milênios, encontraram o ser humano nos primeiros estágios da evolução. Aqueles Espíritos vindos da Constelação do Cocheiro são catalogados na tradição religiosa terrena como os degredados filhos de Eva, expulsos do Paraíso. Eles realmente foram banidos de um paraíso que perderam, por sua fixação na maldade.
Nos dias de hoje, nosso orbe, que está à beira de ser elevado à categoria de mundo de regeneração, fenômeno semelhante ao que se deu no sistema de Capela está para se repetir: bilhões e bilhões de Espíritos compulsoriamente daqui partirão para o planeta Absinto, e lá encontrarão uma humanidade iniciante, tal qual aquela que habitava a Terra quando aqui chegaram os capelinos.
Como eram então os terráqueos daquela tão distante época?
O saudoso Edgard Armond (1894-1982), no seu conhecido livro Os Exilados da Capela, transcreve mensagem do Espírito João, o Evangelista, publicada em Roma e o Evangelho, de Pellicer:
“Adão ainda não tinha vindo.
Porque eu via um homem, dois homens, muitos homens, e no meio deles não encontrava Adão e nenhum deles conhecia Adão.
Eram os homens primitivos, esses que meu Espírito, absorto, contemplava.
Era o primeiro dia da humanidade; porém, que humanidade meu Deus!...
Era também o primeiro dia do sentimento, da vontade e da luz; mas de um sentimento que apenas se diferençava da sensação, de uma vontade que apenas desvanecia as sombras do instinto.
Primeiro que tudo o homem procurou o que comer; após, procurou uma companheira, juntou-se com ela e tiveram filhos.
Meu espírito não via o homem do Paraíso; via muito menos que o homem, cousa pouco mais que um animal superior.
Seus olhos não refletiam a luz da inteligência; sua fronte desaparecia sob o cabelo áspero e rijo da cabeça; sua boca, desmesuradamente aberta, prolongava-se para diante; suas mãos se pareciam com os pés e frequentemente tinham o emprego desses; uma pele pilosa e rija cobria as suas carnes duras e secas, que não dissimulavam a fealdade do esqueleto.
Oh! Se tivésseis visto, como eu, o homem do primeiro dia, com seus braços magros e esquálidos caídos ao longo do corpo e com suas grandes mãos pendidas até os joelhos, vosso espírito teria fechado os olhos para não ver e procuraria o sono para esquecer.
Seu comer era como devorar; bebia abaixando a cabeça e submergindo os grossos lábios nas águas; seu andar era pesado e vacilante como se a vontade não interviesse; seus olhos vagavam sem expressão pelos objetos, como se a visão não se refletisse em sua alma; e seu amor e seu ódio, que nasciam de suas necessidades satisfeitas ou contrariadas, eram passageiros como as impressões que se estampavam em seu espírito e grosseiros como as necessidades em que tinham sua origem.
O homem primitivo falava, porém não como o homem: alguns sons guturais, acompanhados de gestos, os precisos para responder às suas necessidades mais urgentes.
Fugia da sociedade e buscava a solidão; ocultava-se da luz e procurava indolentemente nas trevas a satisfação de suas exigências naturais.
Era escravo do mais grosseiro egoísmo; não procurava alimento senão para si; chamava a companheira em épocas determinadas, quando eram mais imperiosos os desejos da carne e, satisfeito o apetite, retraía-se de novo à solidão sem mais cuidar da prole.
O homem primitivo nunca ria; nunca seus olhos derramavam lágrimas; o seu prazer era um grito e sua dor era um gemido.
O pensar fatigava-o; fugia do pensamento como da luz.”
E mais adiante acrescenta:
“E nesses homens brutos do primeiro dia o predomínio orgânico gerou a força muscular; e a vontade subjugada pela carne gerou o abuso da força; dos estímulos da carne nasceu o amor; do abuso da força nasceu o ódio, e a luz, agindo sobre o amor e sobre o tempo, gerou as sociedades primitivas.
A família existe pela carne; a sociedade existe pela força.
Moravam as famílias à vista de todos, protegiam-se, criavam rebanhos, levantavam tendas sobre troncos e depois caminhavam sobre a terra.
O homem mais forte é o senhor da tribo; a tribo mais poderosa é o lobo das outras.
As tribos errantes, como o furacão, marcham para diante e, como gafanhotos, assaltam a terra onde pousam seus enxames.
Assim, como bem deixa ver o Evangelista, no final de sua comunicação, com o correr dos tempos as famílias foram se unindo, formando tribos, amalgamando-se, cruzando tipos, elegendo chefes e elaborando as primeiras regras de vida em comum, que visavam preferentemente às necessidades materiais da subsistência e da procriação.”
Eis aí o que está reservado aos que, por suas más obras, se colocarem à esquerda do Cristo, quando, no Grande Julgamento, anunciado nos Evangelhos, “vier o Filho de Deus na Sua majestade e todos os Anjos com Ele, e, então, se assentará no Trono de Sua Glória; e todas as nações serão reunidas em Sua presença, e Ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas, e porá as ovelhas à Sua direita, mas os cabritos à Sua esquerda (...) e irão os pecadores [que não têm boas obras em benefício dos seus semelhantes: a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória] para o castigo eterno [eterno enquanto durar o erro, o estado de pecado; enquanto o pecador não se redimir dos seus débitos através das reencarnações sucessivas]; porém, os justos irão para a vida eterna”.
Amemo-nos, como Jesus nos amou, para merecermos a Sua proteção misericordiosa, neste trágico final de ciclo.
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